Claudia Vieira: “Casar neste formato era entregar toda a minha vida”

Claudia Vieira
Lisboa, 04/09/2020 - Decorreu hoje no Pestana Palace Hotel a apresentação do novo programa da SIC "O Noivo É Que Sabe" com a presença de Claudia Vieira que apresenta o programa (Orlando Almeida / Global Imagens)

Nove meses depois de ter sido mãe pela segunda vez, Cláudia Vieira está de regresso à televisão com o programa O Noivo É Que Sabe. Na SIC, aos domingos, a apresentadora – que não sonha em casar-se, nem se sente impelida para isso devido ao formato por entregar a vida pessoal de bandeja – coloca os noivos a surpreender as noivas num dos dias mais importantes para a vida de muitos casais. Entre histórias de amor, possíveis casamentos homossexuais e situações limite, Cláudia diz-se entre a terapeuta e a psicóloga.

Numa luta de audiências que tem vindo a ganhar, Cláudia vai ser posta frente a frente com o ex-companheiro, este domingo à noite, 6 de setembro. Ela na SIC, ele na TVI e a filha de ambos já escolheu, diz a mãe, o canal que vai ver. Apesar de não haver rivalidades, a apresentadora quer, claro, ganhar.

Uma entrevista ao Delas.pt em que a apresentadora revela como foi regressar ao trabalho sete meses depois de ter sido mãe: as confrontações, a amamentação, as noites fora em trabalho. Uma conversa que passa também pela dureza de uma cesariana, da prematuridade, de um exílio forçado com uma bebé de semanas em tempo de quarentena, o apoio do companheiro e de como se lutou para jamais tocar numa depressão pós-parto.

[Fotografia: Orlando Almeida/Global Imagens]

Esperava estes resultados de audiências em O Noivo é Que Sabe [estreou a liderar com perto de um milhão e 400 mil espectadores]?

Estava à espera que houvesse uma curiosidade grande sobre o nosso programa. É um formato internacional que tem muito sucesso, feito de forma muito diferente de cá e não tem diários. Fiquei agradavelmente surpreendida. Soube-me muito bem acordar no dia seguinte e ver a quantidade de comentários que me chegaram, soube-me pela vida. Por mais que não queiramos entrar nas guerras televisivas dos canais, por mais que nos queiramos distanciar e de termos ser profissionais independentemente do público que nos está assistir, temos de dar a nossa entrega total e fazer o melhor que é possível. Também não gosto que recaia sobre quem conduz um programa ou quem faz uma novela esse peso das audiências. Mas, na verdade, trabalhamos para o público ver e se tivermos muitas pessoas a ver, sabe pela vida, é o melhor dos dos mundos.

Crê que os resultados se vão segurar assim?

Há margem para continuar. Embora estejamos a falar de casais apaixonados e que vão casar-se, são histórias de amor reais, não são pessoas que se conheceram no programa. Mostramos casais que desejavam dar este passo e só estavam à espera do momento certo ou circunstâncias ideais e, por alguma forma, achavam que casar num programa de televisão fazia sentido. Houve quem pusesse o amor à prova: uns inscrevem para por o noivo à prova, outras elas sugerem e eles agarram a oportunidade.

Vai passar a digladiar-se com Pedro Teixeira, seu ex-companheiro, este domingo, 6 de setembro, à noite [Ele vai conduzir o concurso da TVI Mental Samurai até à estreia do Big Brother, a 13 de setembro]. Como está lidar com isto?

Tranquilíssimo. Na estreia de O Noivo É Que Sabe estava diante de um especial da novela, que é a que o Pedro faz, agora, este domingo vamos ter o Mental Samurai, que é o programa do Pedro. Eu tenho o meu, ele tem o dele, somos profissionais, temos uma filha em comum [Maria, 9 anos], temos uma boa relação, fico feliz se eu ganhar. Mas não estou em competição direta, não vejo dessa forma, nem nunca o verei. Nem mesmo contra ouro colega qualquer. Não tenho essa forma de estar em televisão. Não acho que estejamos uns contra os outros, somos todos colegas e profissionais, nesta área, cada um no canal que está a vestir a camisola pelo canal que representa e eu sinto-me muito orgulhosa em representar a SIC e estar como Noivo é Que Sabe aos domingos à noite, fazendo o melhor possível.

