Catarina Furtado foi a anfitriã do primeiro debate promovido pela Corações com Coroa, sob o tema “Meninas e raparigas: educação, saúde, igualdade e direitos.” Para assinalar o Dia Internacional da Rapariga, esta quarta-feira à tarde, o novíssimo Corações como Coroa Café foi palco do encontro que reuniu o professor corânico e imam Malam Djassi que é também o Vice-Presidente do Comité Nacional para o Abandono das Práticas Nefastas para a Saúde da Mulher e da Criança da Guiné-Bissau, ativistas na área da eliminação da Mutilação Genital Feminina como Fatumata Baldé e Diato Baldé.

Lisboa, 11/10/2017 – Catarina Furtado moderou uma conversa sobre o dia das raparigas, que teve lugar no Corações Com Coroa Café. (Carlos Manuel Martins/Global Imagens)

Malam Djassi proferiu uma palestra dizendo que a igualdade de género e a proteção das raparigas e mulheres estão no centro das preocupações do Islão. Interpelado por membros da mesa e pelo público, o sacerdote reforçou que o papel atribuído às mulheres no livro sagrado daquela religião é um lugar importante, que por isso mesmo “o Alcorão tem um capítulo inteiramente dedicado às mulheres, o capítulo IV”. Referiu também que a introdução do Islão no território da Guiné-Bissau significou um tremendo avanço na qualidade de vida das mulheres, limitando o número de esposas que um homem pode ter, reforçando o direito destas à escolarização, à propriedade e à preservação do corpo. Este foi o momento perfeito para iniciar a fase mais animada do encontro, quando o discurso incidiu sobre a Mutilação Genital Feminina (MGF).

Malam Djassi afirmou que não há nada no Corão que diga que a mulher tem se submeter a uma excisão dos órgãos sexuais, que o corpo humano é sagrado e deve ser preservado.

Fatumata Baldé, também presente no encontro, emocionou o público várias vezes ao contar a sua história de vida – foi prometida em casamento aos 9 anos de idade e quando fez 17 viu-se na iminência de ser casada. Fugiu de casa – “tive de fugir” e continuou a estudar. Disse que acredita ter sido a escola a dar-lhe a força necessária para tomar aquela decisão. Por essa razão, Fatumata quer levar o acesso à escola a todas as meninas do mundo, porque “a educação pode proteger essas meninas”. Um exemplo paradigmático do que a escola pode fazer por estas crianças de meios muito tradicionais foi dado pela ativistas, quando referiu que a última denúncia de um caso de MGF na Guiné-Bissau foi feita por uma criança de 6 anos. Com a vinda da lei que criminaliza a MGF e a introdução desta problemática nos programas das escolas primárias, as crianças desde tenra idade ficam a saber que a prática é nefasta e proibida. “A educação tem o poder de quebrar esta tradição”.

Lisboa, 11/10/2017 – Catarina Furtado moderou uma conversa sobre o dia das raparigas, que teve lugar no Corações Com Coroa Café. (Carlos Manuel Martins/Global Imagens)

 

O próximo encontro do Corações Com Coroa Café já está marcado. Vai realizar-se no dia 25 de novembro e abordará a Violência sobre as Mulheres. O debate começará às 18h00. Catarina Furtado convida a juntarem-se a ela para conversar sobre os temas prementes das mulheres e antes ainda para conhecerem o Café e o trabalho da associação a que preside.

 

Fotografia e vídeo de Carlos Martins