Choque, ansiedade, stress pós-traumático. Nove passos para lidar com a guerra, segundo os psicólogos

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[Fotografia: Pixabay/Pexels]

A Ordem dos Psicólogos portugueses (OPP) lançou um guia para lidar com a guerra na Ucrânia, na sequência da ofensiva militar russa que começou a 24 de fevereiro.

O documento de 14 páginas deixa claro que nem todos estão a lidar da mesma maneira com o conflito, que decorre na Europa e mais próximo de todos nós, e que nem todos conseguirão libertar-se dos sentimentos de angústia da mesma forma. Por isso, o guia intitulado A Guerra Afeta-nos a Todos deixa nove passos para saber gerir a ansiedade, o choque, a preocupação decorrentes desta situação. Mas já lá vamos.

Para já, a OPP lembra que sentir tudo isto é, de alguma forma, expectável. No documento que pode ser consultado aqui, “o sentimento de segurança e bem-estar estava já bastante abalado por dois anos consecutivos de pandemia COVID-19”. “Também a crise socioeconómica que dela decorre deixou-nos cansados, fatigados e desesperançados. Quando, finalmente, aguardávamos o fim da pandemia, somos confrontados com uma Guerra e todas as suas consequências desastrosas”, acrescenta.

Por isso, prossegue, “em situações de crise, em circunstâncias com resultados imponderáveis e de forma continuada num período alargado de tempo, os sentimentos de incerteza podem ser mais complexos de gerir. Este desgaste pode aumentar o nosso sentimento de vulnerabilidade e ameaçar a saúde psicológica e bem-estar”.

Ameaças ainda mais avassaladoras quando se está diante de pessoas em maior vulnerabilidade. Entre elas, a OPP sublinha que há maior risco de “impacto emocional adicional” nos casos de “pobreza, desemprego, exclusão social (…) famílias que tenham militares ou familiares e amigos na Ucrânia ou Rússia”. Para os psicólogos, “a probabilidade de [os cidadãos] desenvolverem ou verem agravadas dificuldades e problemas de saúde psicológica como a ansiedade, a depressão ou a perturbação de stress pós-traumático aumenta”.

Veja abaixo as nove recomendações deixadas no guia, os contactos e locais de que se pode socorrer em caso de necessitar de ajuda, e que o Delas.pt reproduz na Íntegra:

Aceitar as nossas emoções e sentimentos

É totalmente natural sentirmos muitas emoções e sentimentos diferentes. É perfeitamente razoável chorar, se sentirmos vontade de o fazer (muitas vezes, até nos sentimos mais aliviados depois). Também é natural que o nosso humor e motivação possam flutuar.

Utilizar estratégias de gestão da ansiedade e do stress

A sensação de “já não aguentarmos mais” é um “estado da nossa mente”. Podemos usar a ansiedade a nosso favor e combater os sentimentos negativos e desagradáveis que ela nos traz. Podemos experimentar algumas formas de gerir a ansiedade.

Limitar a nossa exposição a notícias

Não conseguimos controlar o que se está a passar na Ucrânia, por isso não ajuda estarmos constantemente a monitorizar todos os detalhes do que está a acontecer, correndo o risco de nos sentirmos sobrecarregados e desesperados com toda a informação disponível. Pesquisar sistematicamente sobre este tema, pode aumentar a ansiedade e o medo.

Falar com familiares e amigos

Como diz o provérbio: “um problema partilhado, é metade do problema”. Não somos os únicos preocupados com a Guerra. Partilhar aquilo que sentimos pode diminuir o nosso stress, fazer-nos sentir apoiados e validados no que sentimos e pensamos, aumentar o nosso sentimento de confiança e a nossa energia. Falar ajuda

Manter uma rotina

As nossas rotinas podem ajudar-nos a aumentar os nossos sentimentos de segurança e previsibilidade em tempos de incerteza.

Realizar atividades de lazer

Ir correr, falar ao telefone com um amigo/a, saborear a nossa refeição preferida, olhar pela janela e observar a paisagem… O mundo continua a ser um lugar cheio de beleza e coisas positivas, das quais podemos e devemos usufruir. Pode saber mais sobre a importância das atividades de lazer.

Alimentar a esperança

A Guerra não traz apenas destruição, também provoca comportamentos pró-sociais, maior envolvimento e participação cívica, mais gratidão pelo que temos, compaixão e solidariedade, mais defesa da liberdade e da dignidade, maior respeito pela diversidade e pelos direitos humanos. Maior perceção da forma como todos estamos conectados e do modo como nos relacionamos uns com os outros, da importância da vida e do sentido que lhe atribuímos.

Apoiar e contribuir

Um sentimento de esperança e propósito surge quando nos mobilizamos, enquanto comunidade, para ajudar e contribuir para o bem-comum. Procurar uma forma de apoiar (através de donativos de bens ou voluntariado, doação de sangue ou mobilização das pessoas da comunidade, por exemplo) ajuda-nos a nós e aos outros, pode contribuir para atribuir um propósito ao que estamos a passar e pela mobilização que nos possibilita, aumentando a nossa perceção de controlo sobre a situação que vivemos.

Procurar ajuda

Se os nossos pensamentos e sentimentos estão a interferir significativamente com a nossa capacidade de funcionar no dia-a-dia, a afetar o nosso sono ou a dominar a nossa vida, devemos procurar ajuda. Mas também podemos procurar ajuda se acharmos uma boa ideia falar com um profissional que nos ajude a regular os nossos pensamentos e sentimentos. Podemos consultar informações sobre como procurar ajuda e como um Psicólogo ou Psicóloga nos podem ajudar. Pedir ajuda nunca é um sinal de fraqueza, mas sim de coragem e responsabilidade. Podemos ainda aceder ao www.encontreumasaida.pt ou, em situação de crise, ligar para o Serviço de Aconselhamento Psicológico da Linha SNS24, através do número 808 24 24 24.