Chico Buarque, o “machista”, volta a entender as mulheres como ninguém

Em 2017, Chico Buarque, 73 anos, cantor, ícone da cultura do Brasil, volta a lançar um disco, seis anos depois do último álbum de originais. Em 2017, e com 50 anos de carreira, Chico Buarque, que tem cantado várias vezes as mulheres, e para as mulheres, é acusado de machismo devido a parte da letra de ‘Tua Cantiga’, tema de abertura do seu novíssimo disco, ‘Caravanas’, lançado esta sexta-feira, 25 de agosto.

Em causa estão os versos “Quando teu coração suplicar/ Ou quando teu capricho exigir/ Largo mulher e filhos/ E de joelhos vou te seguir”. Ora, como publicou o próprio Chico, na sua página de Facebook, dias antes de lançar o novo disco, respondendo à “polémica”: “Será que é machismo um homem largar a família para ficar com a amante?”

O mesmo post, alegadamente uma réplica escrita de uma conversa ouvida pelo cantor no supermercado, dá uma resposta simples, mas desarmante: P”elo contrário. Machismo é ficar com a família e a amante”.

O disco está disponível para escuta no Spotify e dele constam outros temas onde Chico Buarque fala de mulheres, das suas paixões, nem sempre correspondidas, por elas, de amores vividos ou platónicos, encontros e desencontros e questões sociais e políticas. No fundo, fala de si, da vida, do quotidiano, do que o rodeia e inquieta. Como sempre fez.

Neste ‘Caravanas’, as referências às mulheres, de uma forma ou de outra inalcançáveis para o narrador, aparecem também de forma explícita nos temas ‘Blues Pra Bia’, ‘A Moça do Sonho’ e ‘Desaforos’ . A presença feminina aparece materializada ainda na canção ‘Dueto’. Gravado originalmente, em 1980, por Nara Leão, o tema foi agora incluído, pela primeira vez, num disco de seu e conta com a participação da sua neta, Clara Buarque.

O álbum fecha com a faixa-título, ‘Caravanas’, uma canção sobre as desigualdades sociais e raciais que afetam o Brasil.

As mulheres na obra de Chico

As mulheres estão de tal forma presentes na obra do cantor e compositor brasileiro, desde as canções aos livros, que já foram mesmo objeto de estudo. ‘Sem Fantasia – Masculino-Feminino em Chico Buarque’, livro de Maria Helena Sansão Fontes, aborda essa dimensão, explorando as letras em que o músico escreve sobre mulheres e se coloca, ele próprio, no lugar delas, fornecendo o ponto de vista feminino.

São recorrentes os temas que lhes votou ao longo dos seus discos, como pode ver na fotogaleria em cima, e dezenas as páginas que dedicou às musas que inspiram os seus protagonistas, como Castana Beatriz/Ariela Masé, no livro ‘Benjamim’.

As suas perspetivas sobre as mulheres parecem ser de tal forma aceites pelo sexo feminino e longe de possíveis associações ao machismo, que há playlists no Spotify com o nome “Chico para Mulheres”. Foram criadas, diz a frase de apresentação, “para aqueles momentos em que você, mulher, sente como se Chico Buarque fosse o único homem capaz de te compreender”.

Na lista de músicas escolhidas aparecem canções cujos títulos têm nomes de mulheres, mas igualmente temas com a sua assinatura que foram popularizados em interpretações femininas, como ‘Olhos nos Olhos’, por Maria Bethânia, ou ‘Meu Amor’, por Elba Ramalho, provando que, se Chico canta tão bem as mulheres, estas podem retribuir o favor, fazendo suas as composições dele.