Conversaram sobre isso?

Ambos somos muito apaixonados pelo que fazemos. Ambos temos uma entrega gigante e ambos gostamos de ganhar. Agora, não estamos um contra o outro.

“A nossa filha [Maria] estará a ver a SIC. O Pedro que me desculpe, mas não tem qualquer hipótese”

Chega a domingo e, para a vossa filha Maria, onde é que a televisão vai estar sintonizada?

Óbvio, na SIC. A nossa filha estará a ver a SIC (risos). O Pedro que me desculpe, mas não tem qualquer hipótese. É a opção da filha. Não a questionei, nem ela sabe que pai e mãe vão ter programas no mesmo horário em diferentes casais, mas quando digo isto é porque, quando foi a estreia, ela estava com o pai na Madeira de férias eu perguntei-lhe se ela viu. Ela disse que viu um bocadinho. Na terça-feira, 1 de setembro, quando chegámos da escola, quis ver e gostou e vai querer ver no domingo. Não opinou muito sobre a minha prestação, mas sei que ela vê a mãe como uma ‘profissionalona’. Do programa, ficou muito curiosa com alguns aspetos e de alguns noivos, se podia um dia conhecer alguns noivos.

Há histórias de romance no limite: se ele falhar…

Há. Há situações de noivas que assumem que se o noivo se esquecer de um pormenor ou de um convite a uma determinada pessoa, não querem casar-se. São relações e como em todas existem caprichos, pormenores, detalhes que fazem a diferença. E para aquelas pessoas para quem aquele dia é tão importante, às vezes não há desculpas. Há situações de noivas no limite, num ponto vertiginoso até ao dia do casamento.

Pô-la no papel de terapeuta?

No papel de terapeuta, de psicóloga. O formato tem um lado sociológico que me entusiasmou imenso. Quando recebi o convite para o fazer não achei que ficasse tão entusiasmada porque eu não casei, o casamento não me é uma coisa tão necessária e tão especial e, de repente, aqui estou com pessoas que acham que é o dia especial – e é – o ponto alto na vida do casal. Para muitas das nossas noivas era um sonho de pequeninas. Por um lado, vamos ao encontro da realização do sonho daquelas pessoas, mas este é um programa que está muito na mãos e ao sabor do rumo dos noivos. Quando recebi o convite, não achei que fosse um formato que me dissesse muito, mas rapidamente mudei de opinião.

[Fotografia: Orlando Almeida / Global Imagens]

Pensou em não o fazer?

Não, em momento algum. O que tinha falado com Daniel [Oliveira, diretor de Entretenimento e Ficção da SIC] era a vontade de estar em contacto com apresentação, de fazer televisão não através da ficção, mas da apresentação. Por isso, tínhamos falado e alinhado um outro projeto que a pandemia não permitiu.

Qual?

Não vou falar sobre ele enquanto não se avançar. Mas quando o Daniel me convida e me pergunta se estou preparada para voltar a trabalhar e me sugere este formato, não me identifiquei de imediato com ele, mas achei que seria um desafio interessante para mim, mas em momento algum ponderei não o fazer.

O programa está a fazê-la reconsiderar a ideia do casamento?

Muitas vezes aquelas provas e aquele momento é tão especial e tão fascinante que me envolve e me emociona, mas sempre fui assim. Embora não deseje o casamento para mim, quando vou a determinados fico fascinada.

“Não me identifiquei de imediato com o formato, mas achei que seria um desafio interessante para mim”

É o lado de princesa que palpita?

Nem tão. A parte aos vestidos e é a que mais desvalorizo mais por tantas vezes ter usado vestidos de noivas. A ficção tirou-me um bocadinho a magia do vestido de noiva. O desejo de me vestir assim e de me sentir princesa não o sinto na realidade. Agora, a parte de testemunhar perante todos os amigos e familiares um para o outro e para si próprio o amor que sentem é algo que me entusiasma e fascina.

