Confinamento: Alunos portugueses estão mais tristes do que os espanhóis e os franceses

Little kid drawing a coronavirus
[Fotografia: Istock]

Mais tristes, pais mais sobreecarregados e maior stress em casa. Estas são algumas das conclusões de um estudo português, espanhol e francês em tempo de pandemia e revela que quatro em cada dez menores engordaram neste período.

Investigadores das universidades Nova de Lisboa, Granada (Espanha) e Lille (França) e do instituto espanhol de Saúde Carlos III analisaram as rotinas e a convivência de alunos entre os 3 e os 16 anos e respetivas famílias durante o primeiro confinamento causado pela pandemia, que começou nestes três países há quase um ano. E para lá da sobrecarga dos pais, estudo olhou para os alunos e concluiu que, entre espanhóis e franceses, os portugueses estão entre os mais tristes.

O confinamento afetou o bem-estar emocional dos alunos, com 20% dos pais espanhóis e 15% franceses a revelarem que viram os seus filhos mais tristes. Em Portugal, esta evolução emocional negativa foi notada em quase 33% dos casos. O estudo revela ainda que a rotina também piorou com o confinamento em metade das casas (51%).

Através de um inquérito online no qual participaram quase 3.900 agregados familiares dos três países, o projeto ‘Covideducasa’, ainda em curso, procura conhecer o impacto do confinamento e do ensino não presencial nas famílias portuguesas, espanholas e francesas, a maioria da classe média.

A investigadora da Faculdade de Ciências Políticas e Sociologia da Universidade de Granada María Dolores Martín-Lagos disse à agência espanhola Efe que o estudo analisou a atenção das famílias aos filhos, o peso das tarefas escolares destes, o acesso à tecnologia e as orientações das famílias, com coincidências e diferenças entre países.

Entre as conclusões do estudo, Martín-Lagos destacou que a mãe desempenha um papel mais importante nas tarefas, mesmo em lares onde ambos os pais trabalharam ou estiveram em teletrabalho durante o confinamento.

A maioria dos progenitores reconheceu o planeamento correto das atividades por parte da escola, apesar de mais de 64% dos entrevistados reconhecerem ter vivenciado momentos de stress para ajudar nas tarefas. Nestes casos, 46,7% dos pais apontaram a falta de tempo para ajudar os filhos e 20% a falta de paciência, sendo que algumas famílias indicaram não possuir os conhecimentos necessários para o fazer.

“Apesar das críticas no momento do confinamento, as famílias entenderam que, embora houvesse tensão, estavam bem e todos tinham de se adaptar em conjunto” aos perigos decorrentes da pandemia, pelo que não se registou “crítica excessiva”, adiantou a investigadora.

Durante o último trimestre do último ano letivo, sem aulas presenciais nos três países, quase três em cada 10 pais viram os filhos calmos e organizados, uma percentagem um pouco mais elevada em Portugal (31%) e em França (28%) do que em Espanha (21%).

Os progenitores salientaram, ainda, “de forma generalizada, a preocupação com o excesso no uso de tecnologia, considerado um dos principais problemas pelos pais, principalmente nas casas que não tinham regras muito rígidas de horários” neste âmbito, adiantou. Segundo o estudo, 44% dos pais acreditam que os filhos utilizam muito o telemóvel e 76% dos entrevistados nos três países referem também muitas horas de videojogos, o que também aumentou durante o confinamento.

Por outro lado, o trabalho corroborou a diminuição das atividades extracurriculares após o confinamento, principalmente desportivas, que caíram quase para metade, e o agravamento dos hábitos alimentares, que fez com que quatro em cada 10 menores engordassem.

 

CB com Lusa