Casos identificados de Mutilação Genital Feminina aumentaram ¼ num ano

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[Fotografia: Pexels/Pixabay]

Os dados, divulgados pela Direção-Geral da Saúde (DGS) quando se assinala o Dia da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, esta segunda-feira, 6 de fevereiro, indicam que entre janeiro e dezembro de 2022 foram registadas na plataforma Registo de Saúde Eletrónico complicações de saúde em 100 mulheres (52,6% dos casos).

Segundo a DGS, as complicações resultantes da mutilação genital feminina “são frequentemente coexistentes”. Dos dados referentes ao ano passado, a autoridade de saúde indica 75 registos de complicações do foro psicológico, 64 obstétricas, 55 incluem complicações de resposta sexual e 51 sequelas uro-ginecológicas. Os dados apontam ainda para uma predominância de casos realizados na Guiné-Bissau (70,5%) e na Guiné Conacri (23,7%). “Este aspeto vem reforçar a informação já conhecida, tendo em conta o predomínio das comunidades imigrantes residentes em Portugal e a prevalência estimada da mutilação genital feminina nesses países”, explica a DGS.

Segundo a autoridade de saúde, desde 2014, foi contabilizado um total de 853 casos de mutilação genital feminina em Portugal.

O gabinete da ministra-Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, anunciou esta manhã de segunda-feira que vai apoiar com 80 mil euros organizações da sociedade civil que atuam junto de comunidades afetadas. A iniciativa irá materializar-se no lançamento de um novo concurso para apoio técnico e financeiro, cujo valor representa um aumento de 33% face ao concurso anterior.

O Governo abriu também concursos para organizações de mulheres, com uma verba total de 200 mil euros, e para organizações que promovam os direitos das pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo (LGBTI+), com 80 mil euros.

“Os reforços de verbas vão assegurar, no terreno, a continuidade e o robustecimento das ações promovidas por estas organizações, representando o compromisso do Governo com estas matérias, mas também o reconhecimento do importante papel desempenhado por estas organizações”, refere o gabinete de Ana Catarina Mendes.

Amadora-Sintra deteta maioria dos casos de Mutilação Genital Feminina

A maioria dos casos conhecidos em Portugal de MGF são detetados no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), refere a unidade hospitalar, segundo a qual foram referenciados 72 novos casos em 2022. As mulheres referenciadas tinham entre 18 e 46 anos, e “foram sujeitas a estas práticas quando tinham entre um mês de idade e os 19 anos”.

Estes 72 casos detetados no ano passado “juntam-se às 218 utentes, vítimas de MGF, que o serviço de Ginecologia-Obstetrícia” do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF) identificou entre 2015 e 2021.

De acordo com os dados notificados na plataforma no ano passado, foi registada a intervenção dos profissionais de saúde em 84,2% (160) dos casos, “no âmbito do esclarecimento dos direitos da mulher numa perspetiva educativa e preventiva”, explica a DGS.

Atendendo à sua gravidade – acrescenta – “procedeu-se à análise dos sete registos existentes de mutilação tipo III”. “De acordo com os registos, este tipo de prática foi realizada na Guiné-Bissau (6) e na Guiné Conacri (1), entre o primeiro ano de vida e os 27 anos de idade, tendo as mulheres no momento do registo entre 19 e 40 anos”, esclarece o documento.

Em 2022, de acordo com os registos, a idade aquando da realização do procedimento variou entre o primeiro ano de vida e os 34 anos de idade. Contudo, em cerca de 73% dos casos a mutilação ocorreu até aos 9 anos de idade.

No que respeita à idade em que ocorreu a mutilação genital feminina, 61,6% dos registos são omissos.

Os dados hoje divulgados integram a “Atualização dos Registos de Mutilação Genital Feminina – Ano de 2022”. A maioria dos registos foram efetuados nos cuidados hospitalares (77,9%) e 22,1% nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), segundo o documento, que indica igualmente que a maioria dos registos foram efetuados em unidades inseridas na Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (apenas dois registos ocorreram na ARS Centro).

No documento, a DGS acrescenta ainda que, no total de casos registados em 2022, as mulheres foram maioritariamente (49,5%) submetidas a mutilações do tipo II, que incluem remoção parcial ou total do clítoris e dos pequenos lábios, com ou sem excisão dos grandes lábios, e do tipo I (44,7%), referente à remoção parcial ou total do clítoris e / ou do prepúcio.

As mutilações do tipo III (estreitamento do orifício vaginal através da criação de uma membrana selante, pelo corte e aposição dos pequenos lábios e/ou dos grandes lábios) representam 3,7% dos casos registados em 2022 e as do tipo IV (outras intervenções nefastas não classificadas) representam 2,1%.

A DGS alerta igualmente que a mutilação genital feminina, que envolve a alteração ou lesão dos genitais femininos sem qualquer razão médica, “pode causar complicações de saúde, incluindo infeção grave, dor crónica, depressão, infertilidade e morte”.

A mutilação genital feminina é reconhecida internacionalmente como uma violação dos direitos humanos, as suas origens não são claras, mas tem sido praticada pelas sociedades ao longo dos tempos.

CB com Lusa