Cirurgia Plástica Vaginal: Saúde ou Vaidade?

Facilmente vistas como fúteis, as cirurgias plásticas são, muitas vezes, consideradas desnecessárias. Mesmo quando se trata de intervenções a nível da vagina. Mas será mesmo assim? Fomos falar com quem sabe do assunto para perceber as verdadeiras razões que levam as mulheres a recorrer a cirurgias plásticas vaginais e contamos-lhe tudo!

“São vários os motivos por que o fazem” (conheça-os na galeria acima), começa por dizer aos Delas.pt a cirurgiã Luísa Magalhães Ramos. E prossegue: “Há quem procure melhorar a aparência do órgão genital, quem queira eliminar o desconforto na realização de algumas atividades ou melhorar a vida íntima, sobretudo após o parto. No entanto, a maioria das mulheres não recorre a estas intervenções por questões relacionadas com a vida sexual, mas sim por motivos relacionados com desconforto na prática desportiva ou até com o próprio vestuário”.

Dr.ª Luísa Magalhães Ramos, especialista em Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética.

Posto isto, não demorou muito até perceber que, além da questão estética, a cirurgia plástica vaginal pode ser a resposta a vários problemas de saúde, tanto a nível físico como psicológico e que podem estar a comprometer o dia-a-dia, levando-a a evitar a prática de determinadas atividades.

A juntar às questões da estética e de saúde está ainda a questão do desconhecimento. A incerteza de se saber se somos normais ou não também contribui, por vezes, a que se pondere uma intervenção, mesmo sem necessidade. “Há mulheres que querem fazer cirurgia plástica para reduzir os lábios vaginais, por exemplo, porque acham que são muito grandes”, referiu ao Delas.pt a ginecologista e obstetra Sofia Serrano.

Todas nós temos diferenças em termos anatómicos, tanto a nível dos grandes lábios, como dos pequenos, como em termos vaginais… embora nem sempre saibamos que somos diferentes”, remata a especialista.

A necessidade de realizar uma avaliação antes de fazer qualquer intervenção é, por isso, fundamental. “Cada caso é um caso e deve ser tratado individualmente”, refere Luísa Magalhães Ramos. Até porque uma mulher pode precisar de apenas um procedimento, de vários ou até de nenhum.

A cirurgia plástica íntima como aliada da boa saúde feminina

Muitas das cirurgias realizadas ocorrem após a menopausa, altura em que o órgão sexual feminino sofre alterações hormonais que levam, por exemplo, à secura na zona e à perda de firmeza.

Dr.ª Sofia Serrano, especialista em ginecologia e obstetrícia

“A vagina é habitualmente pregueada e isso ajuda no prazer sexual. Quando entramos na menopausa, devido à parte hormonal, a pele do órgão sexual feminino começa a ficar mais fina, muito sensível, e isso interfere no prazer sexual”, explica a ginecologista Sofia Serrano. E prossegue: “Algumas cirurgias plásticas, como a injeção de determinadas substâncias, devolvem essas pregas à vagina, permitindo que a mulher tenha mais prazer”.

Intervenções deste género são, por vezes, incluídas no campo da estética. Para Sofia Serrano, não é assim tão linear: “Embora não seja propriamente um problema de saúde, não será bem algo estético, porque o prazer sexual contribui para o bem-estar psicológico da mulher”.

Também o pós-parto tem levado algumas mulheres a recorrerem a cirurgias vaginais. “Partos complicados que tenham interferido com a zona do reto ou da bexiga, podendo provocar incontinência; assim como mulheres com episiotomias [n.r. corte efetuada na região do períneo] grandes ou situações em que foram utilizados fórceps, deixando a vagina muito diferente daquilo que era inicialmente, levam a que se procure uma reconstrução do órgão”, refere a ginecologista.

Há também quem procure a colporrafia, “uma das cirurgias íntimas mais procurada pelas mulheres que foram mães por parto natural”, afirma a cirurgiã Luísa Magalhães Ramos. E continua, esclarecendo: “A colporrafia consiste em estreitar as paredes da entrada da vagina e corrigir outras alterações físicas, contribuindo para uma melhoria significativa da intimidade”.

