Conheça melhor a iniciativa inclusiva da L’Oréal que chega a todas

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A marca é internacional, mas o projeto é 100% português. A L’Oréal Paris lançou em março de 2019 o movimento ‘Beleza para Todos’ e fez o seu primeiro workshop inclusivo esta quinta-feira, 30 de maio. O Delas.pt marcou presença no evento e deparou-se com a força incrível de Ana Rita Martins. É cega, tem 25 anos e é psicóloga.

Esta iniciativa é de inclusão social, com foco nos nas pessoas com deficiência visual e deficiência auditiva e contou com várias parcerias com associações nacionais tais como a Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), a Federação Portuguesa das Associações de Surdos (FPAS) e a Associação Portuguesa de Deficientes (APD).

“Eu acho que esta iniciativa é muito importante porque, primeiro, para nós, a informação é muito menos acessível e todas nós gostamos e temos o desejo de nos maquilhar e perceber realmente como é que as coisas funcionam”, afirma Ana Rita Martins, que já está habituada a maquilhar-se sozinha.

É preciso descomplicar e arriscar

Este workshop foi realizado pela maquilhadora e youtuber Helena Coelho e pela também youtuber Alice Trewinnard. Ana Rita Martins admite que sempre teve o gosto de se maquilhar e foram as amigas, por volta dos 16 anos, quando começou a sair à noite, que a ajudaram.

Comecei com as minhas amigas porque elas também se maquilhavam e eu queria imenso fazer o mesmo. Queria aprender como era e comecei por aprender com elas. Talvez por volta dos 16 anos, quando comecei a sair à noite, comecei também a usar base e depois disso, elas também me iam ajudando em algumas coisas, como nas sombras, por exemplo, e depois eu já ia tentando fazer sozinha“, contou a jovem, que acabou recentemente o seu curso em psicologia.

Admite que a informação, para as pessoas que não conseguem ver ou têm baixa visão, é de difícil acesso e, por isso, também existe um impedimento de sequer tentar procurar por mais informação acessível. Nesse sentido, admite, é “muito importante haver estas iniciativas e certamente que este workshop aumentou a autoestima de muitas pessoas aqui presentes e que irão utilizar estas dicas, talvez não todas, mas pelo menos algumas, no seu dia a dia”, defende.

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Apanha transportes públicos sozinha e utiliza o Google Maps para lhe dizer os caminhos quando não os conhece. O seu telemóvel dita-lhe tudo o que precisa saber e o seu maior conselho para todas as pessoas é “saiam de casa”.

“Saiam de casa. Tentem experienciar as coisas porque eu acho que quanto mais nós nos fechamos em casa mais medos vamos ter”, defende a jovem, acrescentando que “nós vamos perdendo os medos à medida que também vamos testando os caminhos e, às tantas, já os conhecemos tão bem que já vamos de cor e já não precisamos de perguntar a ninguém, porque muitas vezes o problema é que as pessoas têm medo de sair de casa porque não conhecem“, remata.

O essencial, para Ana Rita Martins, é descomplicar. “É importante sair, conviver, até porque nós aprendemos sempre um bocadinho a falar com os outros”, afirma Ana, sempre com um sorriso no rosto.

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Portugal ainda não está completamente preparado para que os cegos se sintam seguros nas ruas

Perguntámos a Ana Rita Martins se, sendo ela uma jovem cega que anda muitas vezes sozinha pelos transportes e ruas, se sentia que Portugal reunia todas as condições necessárias para se sentir segura. “Não“, respondeu prontamente. E explicou o porquê: “Lisboa é exemplo disso. As pessoas ainda estacionam carros em cima dos passeios, há muita sinalização que deveria ser sonora e não é”, resume.

“Por exemplo, eu vou para uma estação de comboio e se por algum motivo o comboio muda de linha, eu muitas vezes não tenho essa informação porque não posso olhar para o ecrã”, reitera.

Ainda assim, Ana Rita Martins é otimista e acredita que o truque é “muito na lógica do não complicar e não pensar muito no que os outros pensam de nós, ou se estão a olhar para nós porque estamos de bengala. É natural, é uma coisa diferente, as pessoas não estão à espera e ficam surpreendidas”.

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Para terminar, a jovem psicóloga não pode deixar de falar sobre os preconceitos que as pessoas têm e, mais do que isso, afirmar que se sente como qualquer outra pessoa no mundo. “Os preconceitos estão apenas na cabeça das pessoas porque nós somos pessoas como outras quaisquer, com algumas limitações, sim, mas tentamos fazer o máximo todos os dias”, defende Ana.

