CIG assinala “40 anos de conquistas” com várias ainda por concretizar

mlm-3
As escritoras Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta carregaram cartazes com frases de ordem como "Mulheres uma força política", "A junta é machista", "Queremos: Sede". Juntas, a par com Maria Velho da Costa, foram absolvidas no caso de tribunal conhecido por “As Três Marias” e lideraram a Manifestação do Movimento de Libertação das Mulheres [Fotografia: Arquivo DN]

A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) assinala esta terça-feira, 7 de março o seu 40º. aniversário com o evento “40 anos de Conquistas”, às 21h, no Teatro da Trindade Inatel, em Lisboa.

Em quatro décadas muito se avançou na condição e nos direitos das mulheres em Portugal, mas também subsistem vários desafios.

A situação das mulheres no mercado de trabalho, o acesso à educação, onde passámos de elevados níveis de iliteracia para uma representação feminina de 60% no universo dos estudantes universitários, direitos sociais, como a despenalização da interrupção voluntária da gravidez e o acesso à tomada de decisão política a partir da lei da paridade, são algumas das conquistas elencadas por Teresa Fragoso, presidente da CIG.

“Em 2006, começámos finalmente a ter uma massa crítica de mulheres na tomada de decisão política, começamos agora a fazer essa discussão na tomada de decisão económica, em que queremos ter equilíbrio entre homens e mulheres nos conselhos de administração das empresas do Estado e das privadas cotadas em Bolsa”, exemplifica a responsável.

Apesar das conquistas alcançadas nestes 40 anos de CIG, Teresa Fragoso lembra que persistem desafios e medidas que, embora consagradas na lei, demoram a ter a aplicação prática correspondente.

“Ainda temos, essencialmente, as mulheres com a responsabilidade das tarefas domésticas, os homens ainda participam pouco no cuidado, na vida familiar”, começa por referir, acrescentando que mesmo nas áreas em que já se percorreu algum caminho, como a educação ou a partilha da prestação de cuidados aos filhos, ainda há trabalho a fazer.

“Na educação ainda estamos a fazer muito trabalho, porque o sistema educativo ainda é muito estereotipado, os papéis de género muito marcados e desigualitários”. Depois, no mercado de trabalho, as mulheres, diz a responsável , são “triplamente prejudicadas”, porque “recebem menos salário que os homens, vão para casa e trabalham mais horas sem serem remuneradas e nas pensões que vão ter no futuro receberão menos por comparação com os eles, porque ao ganharem menos ao longo dos anos, descontam menos”.

No caso da partilha na educação dos filhos, Teresa Fragoso assinala que com as mudanças na legislação das licenças de parentalidade se verificou “um aumento muito significativo da participação dos homens, mas mesmo assim, na parte das licenças que poderia ser partilhada, só cerca de 27% é que é usada pelos pais”.

A violência doméstica e a violência contra as mulheres é entre todas as áreas que ainda estão por resolver a “mais desafiante”, considera a presidente da CIG.

No evento comemorativo desta noite, que conta com a apresentação de Maria Elisa Domingues e Rita Ferro Rodrigues e a participação especial de Ana Bola, Isabel Abreu e Maria João Luís, marcam presença várias mulheres do mundo da música e diferentes gerações e estilos como Aldina Duarte, ARS Nova, Baton, Ceifeiras de Pias, Celina da Piedade, Noel Gouveia, Mimicat, Mísia, Rita & Revolver e Rita Redshoes.

Participam ainda dezenas de mulheres que se têm destacado nas mais diversas áreas – artística, jornalística, literária, política, militar, desportiva e científica – e pelo seu ativismo em prol da igualdade de género.

A CIG é também parceira das Women Talks, um ciclo de conferências e workshops sobre temáticas relacionadas com o Dia Internacional da Mulher que se realiza esta quarta-feira, na Reitoria da Universidade de Lisboa, a partir das 10h.