Confinamento: este é o principal problema dos casais entre quatro paredes

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[Fotografia: pexels/ Emma Bauso]

Depois do primeiro confinamento, em que todos nós estivemos mais de dois meses fechados em casa devido à pandemia causada pela Covid-19, ninguém quer ter de chegar a uma segunda dose do mesmo prato. Principalmente os casais, que se dividiram entre divórcios e paixões assolapadas.

Ainda que o Governo não preveja um confinamento total como aquele que vivemos em março, sabemos que é dever cívico de todos nós ficarmos mais por casa. Com o teletrabalho a voltar a ser obrigatório, sempre que possível, na maioria do país, os casais veem-se novamente confrontados com a realidade de estarem 24 sobre 24 horas no mesmo espaço.

Se muito se falou que a quarentena trouxe ao de cima muitos problemas de vários casais que, por sua vez, acabaram por se divorciar, também é verdade que tanto tempo juntos voltou a reacender algumas paixões cuja chama se havia extinguido.

E se houver um segundo confinamento, como o poderemos encarar? A sexóloga Susana Dias Ramos explicou o seu ponto de vista ao Delas.pt. Em primeiro lugar, há que entender que “o problema não é as pessoas estarem muito tempo juntas mas sim saber como é que se comportam nesse tempo em conjunto”, começa por retratar a sexóloga.

Estar em casa: o problema do relaxamento

Sabemos que mais tempo por casa significa também mais dias em que o pijama não sai do corpo. Aliás, as várias marcas de roupa aperceberam-se desta nova realidade e começaram a lançar coleções cada vez mais confortáveis e desportivas, precisamente para que possa estar em casa vestida de forma confortável e, mesmo assim, em grande estilo. Mas então e se esse for o problema?

“Nós quando estamos muito tempo em casa e não temos necessidade de sair e de não ser vistos pelos outros, temos tendência a relaxar e a deixar de nos arranjar. E ninguém gosta de olhar para outra pessoa que não está arranjada”, começa por refletir a psicóloga.

Em suma, sejamos sinceras, ninguém gosta de estar ao lado de alguém que não lava o cabelo há três dias, usa o pijama durante uma semana inteira e tem papos até ao queixo. Ainda que saibamos que devemos gostar de alguém independentemente da sua roupa ou maquilhagem, sabemos que o desejo sexual, por exemplo, dificilmente nasce nestes moldes. E este é o principalmente problema de passar muito tempo em casa, segundo Susana Dias Ramos.

Vestimo-nos bem só para sair de casa

“Eu costumo dar muitas vezes o exemplo das mulheres muçulmanas. As mulheres arranjam-se para os maridos e não para ir à rua, porque elas normalmente estão tapadas. Elas arranjam-se para si próprias e para a pessoa que têm em casa. Já nós, ocidentais, fazemos uma asneira enorme: arranjamo-nos para as pessoas que estão na rua e não nos arranjamos para a pessoa que temos em casa”, defende a especialista.

Que atire a primeira pedra quem não chega a casa e tira a roupa de trabalho para colocar o pijama; retira a maquilhagem a ainda apanha o cabelo num rabo de cavalo bem no alto do cocuruto. Pois bem, para Susana, este é um dos grandes erros em casal.

“O que me preocupa é, caso volte a existir um confinamento e face ao que eu vi que aconteceu no primeiro, temo que alguns destes pequenos erros tornem a acontecer”, expõe a sexóloga.

“Há coisas que minam a atração sexual e o desejo e uma delas é este ‘à vontadinha relaxado’ que nós temos quando não precisamos de sair para lado nenhum. O marasmo em que as pessoas se foram deixando é que foi prejudicial para a atração sexual, porque o confinamento em si até poderia ter sido uma pimenta numa relação, se nós a soubéssemos usar a nosso proveito e favor. O problema é que as pessoas, a maioria, se descuida”, raciocina Susana Dias Ramos, que é também comentadora do reality show Big Brother.

Segundo a mesma, vários foram os casais que conseguiram tirar proveito da quarentena para apimentar a relação, muito devido ao facto de terem mais tempo juntos; perderam o cansaço de ir e vir para o trabalho, viram mais séries juntos e “namoraram mais tempo no sofá”. No entanto, a maioria dos casais acabou por seguir um caminho que pode ter diminuído a atração entre e, por sua vez, destruído algumas relações.

Usar o confinamento a nosso favor

Se está preocupada com o facto de voltarmos a estar cada vez mais por casa, saiba que o trunfo está em saber utilizar o confinamento a nossa favor, tirando proveito do facto de o outro estar também sempre em casa. E mesmo que para quem tenha crianças seja mais complicado e tenha que haver uma agilização mais eficaz da agenda, é tudo uma questão de organização e vontade.

“O que eu vi também acontecer foi que quem tinha relações extra conjugais, deixou de as ter. Porque o confinamento obrigou a que as pessoas se separassem e quem quis conquistar de volta o parceiro, teve também a sua oportunidade. Já outros conseguiram perceber que afinal a saudade estava mais do outro lado (amante); outros aproveitaram o confinamento para discutir assuntos de há já 15 anos e, nos pratos da balança, eu acredito que os casais ficaram efetivamente a perder“.

E se houver uma segunda quarentena, como vai ser?

Para a psicóloga e sexóloga, se existir uma segunda quarentena, o cenário não deverá ser muito diferente. No entanto, a profissional acredita que as pessoas poderão estar mais atentas e em alerta desta vez e tentar não cometer os mesmos erros da primeira.

Um dos conselhos da psicóloga é que tentemos não cair na rotina do “relaxamento” e tentemos vestir uma roupa, fazer exercício físico, ler um pouco, procurando arranjar formas de nos mantermos ativos e não perdermos a vontade de simplesmente acordarmos e nos deitarmos sem que nada passe pelo meio.

O grande conselho da especialista para sobreviver a esta altura é: surpresas. “Faça surpresas, volte um pouco atrás na relação e relembre-se de como é conquistar alguém. Porque temos tendência, quando estamos há muitos anos com alguém, de achar que a temos garantida e isso é um erro. Há que voltar atrás para tentar continuar a reconquistar a pessoa”, aconselha a sexóloga.

E quando falamos em surpresas, não precisam de ser grandes e trabalhosas ideias. Por vezes, basta um bilhete de amor; uma flor roubada no jardim do lado; uns bombons num dia em que a outra pessoa está mais em baixo. Pequenos gestos podem mesmo fazer a diferença.