Ciclone Idai: Portuguesa repatriada chega a Lisboa “sem nada”

Chegada de repatriados de Moçambique
Repatriados portugueses vindos de Moçambique, na chegada à Base Aérea de Figo Maduro, em Lisboa, 25 de março de 2019. ANTÓNIO PEDRO SANTOS / LUSA

Maria Lopes, um dos sete repatriados que hoje regressaram a Portugal, vindos de Moçambique, referiu que “ninguém estava à espera” das consequências do ciclone Idai, que provocaram a morte de 446 pessoas no país.

“Não dá para contar. Árvores inteiras a cair em cima dos telhados. Mas árvores centenárias, não é uma árvore qualquer. Não é dessas pequeninas que nós vemos. São árvores centenárias, árvores que partem logo uma casa, se for preciso”, relatou Maria Lopes, acrescentando que, na cidade da Beira, “ninguém estava à espera disto”.

À saída do avião fretado pelo Governo português para trazer sete cidadãos nacionais emigrados em Moçambique, e que aterrou na base militar de Figo Maduro, em Lisboa, por volta das 01h00, Maria Lopes ouviu umas breves palavras de conforto do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

Natural de Lamego, mas com grande parte da vida vivida em Almada, Maria Lopes partilhou a sua experiência com a passagem do Idai por Moçambique, onde estava há cinco anos. “Começou a chover. Depois, durante a noite, até à meia-noite, [foi] muito agressivo e parecia que aquilo ia abrandar, mas depois, até perto das quatro da manhã não aconteceu. O vento virou ao contrário, era só levantar tudo, telhados, tudo”, contou.

A passagem do Idai, que inundou uma área de cerca de 1.300 quilómetros quadrados, só em Moçambique, levou a que a habitação de Maria Lopes ficasse sem água e luz. “Nós não morremos porque não calhou”, referiu aquela que é uma das 2,8 milhões de pessoas afetadas pelo ciclone que atingiu Moçambique, Maláui e Zimbabué e cujo mais recente balanço diz ter causado a morte de pelo menos 761 pessoas.

Maria Lopes conta que ficou “sem nada”, e que, por isso, a solução passou por regressar a Portugal. “A solução foi virmos embora para aqui, para o nosso país. Ficámos sem nada”, disse, acrescentando: “O meu marido está doente. Fomos lá (…) ao médico e fizeram um relatório que ele tinha de voltar à terra natal e, uma vez que o Governo abriu esta porta, nós aproveitamos”, explicou a portuguesa. Para trás ficaram um filho, uma nora e “uma netinha”.

“Eles estão lá ainda porque ele casou com uma moçambicana e, então, se depois as coisas não estiverem a correr bem, depois irão para outro sítio, para casa da sogra, para o Nampula [província no norte de Moçambique que não foi afetada pelo ciclone Idai]”, explicou.

Maria Lopes elogiou e agradeceu o trabalho do consulado português na região, que diz ter feito tudo o que podia. Agora, sublinha, quer “recuperar do trauma”, confiante de que “tudo vai passar”.

Além de terem sido recebidos pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, os sete portugueses repatriados – cinco homens, uma mulher e um jovem de 15 anos – foram acompanhados por várias equipas do Instituto Nacional de Emergência Médica de Portugal (INEM) e da Segurança Social.

O número de pessoas afetadas em Moçambique pelo ciclone Idai subiu para 531.000 e há 109.000 entradas em centros de acolhimento, das quais 6.500 dizem respeito a pessoas vulneráveis – por exemplo, idosos e grávidas que recebem assistência particular.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que está a preparar-se para enfrentar prováveis surtos de cólera e outras doenças infecciosas, bem como de sarampo, em extensas zonas do sudeste de África afetadas pelo ciclone Idai, em particular em Moçambique.

 

MR com Lusa