Chloé Esposito: “Há algumas cenas de sexo quente e louco”

Aos 33 anos, a autora britânica Chloé Esposito prepara-se para conquistar milhões de fãs em todo o mundo. Escreveu uma trilogia cujo primeiro livro, Louca, foi dos mais disputados a nível internacional pelas editoras na Feira de Londres, os direitos de adaptação para filme já foram comprados pela Universal Studios e são vários os especialistas que estimam que os lucros que vai arrecadar com este livro cheguem aos 2 milhões de libras.

Poucos dias depois de a obra ter sido lançada em Portugal, publicamos uma conversa com a autora que explicou ao Delas.pt como se inspirou para o lado mais obscuro e maldoso das personagens – para Chloé, uma forma de afirmação feminista -, sem esquecer o bom sentido de humor que nos deixa de sorriso na cara em várias partes do livro (percorra a galeria de imagens acima para ver algumas das frases mais divertidas do livro).

Apesar de a maioria dos leitores de Louca serem mulheres, Chloé Esposito garante ter conhecimento de muitos homens que leram e gostaram. Quanto às comparações com As Cinquentas Sombras de Grey, admite que existem algumas semelhanças, mas sublinha que não é um livro erótico e que as personagens femininas dos dois romances são bastante diferentes.

Quem é o público-alvo deste livro?

Enquanto estava a escrever Louca pensei que os leitores seriam millennials do sexo feminino a viver e trabalhar em cidades no Reino Unido, mas fiquei encantada quando soube que a trilogia seria vendida em 25 países. As pessoas agora estão a ler o meu livro em todo o mundo. Tenho sido agradavelmente surpreendida com a reação positiva de mulheres de todas as gerações – não temos de ter 25 anos para apreciar uma história sobre um rapaz de 25 anos – e há muitos homens que leram o livro e adoraram. A história é para quem quem adora um livro interessante, um pouco desobediente e com sentido de humor.

Vai ser mais lido por mulheres ou homens?

Presumo que a trilogia será mais lida por mulheres por haver uma protagonista feminina, a Alvie Knightly. Oitenta por cento dos romances são comprados e lidos por mulheres. Os homens estão muito ocupados a jogar videojogos e a fazer coisas de homem, como beber cerveja. Infelizmente muito poucos leem livros reais.

“Os homens estão muito ocupados a jogar videojogos e a fazer coisas de homem, como beber cerveja. Infelizmente muito poucos leem livros reais.”

Há muitas pessoas a comparar esta trilogia com As Cinquenta Sombras de Grey. Existem semelhanças?

Há algumas cenas de sexo quente e louco em Louca. No que a isso diz respeito é semelhante aos romances de As Cinquenta Sombras de Grey, sim. Os dois romances também têm protagonistas jovens, do sexo feminino, mas Alvie Knightly não podia ser mais diferente de Anastasia Steele. Os Louca, e Perigosa são romances de suspense, não de erotismo. Louca também é o único em que a personagem principal tem uma voz obscura e esse humor negro não é algo que encontremos em As Cinquenta Sombras de Grey. Michael De Luca, que produziu os filmes de As Cinquenta Sombras de Grey também está a produzir Louca para a Universal Studios. Talvez encontremos mais semelhanças entre os filmes, não sei.

Os índices tradicionais são divididos por capítulos, mas o índice de Louca está dividido por sentimentos e estados de espírito como preguiça, inveja e ira. Por que decidiu fazer assim?

Escrever a personagem Alvie Knightly foi muito divertido, mas também foi uma afirmação feminista sobre igualdade. A minha protagonista é uma gémea idêntica que rouba a vida da irmã perfeita. Podemos encontrar muito sexo, drogas e homicídio nos meus romances. Queria criar uma anti-heroína e mostrar que as mulheres também podem ser más, tantas vezes como os homens, que normalmente têm toda a diversão e as mulheres são boas ou cheias de moral. Consegui isto usando a ideia cristã dos sete pecados mortais, para mostrar que Alvie se porta muito mal. Todos os dias ela encena um pecado diferente. O meu favorito é o Luxúria.

Alvie mantém o bom humor, mesmo quando a vida não lhe corre bem. Este é um bom truque para lidar com as fases mais difíceis da vida?

Pela minha experiência, o humor é a única forma de lidar com os maus momentos da vida. Muitas vezes os comediantes ou aqueles com melhor sentido de humor são quem passou pelos maiores traumas ou depressões. Basta olharmos para o Robin Williams. Se não rimos, choramos.

“Escrever a personagem Alvie Knightly foi muito divertido, mas também foi uma afirmação feminista sobre igualdade.”

O livro está recheado de frases divertidas que deixam os leitores com um sorriso no rosto. Como consegue escrever com tanto humor?

Honestamente não sei. A voz da Alvie veio muito naturalmente para mim. Escrever os romances foi um processo muito orgânico e espontâneo. A personagem desenvolveu-se no subconsciente da minha mente e depois tornou-se uma criação independente. As suas palavras, os diálogos e o monólogo interior acabou por fluir. Eu sei que parece muito preocupante, mas prometo que não sou como ela. Ela é a pior pessoa que eu podia imaginar.

Trabalhou como assessora de direção e consultora de moda na Condé Nast. A sua ligação à moda é visível no livro não só através da capa, que podia ser de uma revista feminina, mas também pelas referências a marcas de roupa e descrições pormenorizadas dos vestidos. Foi uma parte importante da sua carreira?

Tive muita sorte em trabalhar na Condé Nast, era um mundo muito inspirador. Quando terminei o meu curso de inglês na Universidade de Oxford mudei-me para Roma, onde a moda estava em todos os lugares e era tão incrível. Isso inspirou-me a trabalhar em jornalismo de moda. Quando voltei a Londres fiz estágios em revistas como a Vogue, GQ e The Sunday Times Style. Era muito jovem e inexperiente. Depois passei a ser assistente de estilistas e editora dessas revistas. Em grande parte desse tempo senti-me como Andrea, de O Diabo Veste Prada, em que ia buscar cafés para o editor. O meu amor pela moda inspirou a obsessão da Alvie no romance por roupa de marca e é uma grande parte da minha ligação a Itália.

A história do livro decorre entre Londres e Sicília. Qual a sua ligação a estas duas cidades?

Morei em Londres nos últimos 10 anos e no Reino Unido a maior parte da minha vida. Morei em Roma durante alguns meses, quando conheci o meu marido e tive a sorte de viajar por toda a Itália, mas o meu destino preferido é Taormina, na Sicília. A primeira vez que a visitei foi há nove anos e lembro-me de estar encantada com a beleza natural da cidade velha, localizada no alto de um monte.

Ficha técnica do livro:

Louca

Louca, de Chloé Esposito. Bertrand Editora, 17,70 euros