Como controlar o peso e a obesidade nos animais de estimação

A médica veterinária Catarina Mendes está a implementar o Programa de Perda e Controlo de Peso da Royal Canin em 150 clínicas e hospitais veterinários de Portugal. O programa consiste na disponibilização de materiais informativos e formativos para veterinários e tutores (vulgos donos), para o tratamento e acompanhamento dos animais de estimação, sobretudo cães e gatos, com excesso de peso. A obesidade nos animais provoca diferentes problemas de saúde, que vão desde doenças cardiorrespiratórias a diabetes, passando por uma redução da imunidade do organismo. No verão, há cuidados especiais a ter na alimentação dos pequenos patudos, sobretudo devido à maior necessidade de hidratação provocada pelo calor. “Para fomentar o consumo de água em dias de calor é recomendado um regime alimentar misto, em que para além do alimento seco, o animal consuma alimento húmido, que tem um elevado teor em água e é muito palatável, estimulando a sua ingestão voluntária”, exemplifica a veterinária de 37 anos. Em entrevista ao Delas.pt, a especialista explica outros fatores a seguir para manter o animal de estimação com um peso equilibrado, não só no verão, mas todo o ano.

Natural de Lisboa., Catarina Mendes é médica veterinária e formadora da Royal Canin, onde está responsável pelo Programa de Perda e Controlo de Peso. [Fotografia: DR]
Quais são as principais causas do excesso de peso nos animais?
A principal causa do excesso de peso é o desequilíbrio energético provocado por uma ingestão calórica excessiva face a um gasto calórico insuficiente. O excesso de snacks para compensar a ausência dos tutores, por exemplo, é algo que pode levar ao excesso de peso do animal, bem como o estilo de vida sedentário do animal. No caso do cão, os passeios diários são essenciais, e no caso do gato é muito importante incentivar a atividade através de brinquedos ou da colocação do alimento em locais altos, por exemplo. Também há fatores de risco associados ao excesso de peso, como certas doenças ou medicamentos que podem contribuir para este problema e que devem sempre ser descartados pelo médico veterinário.

Que problemas de saúde podem advir do excesso de peso?
Há várias doenças que estão relacionadas com o excesso de peso: a doença osteoarticular, doenças cardiorrespiratórias, diabetes mellitus, doenças cutâneas, doenças do trato urinário, entre outras. Os animais também sofrem uma redução de imunidade o que os predispõe a doenças infecciosas. Para além disto, a gordura exerce pressão sobre diversos órgãos, como os pulmões e o coração, o que conduz a uma intolerância ao exercício. Estes animais também estão mais sujeitos a complicações cirúrgicas e o risco anestésico é superior. Por fim, a esperança de vida dos animais com excesso de peso é menor (em média, 2 anos) do que a dos animais no seu peso ideal. A boa notícia é que assim que começam a perder peso, também começam a recuperar a energia, a saúde e o potencial de longevidade. Nestes casos é muito importante atuar precocemente e seguir o tratamento à risca.

Há diferenças consoante se o animal for cão ou for gato?
As diferenças que observamos estão relacionadas com os fatores de risco. Por exemplo, no cão, as doenças endócrinas são um fator de risco comum mas não no gato. Mas um gato obeso, por exemplo, tem cerca de 4 vezes mais probabilidade de se tornar diabético – muito à semelhança daquilo que se observa nas pessoas. Nos cães há maior probabilidade de terem excesso de peso se forem o único animal em casa, já no caso dos gatos a probabilidade é maior se houver mais do que um animal.

Que regras básicas ou procedimentos devem os donos adotar para o evitar?
A regra básica é selecionar um alimento adequado à fase da vida do animal e estado fisiológico e controlar e pesar as doses desde o momento do desmame. Os snacks podem existir, mas devem ser incluídos na contabilização de alimento ingerido diariamente pelo animal de estimação.