“Beleza para todos” – a ideia que surgiu pela curiosidade, há três anos, em silêncio

Tiago Melo é o diretor de marketing da L’Oréal Paris. Com olhar orgulhoso, conta ao Delas.pt como nasceu este projeto e quais as principais dificuldades sentidas. Admitindo que a marca sempre esteve ligada à inclusão e à promoção de um mundo mais igualitário no que respeita à beleza, conta que este projeto nasceu da curiosidade.

“Foi um projeto que surgiu há três anos (…). Nós detetamos que em Portugal havia uma elevada percentagem com pessoas com deficiência visual e auditiva, são cerca de 240 mil portugueses, e nós, por termos também essa realidade nos nossos escritórios, o que fizemos foi tentar perceber como é que é a vida destas pessoas no que toca a beleza”, explicou o representante da marca.

Tendo então surgido a curiosidade, o primeiro passo foi falar com as associações portuguesas competentes, que mais tarde se viriam a tornar parceiros da L’Oréal, e tentar entender se este era ou não um problema real – o que se confirmou.

“Entendemos que sim, este era um problema e percebemos que as pessoas precisavam de muito apoio e que têm dificuldade não só em comprar mas, sobretudo, em utilizar os produtos”, continuou Tiago. O próximo passo foi tentar identificar exatamente o que precisava de ser mudado. E, assim, o projeto ganhou pernas para andar e tornou-se no “Beleza para todos”.

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“Sabíamos que precisávamos de adaptar tutorias, precisávamos de ter um website para estas pessoas, precisávamos de ter um call center que não seja apenas por voz mas também escrito, de etiquetas em braille. Isto é, resumidamente, aquilo que era necessário. E foi isto que fizemos durante três anos, em silencio, e sem ninguém se aperceber e só em março deste ano é que o anunciamos publicamente porque foi o momento em que nos sentimos seguros em afirmar que sim, hoje a L’Oréal Paris é uma marca que se pode dizer que fez da beleza algo acessível a todos”, termina então por dizer o diretor de marketing da marca.

Um projeto cheio de dificuldades, mas muito orgulho

Para Tiago Melo, existiram duas grandes dificuldades. A primeira, é o facto de estarmos “completamente fora da realidade da vida destas pessoas”, por mais que tentemos fazê-lo. A segunda, prendeu-se com a “própria adaptação das coisas”.

Quando falamos em adaptação das coisas, falamos em linguagem, que tem que ser minuciosa e precisa. Também as youtubers Helena Coelho e Alice Trewinnard admitiram, em conversa com o Delas.pt, que esta foi a maior dificuldade sentida quer para a realização dos seus tutoriais – que estão disponíveis na plataforma da L’Oréal – como no decorrer do próprio workshop.

“Repara, quando eu digo ‘vamos colocar nas olheiras…’ e as pessoas não sabem o que são as olheiras, e quem diz isto diz o côncavo ou as maçãs do rosto, é uma dificuldade. Eu vou ter que adaptar completamente a minha linguagem e começar por explicar todos os cantinhos do rosto parar que elas se conheçam o melhor possível e consigam fazer a maquilhagem”, explica a maquilhadora Helena Coelho, acrescentando que “algo que para nós parece simples e basta olharmos para sabermos, para elas têm que tocar. Portanto, para mim, a maior dificuldade foi a linguagem e tentar adaptá-la da melhor forma possível”, afirma a maquilhadora.

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Alice, habituada a fazer no seu canal de YouTube penteados para todas as ocasiões e mais algumas, admite exatamente a mesma dificuldade: “Utilizar as palavras certas é a maior dificuldade. E tomo como exemplo os meus próprios tutoriais no Youtube. Eu uso muito uma expressão que é ‘como podem ver’ que, obviamente, nestes casos não se aplica”, começa por explicar.

“Em tutoriais de cabelo eu recorro muito à parte visual, porque qualquer coisa, se eu não me conseguir exprimir, eu parto do principio que as pessoas conseguem ver aquilo que eu estou a fazer. Neste caso, essa parte fica obviamente cortada e é preciso utilizar as palavras certas e tentar ser o mais minuciosa e detalhada possível naquilo que eu estou a querer dizer. E sem dúvida que esse é o maior desafio”, relata a jovem, que ficou recentemente noiva e contou toda a experiência no seu canal.

Percorra a galeria de imagens acima e veja algumas fotografias do primeiro workshop do projeto “Beleza para Todos”. Passe também pelos destaques do nosso Instagram paraver alguns vídeos do evento.

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