Algumas destas intervenções podem até ser realizadas em simultâneo

Existem ainda cirurgias plásticas vaginais para resolver alterações congénitas, ou seja, alterações existentes desde o nascimento. “Por exemplo, em situações de hímen imperfurado. Algo que só se deteta na adolescência, quando há ausência de menstruação e surgem dores de barriga intensas, levando à necessidade de se fazer uma ecografia”, explica Sofia Serrano. Neste caso, “se se perceber que a vagina está completamente fechada, é feita uma cirurgia para abrir o canal vaginal, permitindo que a menstruação saia e também que, no futuro, possam existir relações sexuais”, explica.

Também a deteção de um septo no interior do órgão sexual feminino, uma espécie de divisória que pode ser vertical ou horizontal, que tem de ser removido leva à necessidade de uma intervenção. Assim como em situações hormonais que fazem com que a vagina seja, naturalmente, muito estreita, gerando desconforto durante as relações sexuais. “Aí com a colocação de uns dilatadores vaginais consegue-se, progressivamente, ir abrindo a vagina”, esclarece Sofia Serrano.

Em 2016, foram feitas 138 033 labioplastias e 55 606 rejuvenescimentos vaginais

Algumas destas intervenções podem até ser realizadas em simultâneo. “As vantagens são: a aplicação de apenas uma anestesia e o facto de só se ter um período de recuperação. O que se traduz num maior conforto, segurança e conveniência para a paciente”, revela a especialista Luísa Magalhães Ramos.

Após as operações cirúrgicas, “a paciente deve ficar em repouso durante dois ou três dias, evitando ao máximo tudo o que implicar esforços físicos”, indica ainda a cirurgiã. E alerta: “para uma recuperação tranquila e sem complicações a paciente deve restringir a atividade física e sexual durante 30 dias. Deve ainda utilizar vestuário largo e realizar a higiene íntima com produtos específicos”.

A cirurgia plástica vaginal em Portugal e no mundo

“São cada vez mais as mulheres, de diferentes idades e com diferentes objetivos, que procuram a cirurgia plástica íntima. Tem havido um crescimento exponencial não só em Portugal, como em todo o mundo”, garante Luísa Magalhães Ramos.

Focados nas duas intervenções mais realizadas globalmente, os números totais indicam que, em 2016, foram feitas 138 033 labioplastias e 55 606 rejuvenescimentos vaginais. No ano anterior (2015), tinham sido registadas 95 010 e 50 086, respetivamente, observando-se um aumento de 31,17% e de 9,93% – avança o relatório estatístico elaborado pela International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS).

não existem dados específicos quanto ao volume de cirurgias plásticas realizadas em território luso

Brasil e Estados Unidos da América continuam a ser os países que mais contribuem para estes números. No pódio está a América Latina, com 23 155 labioplastias e 7 920 rejuvenescimentos vaginais, seguindo-se os EUA com 13 266 e 4 752, respetivamente.

No entanto, os campeões em cirurgias plásticas no geral são os EUA, aparecendo o Brasil em segundo lugar e a Rússia em terceiro (veja a tabela abaixo). Portugal não surge neste ranking da ISAPS, não existindo dados específicos quanto ao volume de cirurgias plásticas realizadas em território luso.

Total de procedimentos cirúrgicos, “Estudo Internaiconal sobre procedimentos estéticos / cosméticos realizados em 2016”, realizado pela ISPAS.

A cirurgiã Luísa Magalhães Ramos justifica este aumento da procura, seja por motivos estéticos ou de saúde, com a evolução da sociedade, mais propriamente quanto ao papel feminino: “A evolução do papel da mulher aliada à liberdade de comunicação levaram a que a discussão de temas relacionados com a intimidade seja encarado com mais naturalidade. A preocupação com a aparência do órgão genital sempre existiu, mas nos últimos dez anos, deu-se uma explosão na procura deste tipo de intervenções”.

Percorra a galeria de imagens acima para (re)ver quais os motivos que levam as mulheres a procurar intervenções cirúrgicas íntimas.

[Imagem de destaque: Shutterstock]

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