Cinco anos de #MeToo. As portuguesas célebres que denunciaram assédio sexual

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[Fotografia: Polina Tankilevitch/Pexels]

As acusações de assédio por parte das jogadoras de futebol do Rio Ave contra o ex-treinador principal da equipa, Miguel Afonso, são só o caso mais recente. Muito longe de terem sido as primeiras, estas queixas não serão, seguramente, as últimas numa sociedade em que este comportamento sobre as mulheres perpassa por todas as áreas.

Afinal, ainda antes do movimento #MeToo ganhar corpo e força mundialmente, levando as mulheres a denunciarem abusos exercidos sobre elas e por parte de quem tinha sempre mais poder, já os estudos europeus denunciavam números alarmantes. Um estudo da Agência dos Direitos Fundamentais de União Europeia concluiu que uma em cada duas europeias tinha passado por isto.

Desde 15 de outubro de 2017 – início da onda de denúncias ao abrigo da hastag #MeToo e dez dias depois das primeiras revelações contra o poderoso produtor de Hollywood e agora condenado, Harvey Weinstein (leia toda a história aqui) terem vindo a público – que as mulheres um pouco por todo o mundo têm vindo a terreiro denunciar o assédio sexual, com as celebridades a tomarem essa dianteira.

Portugal não foi diferente, com múltiplas famosas a denunciarem os excessos a que foram sujeitas e as circunstâncias. Algumas avançaram mesmo com o nome do seu agressor.

Em momento de evocação de uma data que trouxe para a luz o que as mulheres têm vindo a sofrer na sombra, recorde as apresentadoras e atrizes nacionais que deixaram de silenciar esta realidade.

Leonor Poeiras, de 42 anos, afirmou, em maio do ano passado, ter sido alvo de assédio sexual por parte do psicanalista. “Demorei muito tempo a perceber que era assédio sexual. Pela simples razão de nunca ter havido um único toque”, contou, ao “Expresso”, referindo-se a um caso que terá existido em 2012. “Só numa madrugada, ao fim de 200 sessões, é que eu percebi o que estava a acontecer”, acrescentou.

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[Fotografia: Instagram/Leonor Poeiras]
Sofia Aparício, de 52, contou, no ano passado, ter sofrido de assédio sexual por parte de um diretor. “Aconteceu com um homem que tinha hierarquicamente mais poder, era diretor de um projeto de que eu fazia parte, agarrou-me pela cintura e puxou-me para ele. Dei-lhe uma estalada”, disse.

Sofia Aparício
[Fotografia: Instagram Sofia Aparício]
Por sua vez, Raquel Henriques, de 45, revelou que deixou de trabalhar em televisão após ter sido alvo de uma investida de um homem com poder na indústria. “Fechou-me na sala de atores com ele e tentou puxar por mim, não cedi”, contou, em entrevista ao programa “Goucha” (TVI), em maio de 2021. “Tive de continuar a trabalhar com essa pessoa até ao fim da produção. Não foi uma pessoa fácil de lidar, ele fazia questão de me massacrar psicologicamente”, prosseguiu.

Raquel Henriques
[Fotografia: Instagram Raquel Henriques]
Bárbara Bandeira, de 21, relatou ter recebido convites impróprios por parte de artistas quando quer fazer colaborações. “Já me aconteceram situações deste género, chego ao pé de um rapper ou de um cantor e digo-lhe que gostava muito que entrasse numa música minha. E a resposta dele é: ‘Está bem, queres vir ter comigo ao Algarve?'” lembrou, indignada.

Bárbara Bandeira
[Fotografia: Instagram Bárbara Bandeira]
Não é por ser miúda e ser mulher que um agente me pode apalpar, mandar piropos. Mas seja a mim, a uma bailarina ou até a uma fã“, disse, em 2020, à rádio Mega Hits.

Além destas caras conhecidas, também Sofia Arruda, 34 anos, sofreu de assédio sexual por parte de um profissional com poder numa produtora A atriz revelou o episódio no programa Alta Definição, na SIC, em abril de 2021. A partir das revelações da intérprete, várias atrizes contaram também ter sido alvo de assédio sexual.

Três anos antes, a atriz Dânia Neto, 39 anos, dava o pontapé de saída para o tema, em janeiro de 2018, cerca de três meses depois do terramoto que o #MeToo tinha iniciado nos Estados Unidos da América e no mundo.

Em 2018, Olívia Ortiz, atualmente com 35 anos, era apresentadora da TVI e também foi uma das primeiras a reconhecer que havia assédio no trabalho.

Carolina Deslandes, 31 anos, assumiu, em entrevista à revista Sábado, ter sido vítima de assédio. “Não disse nada por vergonha”. A artista explicou que, anos mais tarde, se arrependeu de não ter apresentado queixa. “Uns anos depois, ele teve um problema com uma menor. Só pensei: ‘porque é que eu não disse?!”, lamentou.

