Cinto de castidade está de volta?

Cinto de castidade: mito ou realidade? (Foto: Shutterstock)
Cinto de castidade: mito ou realidade? (Foto: Shutterstock)

Era mais uma coisa do passado, mas como o passado parece estar sempre a apanhar-nos, o cinto de castidade pode também ele estar de volta. Que fale a mulher que, em Itália, teve recentemente que se socorrer dos bombeiros para se libertar do cinto a que estava presa por ter perdido a chave. Mas aqui não foi o excesso de zelo de um qualquer marido ou os ciúmes do namorado que a tornaram prisioneira, senão a sua própria vontade, para evitar cair em tentação, o mesmo é dizer, ceder aos prazeres carnais.

Por 144 euros pode-se comprar um cinto de castidade para os homens. Se for para elas, esta peça pode custar 55 euros.

E desenganem-se os que pensam que apenas as mulheres podem estar presas a um destes artefactos. Os tempos mudam e uma pesquisa rápida pela Internet confirma que à venda estão peças para elas e também para eles. Nestes casos, por 144 euros pode garantir que a sua cara-metade não mete a foice em seara alheia. E isto “a partir de materiais de alta qualidade e duração”, promete um dos anúncios. Para elas, a partir de 55 euros já consegue um cinto ou umas cuecas de castidade, versão moderna de um objeto que adquiriu novos usos. Evitar violações é um deles e a AR Wear, uma marca norte-americana, saltou para a ribalta com a oferta de roupa (na foto em cima) que promete isso mesmo: manter à distância os agressores sexuais.

O seu regresso dá-se numa altura em que cai por terra a teoria sobre as suas origens. É que, afinal, esta espécie de cinto usado sobre o ventre feminino e trancado à volta da cintura, que envolvia os órgãos sexuais e protegia a honra das casadas quando os maridos partiam para guerras infindáveis, não foi criado na Idade Média.

A garantia é dada por Albrecht Classen, professor na Universidade do Arizona, EUA, especialista em Estudos Medievais e autor do livro The Medieval Chastity Belt: A Myth-making Process. A análise que fez dos legados da literatura sobre o tema levaram-no a concluir pela falta de evidência de que tais objetos tenham sido, de facto, reais na Idade Média, por mais bárbaros que possam parecer. Afinal, o tempo da obscuridade não foi tão obscuro assim, pelo menos no que a este tópico diz respeito.

Diz Classen que não há muitas imagens destes cintos ou sequer testemunhos do seu uso nessa altura. E muitos menos exemplares reais. O pouco que existe escrito tem sempre por base os mesmos registos, a maioria dos quais satíricos. Quanto aos objetos expostos em alguns museus, a maioria dos especialistas acredita que são muito mais recentes doe que o inicialmente pensado e que não passam de referências fantasiosas a um passado que nunca existiu.

Ao que parece, terá sido então no século XIX que a coisa passa de ficção a realidade. Mas numa versão bem mais suave e sem os vestígios de tortura do passado. Na época vitoriana, reza a história que o seu uso era destinado às mulheres jovens. Aqui, para além da parte romântica da coisa – uma prova de fidelidade ao amado -, salientam-se as razões que iam ao encontro da saúde mental, já que impedia a masturbação durante a noite, prática considerada lesiva física e mentalmente.

A discussão sobre o tema promete continuar. E ainda que certezas não haja sobre o passado, é seguro dizer que hoje o cinto de castidade existe. E seja usado como acessório erótico ou com fins de proteção, uma coisa é certa: não deixa ninguém indiferente.