A condição feminina faz mal à coluna

Sedentarismo, falta de atividade física ou posturas físicas erradas são predominantes nas mulheres. Será que é por isso que as mulheres sofrem mais cirurgias à coluna do que os homens? “Mais de metade (52%) dos portugueses operados à coluna no Serviço Nacional de Saúde são indivíduos em idade ativa e a maioria são mulheres (55%)”.

Estes dados encontram-se num estudo promovido por várias sociedades médicas – a Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia, a Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral e a Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia – e divulgados segunda-feira, 16 de outubro, Dia Mundial da Coluna.

O objetivo do estudo é compreender “quem são os doentes, de onde são, quais as patologias alvo destas cirurgias, que tipo de abordagens cirúrgicas são realizadas e como tem sido a evolução dessa atividade em Portugal, são algumas das questões que vão encontrar resposta nesta investigação”, refere o comunicado da SPN, citado pela agência Lusa.

Em entrevista ao Diário da Manhã, na TVI, o presidente da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral, Manuel Tavares de Matos, desvalorizou uma maior representatividade das mulheres entre os pacientes operados à coluna, ressalvando que os dados do estudo apresentados são relativos “apenas a 2015 e apenas a doentes operados no Sistema Nacional de Saúde, portanto não entram em linha de conta os doentes operados nos hospitais privados.”

Ainda assim, o especialista nota comportamentos recorrentes e nocivos que agravam o problema. São vários os estudos que concorrem para mostrar que os problemas de coluna das mulheres são também resultantes do estilo de vida e dos papéis assumidos. Por exemplo:

  • Segundo a Fundação Portuguesa de Cardiologia, o sedentarismo é maior entre as mulheres do que nos homens: elas praticam menos exercício físico (apenas 44%) e eles (56%) mais.
  • Essa tendência para não se mexerem está presente desde cedo com as raparigas portuguesas a serrem as mais inativas da Europa,
  • As mulheres desempenham, sobretudo, profissões nos setores do comércio e serviços, onde passam elevado número de horas na mesma posição (sentada ou em pé) sem utilizar corretamente a musculatura lombar e abdominal
  • Quando chegam a casa passam, em média, 4h17m por dia a realizar tarefas domésticas e de apoio à família, o que implica muitas vezes o levantamento de carga ou peso excessivo. Sacos de compras e filhos ao colo juntam-se aos pesos que a coluna vai acumulando no corpo feminino.

Consequências económicas

As dores frequentes que a falta de tratamento dos problemas de coluna podem provocar não são apenas um incómodo para quem sofre com elas diariamente. As consequências na qualidade de vida dos doentes manifestam-se negativamente no desempenho das atividades quotidianas.

Manuel Tavares de Matos refere, citado pela agência Lusa, que os pacientes com problemas de coluna que não sejam tratados “representam visitas frequentes aos hospitais, absentismo laboral ou até reformas antecipadas, com consequentes implicações não só na sua saúde mas também na produtividade e na economia do país”.

“Ao tratarmos os problemas da coluna de forma cirúrgica nos doentes que para tal tenham indicação, estamos a promover uma recuperação mais rápida e a resolução do seu problema inicial”, defende.

Os dados do estudo contemplam as cirurgias à coluna – artrodeses, artroplastias, descompressões, discectomias, fixações dinâmicas, vertebroplastias e cifoplastias – realizadas em hospitais do SNS.