Cerca de 1300 alunos tiveram comportamentos autolesivos no último ano

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[Fotografia: Shutterstock]

Quase 20% dos alunos inquiridos num estudo disseram ter tido comportamentos autolesivos pelo menos uma vez no último ano, dos quais 58,7% referiram ter-se magoado nos braços. Ora, contas feitas, os números apontam para cerca de 1300 inquiridos que já se automutilou de alguma forma, episodicamente.

Os dados fazem parte do estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) 2018, uma iniciativa da investigadora Margarida Gaspar de Matos, da Universidade de Lisboa, e da Equipa Aventura Social, realizado em colaboração com a Organização Mundial de Saúde e que conta com a participação de 44 países. Em Portugal, o primeiro estudo foi realizado em 1998, celebrando agora 20 anos.

Foram aplicados questionários online em 42 agrupamentos de escolas, num total de 387 turmas, havendo um estudo complementar nos Açores, sendo a amostra constituída por 6.997 jovens do 6.º, 8.º e 10.º ano, a maioria (51,7%) raparigas, com uma média de idade de 13,73 anos.

O estudo, que é divulgado esta quarta-feira, 19 de dezembro, em Lisboa, pretende estudar os estilos de vida dos adolescentes em idade escolar nos seus contextos de vida, em áreas como o apoio familiar, escola, amigos, saúde, bem-estar, sono, sexualidade, alimentação, lazer, sedentarismo, consumo de substâncias, violência e migrações.

De acordo com o HBSC, 90% dos adolescentes nunca fizeram ‘bullying’ nos últimos dois meses na escola e 81,2% disseram que nunca foram vítimas deste tipo de provocação, um resultado que “continua a refletir que mais jovens se assumem como vítimas do que como provocadores”. Perto de 95% referiram nunca ter provocado ‘cyberbullying’, com recurso a tecnologias, e 91,8% disseram nunca terem sido vítimas desta provocação.

O estudo revela também que 72,6% dos adolescentes não estiveram envolvidos em lutas no último ano. Dos que se envolveram, 59,7% disseram que foi na escola, 21% na rua, 8,6% em casa e 7,5% num recinto desportivo/ginásio/balneário.

Três em cada dez não gosta da escola

De acordo com a mesma análise, cerca de 30% dos adolescentes dizem não gostar da escola, apontando que “o pior” é a comida do refeitório e as aulas e o “menos mau” os intervalos. Os alunos sugerem que, para melhorar a comida do refeitório, esta “ser melhor cozinhada (57,2%)” e “mais variada (44,2%)”.

A grande maioria (80,3%) sente-se sempre ou quase sempre segura na escola, enquanto 13,7% referem que sentem muita pressão com os trabalhos da escola. Já 85,6% disseram que só faltam às aulas quando estão doentes ou têm algum imprevisto, refere o estudo, indicando ainda que 14,2% dos jovens considera-se, na opinião dos professores, “muito bom aluno” e 51,8% avalia-se como um aluno com pouco ou nenhum sucesso académico.

As dificuldades apontadas na escola são que, às vezes ou sempre, a matéria é demasiada (87,2%), aborrecida (84,9%), difícil (82%) e a avaliação “um stresse” (77%). Mais de metade aponta a pressão dos pais pelas boas notas. A maioria (54,8%) disse que pretende prosseguir os estudos universitários e cerca de um terço dos alunos do 8.º e 10.º anos tem fracas expectativas face ao seu futuro profissional, ou não sabe.

A juventude e os consumos de álcool e substâncias

A nível do consumo de substâncias, o HBSC revela que 93,7% dos jovens referiram não fumar. Aponta ainda que 3,7% dos inquiridos disseram não consumir bebidas destiladas diariamente e 89,4% nunca consumiram. Quanto à cerveja, 3,6% contaram que bebem todos os dias e 91% nunca o fazem.

O consumo de vinho é menos frequente, como habitual em edições anteriores do estudo. Dos jovens que referem consumir, 5,2% embriagaram-se pelo menos uma vez no último mês e 11,8% pelo menos uma vez durante toda a vida.

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Referem mais frequentemente ter experimentado canábis (4,8%) e solventes/benzinas (3,6%), sendo o LSD e o Ecstasy as substâncias psicotrópicas mais desconhecidas entre os jovens.

O estudo defende a importância da “autorregulação e da promoção de outras competências pessoais e sócio emocionais que aumente a valorização da saúde/bem-estar, e previna comportamentos lesivos da saúde, nomeadamente o uso de substâncias psicoativas”.

Questionados sobre a sua saúde, 33,6% dos adolescentes disseram estar “excelente” e 15,1% contaram ter uma doença ou uma incapacidade prolongada ou permanente, com diagnóstico há mais de dois anos (76%), que implica tomar medicação (60,3%), afetando a sua atividade de tempos livres com os amigos (30,7%) e a participação na escola (28,4%) e implica o uso de equipamento especial (20,8%).

Cerca de 42% têm alergias, 33,5% asma, 8,6% queixam-se de ter dores de costas todos os dias, 6,3% no pescoço e ombros e 5,3% dores de cabeça, também diariamente.

Os jovens referem que 63% das escolas têm gabinete de saúde e 50,5% dos alunos do 8.º e 10.º anos de escolaridade referem ter tido aulas de Educação sexual/Educação para a saúde. O profissional de saúde mais frequentado pelos adolescentes é o dentista (50,6%), seguido pelo médico de família (37,6%), o oftalmologista (24,4%), o pediatra (19%) e o psicólogo (12,6%).

Apesar de cerca de um terço dos adolescentes se considerar bem informado em matérias de saúde, apenas 54,8% sabem que há medicamentos que podem ter efeitos não desejáveis e apenas 50,2% referem saber verificar o prazo na embalagem de um medicamento.

CB com Lusa

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