Cirurgia aos glúteos: “Registei um aumento de 400%”

Female body cosmetic surgery and skin liposuction.
[Fotografia: Istock]

Autoestima, novos padrões e ícones de beleza e de corpo como Kim Kardashian estão a levar cada vez mais mulheres a fazer cirurgias plásticas para melhorar os glúteos. Ao Delas.pt, o especialista em cirurgia estética e reconstrutiva João Martins explica, em entrevista por escrito, a crescente procura por este tipo de intervenções, que partem sobretudo de mulheres entre os 20 e os 35 anos, mas também de homens, ligeiramente numa fase etária posterior.

Uma cirurgia em crescimento, mais ainda longe da populares intervenções na mama ou a lipoaspiração. No entanto, no regresso ao trabalho pós-isolamento social, os pedidos foram de natureza distinta. “Tive um boom de pedidos de injetáveis para rejuvenescimento facial”, revela João Martins.

Em que consiste a cirurgia aos glúteos?

O aumento de glúteos, habitualmente chamado de gluteoplastia, é uma cirurgia que visa ou aumentar o volume da zona dos glúteos e nádegas, ou melhorar a sua forma, redistribuindo o volume e corrigindo possíveis assimetrias, para atingir proporções e curvas mais femininas. Esta cirurgia pode se realizada através da colocação de próteses de silicone – que permitem um maior volume -, ou com a infiltração de gordura da paciente (lipofilling), que é retirada de outras zonas do corpo, como abdómen, devidamente tratada e depois introduzida nos glúteos. O lipofilling é utilizado sobretudo para corrigir assimetrias ou para aumentos em mulheres que já têm alguma massa glútea, mas para consegui-lo é necessário que a paciente tenha gordura a mais noutras partes do corpo. Em alguns casos, pode também fazer sentido uma combinação de ambos os procedimentos.

Quais os resultados finais geralmente obtidos?

Dependendo da técnica escolhida, a cirurgia pode demorar de duas a cinco horas, sendo realizada com anestesia geral, para total conforto e segurança. Após a fase de recuperação, o volume e as novas curvas obtidas são definitivos. Habitualmente, os resultados traduzem-se numa forma mais arredondada, a zona lateral mais preenchida, mais levantado e com maior projeção.

A que se deve este aumento de procura? 

Nos últimos meses, na minha prática clínica, registei um aumento de 400% na procura da gluteoplastia. Enquanto no ano passado, normalmente, fazia um ou dois aumentos de glúteos por mês, esse número subiu para uma frequência quase semanal nos últimos seis meses. Não há uma razão direta e evidente para esta subida, mas é sabido que o culto da imagem continua a ter muita força e que os portugueses procuram cada vez mais cuidar de si e da imagem que transmitem aos outros.

É uma questão de autoestima?

Durante muito tempo, a cirurgia estética foi vista como um “capricho”, menosprezando-se o impacto positivo que pode ter na saúde, quer física quer mental, se feita com equilíbrio e contenção. Contudo, essa visão foi-se alterando nos últimos anos, resultando num aumento transversal da procura. Muitas das cirurgias estéticas são realizadas para que o paciente se sinta bem consigo próprio, confiante com a sua imagem, com reflexo direto no seu dia a dia, nas relações amorosas, familiares e até profissionais. Mas, a par desta mudança de mentalidade, surgiram também novos padrões de beleza, com ícones como Kim Kardashian a definirem novas curvas, um novo modelo de beleza e, quer queiramos quer não, estas personalidades acabam também pode definir tendências e o glúteo é uma área de evidente sexualidade. Porém, cada corpo é diferente e, por isso, cada caso deve ser analisado ao pormenor e cada cirurgia deve ser totalmente personalizada. O volume deve ser adequado à altura e estrutura do corpo, para um resultado harmonioso.

Quando pretendem aumentar os glúteos, quais as razões mais invocadas por mulheres e homens?

