O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) sofreu constrangimentos no atendimento de chamadas com a greve às horas extraordinárias dos técnicos de emergência pré-hospitalar, que terminou na quinta-feira, 7 de novembro. Uma situação que levou a pelo menos sete casos de óbitos na sequência de alegadas falhas ou erros nas ligações para o número de emergência médica e que estão sob investigação
Para perceber como funciona a linha de emergência médica, tire as dúvidas nas perguntas abaixo
O que é a linha 112?
O 112 é o número europeu de emergência. É a primeira linha de atendimento em qualquer situação de emergência, seja de saúde, incêndio, segurança ou proteção de pessoas e bens.
Como são processadas as chamadas para a linha 112?
As chamadas são atendidas por elementos da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Guarda Nacional Republicana (GNR) nas centrais de emergência. São gratuitas e estão acessíveis a partir de qualquer ponto do país a qualquer hora. O serviço 112 é coordenado pela PSP e chamadas reencaminhadas de acordo com a situação de emergência.
Quanto tempo demora o 112 a atender uma chamada?
Segundo a PSP, o tempo médio é de seis segundos em situações normais.
Como chegam ao INEM?
Em caso de emergência de saúde, o 112 canaliza as chamadas para os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). Depois é feita uma triagem e os operadores do CODU envolvidos indicam a melhor forma de proceder, enviando – se necessário – os meios de socorro adequados.
O que são os CODU?
Os CODU do INEM coordenam e gerem um conjunto de meios de socorro – Ambulâncias, Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação, Motos e Helicópteros de Emergência – selecionados com base na situação clínica das vítimas, com o objetivo de prestar o socorro mais adequado no mais curto espaço de tempo.
São Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) e recebem, via 112, pedidos de socorro referentes a situações de urgência ou emergência na área da saúde. O funcionamento dos CODU é assegurado ao longo das 24 horas do dia por uma equipa de profissionais qualificados – Médicos e Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar – com formação específica para efetuar o atendimento, triagem, aconselhamento, seleção e envio de meios de socorro.
Atualmente, os CODU contam com os meios necessários para o atendimento?
Não. Na terça-feira, 5 de novembro, o presidente do INEM, Sérgio Janeiro, reconheceu que os quatro CODU – Lisboa, Porto, Coimbra e Faro – estão “a trabalhar abaixo dos mínimos”, avançando que seriam necessários cerca de 80 profissionais para o atendimento. Os CODU contam em média com cerca de 45 profissionais.
Quanto ao número de mortes na sequência de alegadas falhas ou erros nas ligações para o número de emergência médica, existem já sete vítimas cujos casos estão a ser investigados pelas autoridades quer pelo Ministério Público quer pela Inspeção Geral das Atividades de Saúde (IGAS).
A 31 de outubro, em Vendas Novas, no distrito de Évora, um homem de 73 anos sentiu-se mal quando estava numa pastelaria e entrou em paragem cardiorrespiratória, acabando por morrer no local, indicou à Lusa fonte da corporação local dos bombeiros, explicando que o quartel recebeu um telefonema de um popular a alertar para a situação.
No dia 3 de novembro, o Governo pediu uma auditoria interna ao INEM para avaliar as condições em que ocorreram duas mortes que tinham sido denunciadas pelo Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH).
Um dos casos apontados pelo STEPH, ocorrido na freguesia de Molelos, Tondela, foi o de uma mulher de 94 anos em paragem cardíaca, em que um familiar conseguiu ligar para a linha 112 às 09:34, mas a chamada só foi transferida para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) às 10:19, cerca de 45 minutos depois. A mulher ainda foi transportada para o centro hospitalar de Lamego, onde foi declarado o óbito, em data que não foi especificada.
O outro caso ocorreu em 31 de outubro em Bragança, quando a mulher de um homem em paragem cardíaca esteve mais de uma hora a tentar ligar para o 112.
Em 4 de novembro morreu um idoso de 95 anos em Ansião, distrito de Leiria, após esperar por atendimento pela linha 112, tendo sido um vizinho a deslocar-se aos bombeiros para pedir ajuda, disse o comandante da corporação local.
Conhecido em 6 de novembro, mas ocorrido três dias antes, foi o caso de uma idosa utente de um lar em Castelo de Vide que morreu devido a paragem cardiorrespiratória, após cerca de hora e meia de espera por socorro, disse o presidente da instituição.
A 7 de novembro, o Ministério Público anunciou que abriu um inquérito à morte de uma mulher no Hospital Garcia de Orta, em Almada, para onde foi transportada no dia 4 pela PSP, após o INEM não responder ao pedido de socorro.
O INEM confirmou, também no dia 7, que houve uma chamada não atendida pelo CODU para assistência a um homem que acabou por morrer também em 4 de novembro em Vila Nova de Cacela, no Algarve.