Catarina Furtado: “Os jovens são aquele barro que se tem de moldar”

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Catarina Furtado [Fotografia: Orlando Almeida/Global Imagens]

Adolescer é fácil, #só que não. Este é o novo livro que a apresentadora Catarina Furtado lançou esta quinta-feira, 16 de maio, num evento intimista no Liceu Passos Manuel, em Lisboa. O colégio foi escolhido com todo o rigor, afinal foi nele que Catarina “namorou debaixo das arcadas” e deu “os primeiros passos como ativista”, afirmou em entrevista ao Delas.pt.

Em pouco mais de 200 páginas, o rosto da estação pública e embaixadora da Boa Vontade do Fundo de População das Nações Unidas dirige-se aos adolescentes e “põe-se no lugar daqueles aos quais se dirige”, tal como afirma o humorista Ricardo Araújo Pereiro no prefácio da obra.

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“Este foi um convite da Porto Editora, que me desafiou com base na minha experiência com os jovens”, explica Catarina Furtado, justificando a oportunidade de escrever sobre esta temática. “Os jovens são aquele barro que se tem que moldar. Para mim, é nesta faixa etária, e claro que na pré-infância também, que surgem coisas que têm que ser obviamente faladas, mas há a área da adolescência onde tudo pode ficar muito negro ou muito luminoso”, explica.

Quinta-feira de manhã, 16 de maio. O Liceu Passos Manuel encheu-se de alunos curiosos que, atentamente, procuravam por Catarina Furtado e por saber mais sobre o livro. Ainda não eram 11h00 quando a apresentadora e ativista subiu ao palco para apresentar a obra. A seu lado estavam a escritora Isabel Alçada, os humoristas Ricardo Araújo Pereira e Diogo Faro e a sexóloga Vânia Beliz.

Dividido em cinco capítulos essenciais, Catarina Furtado explicou a escolha: “Estes são os capítulos que eu acho que constituem o ser humano: o eu, a identidade, o amor, tudo o que tem a ver com o coração, a amizade também, o empoderamento, o poder da mente, o agarrar os sonhos”, justificou. Afinal, refere, a adolescência “é uma fase incrível” que, considera a apresentadora, ainda é pior hoje do que na nossa altura”. “As redes sociais potenciam a competição e até à parte da questão da empatia, que deve ser trabalhada para as pessoas viverem melhor”, acrescenta a autora.

“Se estiverem mais atentos aos outros e ao sofrimento dos outros, ou mesmo colocarem-se mais no lugar deles, vão perceber que nada é assim tão dramático, que nada acontece só a Vós”

De vários oradores e convidados presentes, destacamos um momento importante que mostra a necessidade de apostar na educação sexual como forma de desmistificar tabus e educar os jovens. Quando a sexóloga Vânia Beliz entrou em cena para falar sobre o capítulo que aborda a sexualidade, a multidão de adolescentes, antes irrequietos, deu lugar a uma plateia quase muda e ouvidos atentos. “Não é por acaso que ao falarmos deste tema todos aqui ficaram em silêncio”, afirmou a especialista, alertando para a necessidade de se falar mais sobre a temática aos mais jovens.

A canção de Catarina Furtado que virou o hino da violência no namoro

O último evento da apresentação do livro foi marcado por um momento musical em que a atriz Daniela Melchior cantou um tema escrito por Catarina Furtado. “Escrevi esta música como fruto das estatísticas recentes sobre a violência no namoro e achei que era pertinente escolher alguém que é muito jovem e que tem imediatamente uma empatia com os jovens”, argumentou Catarina.

Esta canção foi escrita para se tornar “no hino da violência no namoro“, explicou Catarina. “Estamos a levar esta música a todas as escolas onde vamos falar sobre a violência no namoro. Portanto, cada vez que o projeto chega a uma escola, a música toca”.

Também em entrevista ao Delas.pt, a atriz Daniel Melchior, que se prepara para entrar no filme Esquadrão Suicida, em Hollywood, confessou: “Identifiquei-me muito com a música desde logo, claro, nem que seja por termos passado por uma das situações que a letra fala ou por conhecermos uma amiga ou um amigo que sofreram ou passaram por uma destas situações.”

O conselho de Catarina para todos os adolescentes

A cerimónia de apresentação não terminava sem que Catarina Furtado, à margem do evento, deixasse recomendações especialmente dirigidas aos mais novos. “Se estiverem mais atentos aos outros e ao sofrimento dos outros, ou mesmo colocarem-se mais no lugar deles, vão perceber que nada é assim tão dramático, que nada acontece só a vós. Vão ser muito mais felizes”, anunciou a apresentadora e ativista ao Delas.pt.

Catarina fala mesmo em replicar a prática que ela própria põe em marcha na sua vida diária. “Sou muito mais feliz porque tenho esse feedback, porque tento, juntamente com a minha pequena equipa e os que tenho à minha volta, mudar a vida das pessoas”, refere. “Se nós estivermos atentos aos outros e se a outra pessoa ficar mais feliz, bem, isso faz ricochete em nós. A vida é muito melhor assim, porque se olharmos só para o nosso umbigo a vida não tem graça nenhuma. Essa, para mim, é a definição de sucesso. Ter sucesso é ter a capacidade de chegar aos outros“, termina.

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