“A ficção tirou-me um bocadinho a magia do vestido de noiva”

Está a mudar de opinião?

Não (risos). Mexe comigo no momento, mas depois…

Via-se a participar num programa destes?

Não, porque tenho de balancear muito a minha exposição e como já é tanta… Exponho muita coisa da minha vida, mesmo pessoal e privada, mas ponho sempre uma baliza e questiono sempre. Nesta área de trabalho tão exposto e a entrarmos nas casas das pessoas quebram-se, às vezes, fronteiras que não devem ser rompidas. Casar neste formato era entregar toda a minha vida, estavam todos os meus amigos, todos os meus familiares, todos expostos.

E o João, participaria?
Não falámos sobre isso. Mas se me perguntam se eu confiava nele para preparar, resolver e fazer, eu diria de olhos fechados: completamente! Ele tem uma capacidade de organização muito superior à minha, tem muito bom gosto e não tenho qualquer agilidade para fazer convites, por as pessoas sentadinhas…

“Se me perguntam se eu confiava no João para preparar o casamento, resolver e fazer, eu diria de olhos fechados: completamente!”

Ele sabe o que a Cláudia quereria num dia de casamento?

Não porque nunca falámos sobre isso, nunca esteve em equação. Eu própria nem analiso o que gostaria. Mas pôr tudo nas mãos do noivo, sei que correria bem. Se eu o faria, não pela vida que tenho.

Nova edição de O Noivo É que Sabe para breve?

Não, mas acho que sim (risos). Não está assumido que vá haver nova edição, mas acho que o formato, com o devido distanciamento e não logo de seguida, receberia inscrições de casais apaixonados.

Que reações tem recebido na rua?

Quem me conhece diz que estou a ser muito eu. Fui sentindo, em determinados momentos, que eu estava a ouvir aquelas pessoas como se as câmaras não estivessem ligadas. Desde o primeiro minuto que se soube que o formato vinha para Portugal, houve amigos que disseram que iam inscrever-se (risos). E poder estar no meio com os meus amigos, era genial.

Houve também outras reações que apontam para uma falta de ritmo do programa. Como responde?

Não sou entendida nessa parte da edição. Sou um bocadinho contra os excessos das repetições, de determinadas situações, e acho que aqui voltámos a ter um bocadinho isso, mas de forma pontual. Mas não considerei, de todo, falta de ritmo, as repetições eram chave para desenvolver mais tarde. Houve pessoas que comentaram que ficou confuso por serem vários casais num único programa. Mas essa confusão só esteve na estreia. .

Regressou depois de ter sido mãe de Cateana, com nove meses. Como foi esta gestão?

Foram muitas deslocações. Foi um bocadinho drástico. Vivemos todo este momento de pandemia e que nos colocou em casa, eu com a minha bebé e a minha filha. De repente, passei a andar na estrada ao rumo, mesmo muito ao rumo dos noivos. Houve umas quantas noites fora de casa, fizemos uma gestão de não ter um limite de dias de não estar afastada e depois saia-me do pelo quando, muitas vezes por opção minha, acordava a meio da noite e de manhã cedo tinha de arrancar. Em vez de dormir sete horas, dormir às vezes quatro… Foi puxado, foi exigente, mas tenho muita ajuda, felizmente, e o João também se sente superconfortável em ficar com a bebé.

Estava a amamentar? Conseguiu manter no regresso ao trabalho, de resto uma confrontação muito comum para as mulheres.

Quando o Daniel me convidou para fazer o programa, estava a amamentar, mas já estava a reduzir. A Caetana não mamava diretamente, foi sempre assim até por ser prematura. Em julho, quando comecei a gravar o programa, comecei a reduzir. E deixei. Foi uma decisão tranquila. Por um lado, estava muito cansada porque tirar leite com bomba não é, de todo, simpático. Por outro lado, quando houve o motivo para deixar, por ter de ir trabalhar, senti que estava justificado.

A confrontação...