Os animais devem comer sempre a mesma ração ou variar?
Ao contrário do ser humano, que dá valor à variedade na sua alimentação, os animais não têm a necessidade de variar. O importante é que seja um alimento nutricionalmente equilibrado e completo e que supra as necessidades particulares de cada animal. Se essa variedade é um preocupação do tutor, adotar um estilo alimentar mixfeeding, ou seja, misto (que inclui o intercalar de alimento seco e alimento húmido) pode dar ao animal mais diversidade de aromas, sabores e texturas ao gato ou ao cão.

Podem comer a comida dos donos?
Os animais podem comer comida caseira, desde que corretamente formulada e suplementada para as suas necessidades, mas esta formulação deve ser sempre orientada por um nutricionista veterinário. A comida dos tutores não estará corretamente formulada para o animal de estimação e pode, inclusivamente, conter ingredientes que podem ser prejudiciais ou mesmo tóxicos para o animal, como a cebola e o alho ou sofrer de subnutrição nalgum nutriente específico.

O que se pode fazer para combater o sedentarismo, sobretudo com os animais que não saem de casa, como os gatos, ou em alturas do ano menos propensas a atividades ao ar livre?
No caso dos gatos, o enriquecimento ambiental é fundamental para fomentar a atividade física. O gato deve ter zonas de brincar, para se esconder, para ficar a observar, zonas de descanso, de alimentação e de eliminação. Também deve ser incentivado a brincadeira com os seus tutores. Muitas vezes o gato mia porque solicita atenção e os seus tutores pensam logo que tem fome, recompensando sempre esse comportamento com alimento. Há que ser imaginativo e fomentar a brincadeira e atividades lúdicas dentro de casa (como os jogos de obediência, por exemplo), tanto em gatos como em cães, nos dias em que não apetece tanto passear lá fora.

A alimentação deve mudar no verão?
O alimento deve ser adequado à idade e estado fisiológico do animal. Só se o nível de atividade se alterar muito no verão é que as necessidades podem ser diferentes e poderá fazer sentido alterar a dose de alimento. Devemos no verão, alimentar os animais de estimação em períodos do dia mais frescos e com um alimento que seja de elevada digestibilidade. Há que ter em atenção se têm sempre acesso a água limpa e fresca. Para fomentar o consumo de água em dias de calor é recomendado um regime alimentar misto (mixfeeding), em que para além do alimento seco, o animal consuma alimento húmido, que tem um elevado teor em água e é muito palatável, estimulando a sua ingestão voluntária. Esta estratégia é altamente benéfica sobretudo para gatos e cães de raça pequena, pois promove a saúde dos seus sensíveis tratos urinários. (Na galeria, em cima, veja os cuidados básicos que deve ter com os animais, em épocas de calor).

Em que consiste este programa de perda e controlo de peso da Royal Canin?
O programa consiste em fornecer às equipas veterinárias materiais que lhes permitam facilitar o tratamento e acompanhamento dos animais de estimação com excesso de peso e ferramentas que sejam eficazes na sensibilização dos tutores para o problema crescente que é a obesidade. No âmbito deste programa, estão disponíveis para as clínicas, materiais de comunicação, como posters, alusivos ao excesso de peso e obesidade e que visam sensibilizar o tutor enquanto aguarda na sala de espera. Temos também um material, ao qual chamamos de felpudo, onde os tutores tentam sentir as costelas e verificam que na condição ideal sentimos as costelas sem dificuldade, o que não acontece quando o animal tem excesso de peso ou é obeso. Para facilitar o recrutamento de casos, temos também um brinde para estes tutores e um cartão de fidelidade que facilita a aquisição do alimento. Para as equipas veterinárias, temos uma plataforma de apoio ao programa, onde podem aceder a artigos, cursos e webinares para aprofundarem os seus conhecimentos sobre este tema. Existe ainda uma ferramenta on-line que se chama Vet Follow Up, onde podem colocar os seus casos e que auxilia nos cálculo de doses e acompanhamento ao longo do programa.

Como se interessou por esta área da nutrição, dentro da medicina veterinária?
Ainda enquanto estudante percebi que a nutrição era uma ferramenta muito poderosa no tratamento de inúmeras doenças. Os animais têm de se alimentar e se pudermos tratá-los com alimentação e não houver necessidade de lhes fornecer medicamentos, tanto melhor!

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