Centenas de mulheres marcham contra os abusos sexuais em Hollywood

Hollywood

Centenas de mulheres manifestaram-se, este domingo, 12 de novembro, em Hollywood, na Califórnia, contra o assédio e abuso sexual. O protesto segue a recente onda de denúncias envolvendo figuras da indústria cinematográfica.

Ao escândalo em torno do influente produtor Harvey Weinstein, acusado por dezenas de mulheres em diferentes casos de assédio e abuso sexual, seguiram-se acusações semelhantes visando outras figuras de Hollywood como os atores Kevin Spacey, Dustin Hoffman, Louis C.K. e Ed Westwick ou os realizadores Brett Ratner e James Toback.

Na manifestação, as mulheres concentraram-se perto da entrada do teatro Dolby, que acolhe anualmente a cerimónia dos Óscares, e muitas usaram t-shirts com a expressão #Me too (“Eu também”, em português), etiqueta que centenas de vítimas têm utilizado nas redes sociais para assinalar que já foram vítimas de assédio e outros abusos.

“Não nos vamos calar! As denúncias em Hollywood deram a oportunidade para nós, latino-americanas, também denunciarmos o abuso e assédio. De que estamos à espera?”, declarou à agência EFE, a jornalista e apresentadora de televisão Karla Amezola, presente na manifestação.

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Os movimentos “The Take Back the Workplace” e “#MeToo Survivors” juntaram forças e terão atraído para a marcha entre 200 e 300 participantes, de todas as idades, segundo os organizadores. No entanto, não avançaram com uma estimativa sobre o número total de participantes devido às multidões que normalmente circulam pela Hollywood Boulevard.

Apoio de outros setores numa luta que toca a todas
Nas vésperas da marcha, a revista ‘Time’ publicou uma carta de solidariedade subscrita por aproximadamente 700 mil trabalhadoras latino-americanas do setor agrícola que afirmam estar ao lado dos “corajosos homens e mulheres de Hollywood que vieram público partilhar as suas experiências de assédio e agressão sexual após o escândalo de Harvey Weinstein”.

“Gostaríamos de poder dizer que ficamos chocadas por saber que este é um problema tão disseminado na vossa indústria. Infelizmente, não estamos surpreendidas porque é uma realidade que conhecemos muito bem. Inúmeras trabalhadoras agrícolas em todo o país sofrem em silêncio por causa do assédio e abuso sexual generalizado que enfrentam no trabalho“, lê-se na missiva.

A carta, assinada pela Aliança Nacional de Campesinas, organização formada por antigas e atuais trabalhadoras agrícolas a par de mulheres que são provenientes de famílias do campo, destaca ainda que, não obstante os ambientes muito diferentes de trabalho, existe uma experiência comum.

“Apesar de trabalharmos em ambientes muito diferentes, partilhamos a experiência comum de sermos atacadas por indivíduos que têm o poder de contratar, despedir, colocar numa ‘lista negra’ e ainda de ameaçar a nossa segurança económica, física e emocional”, lê-se na mesma missiva, apontando que, perante isso, denunciar qualquer tipo de dano ou injustiça não parece uma opção viável.

A carta não termina sem falar da dificuldade de denunciar os abusos, face às ameaças e pressões que pendem sobre as mulheres, sobretudo sobre aquelas que têm menos exposição mediática.

“Apresentar queixa sobre qualquer coisa — mesmo de assédio sexual — parece impensável porque há muita coisa em jogo, incluindo a capacidade de alimentarmos as nossas famílias e de preservar as nossas reputações.”

Imagem: REUTERS/Lucy Nicholson

AT com Lusa