[Fotografia: Carolina Deslandes/Instagram]
A atriz de 43 anos Bárbara Norton de Matos revelou ter sido vítima de assédio. Na maioria dos casos, o não apresentar queixa é sinónimo de medo de represálias ou de perder trabalho, ou até mesmo de vergonha de se assumir vítima, considerou à revista Nova Gente.

A argumentista, poeta e escritora de 44 anos Cláudia Lucas Chéu sublinhou, à data da denúncia de Sofia Arruda, a importância de falar sobre o assédio. Sobre aquilo que viveu, contou: “Não vou dizer o nome do ator, nem qual a companhia de teatro porque não vale a pena, ele sabe bem quem é. O importante aqui é falar sobre a situação”. Citada pela revista TV7 Dias, contou: “Era uma novata acabadinha de sair do Conservatório, ele era um tipo uns anos mais velho e já experiente na representação. Começámos por nos dar bem e desenvolver uma certa ligação, o que até nos dava jeito, porque fazíamos par romântico nesse espetáculo. Acontece que, na única cena sexual que fazíamos juntos, o energúmeno colocava-me a mão mesmo sobre o sexo. Primeiro, achei que aquilo tinha sido sem querer, mas depois repetiu-se na noite seguinte”. “É a vez dos assediadores ficarem calados, a não ser que seja para pedirem desculpa, e de nós os fazermos baixar a bolinha”, concluiu.

Catarina Furtado, de 50 anos, já se havia pronunciado, pela primeira vez, em 2018, tornando-se das primeiras celebridades portuguesas a dar o rosto pelo assunto. A revelação foi feita a David Beja, no podcast Cada Um Sabe de Si, da Rádio Comercial. A apresentadora explicou que o momento mais embaraçoso da sua vida “foi quando fui assediada sexualmente”.

Catarina Furtado [Fotografia: Orlando Almeida/Global Imagens]
Catarina Furtado [Fotografia: Orlando Almeida/Global Imagens]
A atriz Inês Simões, 37 anos, revelou nas redes sociais ter sido vítima de situações semelhantes às descritas por Sofia Arruda. “Nunca mais trabalhei em televisão”, explicou. No comentário feito, pode ler-se: “Sei bem o que é isso porque também me aconteceu. Acredito que aconteça ainda com frequência com muitas atrizes e atores. Efetivamente, nunca mais trabalhei em TV, mas criei outros projetos e mantive a minha dignidade e consciência tranquila”.

Durante anos trabalhou como jornalista na SIC, e foi através do Twitter que Bárbara Guevara, 42 anos, revelou também ter sido vítima de assédio. “Durante anos, fui alvo de assédio sexual e abuso de poder (chantagem), sobretudo quando trabalhava em televisão enquanto jornalista, na SIC. Ao longo desse tempo, outras miúdas confidenciaram-me relatos semelhantes, com as mesmas ou outras pessoas”

A modelo Sara Sampaio, 31 anos, afirmou, em novembro de 2017, na Web Summit, ter sido “forçada a fazer coisas que não queria”. Sampaio, de 26 anos, considerou que as redes sociais “vieram dar voz” a quem trabalha no setor e dar margem de denúncia a alvos mais frágeis.

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[Fotografia: ANGELA WEISS / AFP]
A apresentadora e atual diretora de Ficção e Entretenimento Cristina Ferreira, hoje com 45 anos, já havia revelado ter sido vítima deste tipo de atitudes. “As flores indiciavam uma óbvia tentativa de conquista. As palavras, mansas, acusavam um objetivo claro: ele queria ‘comer-me’. E não! Não há outra expressão que melhor defina o que ele queria. Percebi, em todas as entrelinhas dos elogios despropositados, uma gana que me metia nojo”, escreveu a apresentadora no seu livro Sentir, lançado em 2016.

Foi no programa da Júlia Pinheiro, na SIC, que Débora Monteiro, 39 anos, fez a revelação. “Acho que me tornei um bocado agressiva. Foi: ‘Não estou aqui para isto, estou aqui para trabalhar, portanto, ou é isso ou vou-me embora’. E pronto, foi assim. Depois sofri na pele”. Este comportamento levou a que ficasse “infeliz” e “insegura” no ambiente de trabalho. “É horrível porque temos um contrato, eu por mim rasgava o contrato e ficava por ali, mas não dá, tem que se fazer o projeto até ao fim”, contou. À época da entrevista dizia já não sofrer desse tipo de situações. “Na altura, houve um ou outro técnico que se apercebeu e me protegeu muito. Estavam sempre a tentar proteger-me, ainda hoje em dia falamos sobre isso. Foram uns cavalheiros”, concluiu.