A gluteoplastia é procurada sobretudo por mulheres, cerca de 90% dos meus pacientes que procuram esta cirurgia são do sexo feminino. Procuram, na maioria das vezes, ganhar volume, que, por questões de genética, não conseguem atingir simplesmente com o desporto. É também frequente a vontade de subir o glúteo que tende a descair com flutuações de peso ou como consequência do próprio envelhecimento. No caso dos homens, a procura não é tanto focada no volume, mas sim no ter um glúteo mais atlético, mais levantado.

Quais as idades mais recorrentes? Com ou sem histórico de exercício físico?

Nas mulheres, as idades são de 25-40 anos, nos homens um pouco mais tarde, dos 30-45. A proporção entre praticantes de exercício físico regular e não praticantes (regulares) é muito semelhante.

Quais os preparativos necessários? Como é a recuperação?

Após o procedimento, o paciente é acompanhado de perto, sendo recomendada a toma de analgésicos e anti-inflamatórios para alívio da dor. Nas duas semanas seguintes, deve evitar sentar-se sobre o implante ou a área preenchida com gordura e dormir de barriga para baixo, para não fazer pressão na zona intervencionada. Passados esses 15 dias, o inchaço terá passado e o resultado final começa a ser vislumbrado. Passado um mês, já é possível fazer caminhadas e outros exercícios leves e às seis semanas também já é aceitável outros desportos mais exigentes.

Dentro da experiência clínica, qual é atualmente a percentagem destas cirurgias face às restantes?

Pode ser variável de acordo com a atividade de cada cirurgião, mas diria que, atualmente, representa cerca de 20%.

Quais as cirurgias mais pedidas por mulheres a nível global? Porquê?

A mais realizada em todo o mundo é o aumento mamário: seja para aumentar a copa ou melhorar a forma ou a posição, a procura é grande. A mama sempre foi vista como símbolo da feminilidade e de sensualidade, pelo que tem um grande peso na autoestima da mulher. Além disso, a maternidade também acaba por impactar negativamente a mama, em muitos casos, pelo que a procura no pós-gravidez ganha uma grande relevância para a mulher voltar a gostar do que vê ao espelho. Também a lipoaspiração – nas suas modalidades de lipoescultura e alta definição – é um procedimento com procura crescente pela capacidade que tem em remodelar praticamente o corpo todo.

Quais as cirurgias mais pedidas por mulheres nos meses que antecedem o verão, e porquê?

A procura é mais ou menos constante ao longo do ano, mas notam-se algumas mudanças no tipo de cirurgia desejada. No início no ano, é evidente uma maior preocupação em mitigar os efeitos do período de festas em que, naturalmente, cometemos alguns excessos. É nessa fase que começa, oficialmente, a “operação verão” e a procura por lipoesculturas. Quem tem algum excesso de peso há algum tempo e não consegue reverter essa situação apenas com uma dieta baixa em calorias e desporto, procura retirar essa gordura para ter um copo menos volumoso na altura do verão. Por norma, a zona abdominal é onde está o foco, mas, por vezes, para um maior equilíbrio, no mesmo procedimento cirúrgico são também intervencionados braços e pescoço. Esta gordura aspirada, pode ser reintroduzida noutras zonas do corpo, como o glúteo, mas também na mama. Por outro lado, temos paciente que podem até ser magros e desportistas frequentes, mas que têm gorduras acumuladas em locais estratégicos, difícil de eliminar. Estes procuram as lipoesculturas masculinas – também designada de lipoaspiração de alta definição ou HD – para remodelar o corpo, tirando gordura de forma mais seletiva e esculpindo os músculos, criando sombras e contrastes, para um abdómen mais definido.

Em tempo de e pós quarentena e isolamento social, houve alguma variação nas necessidades femininas no que respeita a cirurgia estética e reconstrutiva?

Não senti qualquer alteração associada a esta fase de pandemia. Claro que, tendo estado algum tempo parado e afastado do consultório, quando retomei a atividade tive um boom de pedidos de injetáveis para rejuvenescimento facial, não porque tenha havido mais procura, mas sim porque esses tratamentos estavam em atraso, já que exigiam presença física. De resto, a procura tem-se mantido semelhante no tipo de procedimentos desejados e quanto a quem os procura.

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