Eu nem tinha aquela paranoia de tentar dar de mamar um ano, queria dar o máximo tempo que fosse possível dentro do bem-estar do bebé e do meu bem-estar. Mas foi tranquilo

Foi mãe no início dos 30 e dos 40. Que diferenças entre uma primeira e uma segunda gravidez?

Não só há pelas diferenças de idade com que fui mãe como os momentos de vida e da minha vida. Na altura da Maria, fiz o primeiro Ídolos grávida e o segundo com a Maria com um mês e meio de vida, dei de mamar até aos seis. Levei-a quase sempre para estúdio. A Maria conseguia acompanhar-me muito, levava uma pessoa para me ajudar. Não fiz isso durante muito tempo porque achei que estava a sujeitá-la a muitos ambientes. Com a Caetana não fiz isso, de todo. Já a levei para o Norte porque a família dele é de lá é e, por dois dias, ficou com a avó, mas não houve nenhum dia que não a visse.

“Na cesariana da primeira filha, não tive consciência da violência que foi. Agora tive”

Em termos de maternidade e como mulher, o que distingue?

Há muitas diferenças. As duas nasceram de cesariana. Na cesariana da primeira filha, não tive consciência da violência que foi. Agora tive. O quanto nos cortam tecidos, o quanto provoca aquele mal-estar. A Caetana parecia que estava dentro de mim coladinha, parece que foi puxada. Este segundo parto foi muito mais duro, embora muito rápido. Vivi toda a maternidade de Maria com uma leveza que não a vivi desta vez, embora não tenha sido dramática em momento algum.

E porquê?

Não sei se angustiada é o termo certo, estava mais informada. Sempre soube que a Maria ia nascer de cesariana porque estava sentada. A Caetana tinha virado, estava ótima, achei mesmo que ia ter a experiência de um parto natural, estava totalmente mentalizada. Poderia ser mais cedo, não achei que fosse tão mais cedo, fizemos todo aquele trabalho de maturação pulmonar. Foi mais cedo, com 35 semanas, e isso angustiou-me um bocadinho, li mais sobre o que é a cesariana. Com a Maria, na altura, não li nada, não vi nada, senti-me fisicamente muito bem. Desta vez tive mais dores.

E que outras diferenças notou?

Senti menos energia. Mas devo dizer que não consigo distinguir se é por ter sido mãe mais velha ou se por ter sido mãe e viver uma quarentena. Mas foi mais duro, foi mais exigente. Após 40 dias da Maria nascer eu estava enfiada num ginásio e fazia a minha vida toda igual, voltei a ser Cláudia antes de ser mãe com a diferença de que as noites eram um bocadinho mais intervalados. Agora, com a Caetana, sendo uma bebé superfácil, não me posso queixar. Sofreu muito de cólicas na quarentena e foi tramado isso, o choro, enfiada em casa, e eu sou de rua, de estar rodeada de pessoas. Foi tudo o que não aconteceu. A nível de energia, senti que não foi aquela que me caracterizava, a minha leveza não estava existir como existiu sempre, mas não consigo distinguir. Se tiver um terceiro e que tal não aconteça numa quarentena, talvez venha a saber (sorriso).

Está a pensar nisso?

Não. Não (risos)

[Fotografia: Orlando Almeida/Global Imagens]

Tendo em conta o que estava a explicar de uma gravidez e um parto complexos, uma quarentena, temeu tocar a uma depressão pós-parto?

Não porque sou muito atenta. Senti-me a viver um momento confuso, mas a querer por a minha energia e a minha forma otimista de ser acima disso. Eu própria estava a puxar por mim e o João estava lá comigo. Estabeleci linhas de limite para mim, fui fazendo exercício e acho que não se aproximou disso. Não temi uma depressão pós-parto até porque já acompanhei uma outra amiga que teve e sei que estava um nível bem diferente do meu. Mas não foi fácil.

Que cuidados teve?

Tive de ter cuidados. Tenho dois cães que me obrigavam a ir à rua e esse era o meu grande escape. Isso puxou-me para sítios aos quais eu queria muito ir e que, mesmo que por pouco tempo e a precisar de mais, já era suficiente para gestão do meu bem-estar.