7 dicas para viajar sozinha em segurança

São já muitos os livros e os filmes que mostram mulheres a viajar sozinhas.O mais recente título do género (se existir) de literatura de viagens no feminino foi ‘Comer, orar e amar’, o livro de Elizabeth Gilbert, transformado mais tarde em filme, que mostra como um nova-iorquina viaja por três países num caminho de autoconhecimento.

As viagens fazem-nos isso: dão-nos mundo e mundo interior. E as mais intensas são as que fazemos sozinhas, sem distrações, pondo-nos à prova umas vezes mas outras possibilitando-nos desfrutar do percurso e do destino de uma forma ímpar. Literalmente, ímpar.

Mas tão importante como o percurso é fazê-lo em segurança. As nossas entrevistadas explicam como palmilhar o mundo, mas tendo por base as suas experiências pessoais. O que vale por mil películas. E não perca a síntese dos conselhos que deve ter em conta, na nossa galeria.


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Maria Seromenho, 40 anos, ficou sem companheira de férias subitamente, em setembro de 2002. “Tínhamos planeado passar duas semanas em Marrocos, que não era destino onde uma mulher se aventurasse sozinha.” Era muito jovem e tinha pouca experiência como viajante, pelo que mudou a rota e partiu à descoberta de Itália “Pareceu-me mais seguro e sempre tinha os museus e a arquitetura com que me entreter”.

Ao contrário do que pensava passou pouco tempo sozinha. Como pernoitava em hostels (daqueles manhosos e não os de charme que estão agora na moda) e cozinhava lá os jantares, acabou por ter sempre companhia para desvendar os Ticianos e os Miguel Ângelos da vida.

“Não vivi nenhuma epifania – penso que o norte de África teria maior impacto –, mas andei de queixo caído metade da viagem perante a grandiosidade de cidades como Roma, Florença, Siena e Veneza, de galerias de arte como a Uffizi ou de igrejas como a bizantina Santa Maria na Piazza San Marco”.

Também aprendeu algumas regras de segurança: “Na primeira noite saí com um grupo que prolongou a farra até de madrugada; quando decidi voltar mais cedo ao hostel quase não consegui dar com o caminho – o vinho italiano é fatal e eu tinha chegado naquele dia. Foi um susto e tanto. A partir daí passei a planear melhor as noitadas”.

Ao final de duas semanas de mochila às costas e sem reservas de hotel em qualquer das cidades que visitou aprendeu, sobretudo, a desenrascar-se e adaptar-se ao meio – pelo que terminada a aventura o termómetro da autoestima subiu em flecha.

“Evitava riscos desnecessários como não ter onde dormir (ninguém usava a Internet para o efeito na altura). Chegava cedo à cidade, marcava hotel por telefone e partia à descoberta, já livre da mochila que pesava quase o mesmo que eu. Também apanhava os transportes muito cedo, porque em Itália nada partia nem chegava no horário previsto”.

Fez amigos para a vida e aprendeu que apesar dos 45 quilos distribuídos por metro e meio de altura era capaz de sobreviver num país onde o inglês e francês e mesmo o espanhol eram línguas reconhecidas, mas incompreendidas. Viria a tornar-se repórter de viagens.

Joana Mateus, 37 anos, sempre sofreu de fobias. A certa altura deixou de andar em transportes públicos, frequentar cafés ou discotecas. Até chegou a pensar que lavar o cabelo seria o pior que lhe poderia acontecer na vida, entre os vários medos que a assolavam. Fez terapia, melhorou, viajou para continentes diversos, mas sempre com a segurança de um contrato de trabalho e condições de estadia previamente estabelecidas. Regressava a casa satisfeita com a aventura… controlada. Até que em 2012, a designer gráfica resolveu arriscar novas oportunidades de emprego na América Latina sem nada definido; afinal tudo o que não podia prever era exatamente o que mais a amedrontrava e impedia de levar uma vida dita socialmente normal, e algo teria que mudar.

“Investiguei o que me poderia acontecer e constatei que, fosse homem ou mulher, seria presa fácil, se não tivesse cuidados básicos, como procurar hostels com boas referências”, conta. “Sim, uma mulher pode ser violada, mas um homem também é assaltado e espancado – os tipos de violência por vezes são distintos, mas aplicam-se aos dois géneros. É uma questão de ter cuidado”.

Em São Paulo, Brasil, acrescentou alguns básicos: “Usei sempre a minha malinha de tiracolo do lado oposto à estrada para evitar roubos por esticão e apenas levava comigo cópias dos documentos de identificação originais, que deixava nos hotéis”, conta. Os cartões de crédito também ficavam no cofre mas, confessa, nunca conseguiu sair à noite. “O que me parece hoje em dia estúpido, pois as minhas companheiras do hostel nunca tiveram problemas de maior – apenas circulavam de táxi durante a noite por precaução”.

Na Argentina e Venezuela fez o mesmo e não houve percalço que a fizesse duvidar do propósito da odisseia: libertar-se dos medos pequenos quando existem outros no mundo maiores que o próprio. Após seis meses de viagem em camionetas na companhia de galinhas e outros bichos que não consegue denominar regressou por não se identificar com a cultura dos países por onde passou. Mas a experiência tornou-a mais forte: “Ultrapassei barreiras até aí para mim impossíveis”, garante. A experiência resultou e a sua farta, limpa e bela cabeleira escura confirmam-no.

Deva Amin, 46 anos, sempre viajou regularmente com os pais numa altura em que andar de avião era mais excitante que assistir à Guerra das Estrelas. Formou-se em psicologia, montou consultório em Lisboa, mas pouco antes de completar 30 anos pensou que a vida não poderia resumir-se ao trabalho e eventuais noites de diversão. Foi então que levantou as suas economias e partiu para a Índia.

“Comecei o percurso por curiosidade em Goa, onde tinha conhecidos, mas logo me desloquei para Poona, que não é propriamente um local bonito, mas dá-nos acesso a muitos retiros espirituais ao nível do yoga e meditação”, conta. Foi aí que parte da sua vida se transformou: tornou-se facilitadora de meditações ativas do guru indiano Osho.

“Nunca me senti em perigo enquanto caminhava nas ruas a que hora fosse”, diz “embora os indianos reparem por exemplo se não tivermos os ombros cobertos”. Logo que o percebeu passou a usar écharpes. “Nós é que temos que nos adaptar à cultura que visitamos e não o inverso”, relembra. Já nas regiões costeiras e mais turísticas não se recorda de qualquer tipo de precaução extra, à excepção de evitar bairros problemáticos como em qualquer idade do dito primeiro mundo.

Antes de regressar a Portugal, Deva decidiu partir à descoberta do sul da Índia e acabou por aí conhecer o amor da sua vida, um australiano também em busca de si mesmo, que acabou por se formar em massagem ayurvédica. Apaixonados, viveram em Portugal por um par de anos e acabaram por se radicar em Inglaterra, onde ele faleceu num acidente de automóvel. Ela optou por criar raízes na Austrália, onde ainda hoje vive. Os medos, esses, garante, “estão na maioria das vezes na nossa cabeça”.