Cinco milhões de crianças em 2021 morreram por falta de cuidados de saúde, diz ONU

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[Fotografia: Natalie/Pexels]

Cerca de cinco milhões de crianças com menos de cinco anos morreram em 2021 por falta de cuidados de saúde de qualidade, avançou esta terça-feira, 10 de janeiro, a ONU, lamentando que a sobrevivência continue a depender do local onde se nasce.

“Muitas destas mortes poderiam ter sido evitadas através de um acesso equitativo a cuidados de saúde maternos, neonatais e infantis de qualidade“, considerou o Grupo Interinstitucional das Nações Unidas para a Estimativa da Mortalidade Infantil (UN IGME, na sigla em inglês), responsável pelo relatório onde foram divulgadas as estimativas.

O grupo refere ainda, num relatório separado também divulgado esta terça-feira, 10 de janeiro, que 1,9 milhões de bebés nasceram mortos nesse ano por falta de cuidados primários. “Todos os dias, muitos pais enfrentam o trauma de perder os seus filhos, às vezes antes mesmo da sua primeira respiração”, lamentou a diretora da Divisão de Análise de Dados, Planeamento e Monitorização da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Vidhya Ganesh, para quem “esta tragédia generalizada e evitável não pode ser vista como inevitável”.

Melhorar estes números “é possível se houver vontade política forte e investimento no acesso equitativo a cuidados de saúde primários de todas as mulheres e crianças”, defendeu.

Apesar dos números serem muito altos, os dois relatórios mostram alguma evolução positiva em todas as faixas etárias relativamente ao ano 2000, verificando que atualmente o risco de morte é muito menor.

A taxa global de mortalidade de menores nos primeiros cinco anos de vida caiu 50% desde o início do século, enquanto a taxa de nados mortos diminuiu 35%, o que, segundo a ONU, pode ser explicado pela existência de mais investimentos nos sistemas primários de saúde dedicados às mulheres, crianças e jovens.

No entanto, as melhorias registadas na primeira década do século diminuíram significativamente desde 2010, sendo que 54 países não vão conseguir atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (a chamada Agenda 2030 que é composta 17 grandes Objetivos) para a mortalidade de menores de cinco anos.

Estabelecidos em 2015 pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, estas metas globais definem que a taxa global de mortalidade materna deve ser reduzida, até 2030, para menos de 70 mortes por 100.000 nascimentos.

O objetivo passa ainda por acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de cinco anos e por reduzir, em todos os países, a mortalidade neonatal para não mais de 12 por cada 1.000 nascimentos e a mortalidade de crianças menores de cinco anos para 25 por cada 1.000.

“Se não forem tomadas medidas rápidas para melhorar os serviços de saúde, quase 59 milhões de crianças e jovens morrerão antes de 2030 e quase 16 milhões de bebés vão nascer mortos”, alertam as agências que fazem parte deste grupo da ONU.

É extremamente injusto que as hipóteses de sobrevivência de uma criança sejam condicionadas pelo local onde nasce e que existam desigualdades tão grandes no acesso a serviços de saúde“, lamentou o diretor da unidade de Saúde Materna, dos Recém-Nascidos, das Crianças, dos Adolescentes e dos Envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), Anshu Banerjee.

“Qualquer criança, de qualquer local, precisa de um sistema forte de cuidados primários de saúde, que atenda às suas necessidades e às das suas famílias, para que — nasçam onde nascerem — tenham o melhor começo e esperança no futuro”, afirmou.

O UN IGME foi criado em 2004 para partilhar dados sobre mortalidade infantil, melhorar os métodos de estimativas, relatar a evolução das metas de sobrevivência infantil e aumentar as capacidades dos países.

O grupo é liderado pela UNICEF e inclui a OMS, o Grupo do Banco Mundial e a Divisão de População das Nações Unidas do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais.