Conheça Maria João de Figueiredo, a primeira mulher presidente do Barreirense

3 Maria João de Figueiredo

No dia 31 de julho, Maria João de Figueiredo tomou posse como presidente do Futebol Clube Barreirense. A data fica para a história da instituição: é a primeira mulher a ocupar este cargo no clube, que conta com já 108 anos de existência.

O jeito para a liderança da nova presidente do Barreirense começou cedo, com a paixão pela matemática. Maria Figueiredo, que nasceu no Estoril, mas que se mudou para o Barreiro com apenas três anos, depois de os pais, empresários, abrirem vários restaurantes na cidade, descobriu, ainda na adolescência, que adorava números. Passava horas a fazer contas nas máquinas antigas e no dia em que um dos clientes, um professor de contabilidade, lhe deu um livro sobre a área, percebeu que queria tirar Gestão.

“Lembro-me de, naquela altura, o meu pai me dizer muitas vezes esta frase: ‘Filha, se fosses homem serias um excelente líder. É uma pena que sejas mulher.’ Na altura, com 12 anos, não percebia muito bem o que isto queria dizer. Mais tarde percebi as dificuldades que teria de enfrentar”, recorda ao Delas.pt Maria João de Figueiredo.

Quando o primeiro filho nasceu, inscreveu-o numa associação e não foi preciso muito tempo para que se tornasse presidente da instituição. Mais tarde, ainda antes de terminar a formação em Gestão, começou a trabalhar na área de contabilidade num concessionário automóvel no Barreiro.

“Cresci bastante profissionalmente e foi aí que comecei a trabalhar num mundo de homens. Estive lá vários anos, passei por algumas empresas do setor automóvel e, em 2005, decidi que o ano de 2006 ia ser diferente: ou ia ter uma empresa minha ou ia viver mais perto de casa porque nessa altura estava a trabalhar em Vila Franca de Xira”, revela a empresária.

Nesse ano em que tanto queria mudar de vida apareceu um franchising de contabilidade na zona do Seixal. Maria João de Figueiredo comprou a carteira de 10 clientes da empresa, cuja faturação era de 3700 euros por mês.

Maria João de Figueiredo
Maria José Figueiredo assume a liderança de um clube com mais de um século [DR]

 

“O cliente de 1500 euros saiu em dezembro porque a pessoa a quem comprei a carteira de clientes foi trabalhar para lá. Tinha duas hipóteses: ou me sentava a lamentar ou arregaçava as mangas e seguia em frente. Agora, em 2019, a empresa tem mais de 20 colaboradores com um escritório em Lisboa e outro no concelho do Seixal, na zona da Amora. Este ano abri uma outra empresa, uma agência de viagens, com uma sócia que percebe desse negócio”, explica a presidente do Barreirense.

O clube apareceu na vida desta empresária através da família. Quando o filho mais novo, Miguel, tinha 5 anos e o filho mais velho, João, 11, resolveu inscrevê-los na equipa de basquetebol do Barreirense.

Foi aí que a paixão que começou quando eu tinha 15 anos e ia ver os jogos do clube se intensificou. Era uma loucura ver aquele pavilhão cheio de gente a ver basquetebol, com grandes nomes em campo. Nessa altura comecei a envolver-me mais no Barreirense, uma parte muito emocional, como mãe, a apoiar as equipas”, afirma Maria João de Figueiredo.

Depois de pertencer à Mesa da Assembleia do clube, durante dois mandatos, e de ter sido presidente do conselho fiscal neste último, a mulher que não gosta de palavras como “tentar” e “talvez” avançou com a candidatura à presidência do Barreirense.

“Nunca sonhei ser presidente do clube, mas houve um dia em que tive essa vontade e passei imediatamente à ação porque sou uma mulher muito prática. Convidei uma equipa de diretores em que confiava, a recetividade começou a ser boa e aderiram bem ao projeto. Nunca me olharam como mulher, mas sim como uma pessoa competente”, sublinha a empresária.

Como primeira presidente do sexo feminino à frente do Barreirense, a mulher de 52 anos espera servir de exemplo a outras mulheres, das mais diversas áreas.

“Foi algo fácil e natural. É óbvio que ser mulher está a criar algumas expectativas, mas espero que isto seja uma inspiração para outras mulheres. Seja mulher ou homem, o que importa é a atitude e fazer as coisas acontecer”, diz a presidente do clube do Barreiro.

Durante o seu mandato, a empresária pretende consolidar a sustentabilidade financeira do clube e reforçar o foco na formação das equipas.

“Para mim é muito importante a formação, tanto dos atletas como nos treinadores e restante equipa técnica. Temos excelentes profissionais, muitos deles têm saído para o Benfica, que é um grande clube. Além disso considero importante formar boas pessoas. Depois é criar condições a nível de infraestruturas na sede e no campo”, reforça Maria João de Figueiredo.

O crescimento das camadas jovens e equipas femininas também são dois dos principais objetivos da nova presidente do Barreirense.

“Para isso precisamos de mais espaço. Temos aqui 11 modalidades a funcionar e tem de ser feita uma boa gestão, temos de ir à procura de mais espaços para não prejudicar outras equipas que já cá estão e avançar com sustentabilidade na parte financeira. Isso é muito importante. Estou a contar que isso aconteça, mas é preciso trabalho, fazer acontecer”, concluiu a empresária.

 

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