“Ser mulher pesou na forma desrespeitosa como fui tratada por alguns”

contanca urbano de sousa
Imagem de destaque: Gerardo Santos/Global Imagens

A ex-ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, considera que o facto de ser mulher influenciou a forma como foi tratada durante a tragédia dos incêndios de junho e outubro de 2017, que acabaram por levar à sua demissão.

“Senti que se tivesse sido um homem a passar pelas mesmas circunstâncias talvez tivesse merecido mais respeito. Acredito que ser mulher pesou na forma por vezes desrespeitosa, deselegante e malcriada como fui tratada por alguns“, afirma numa entrevista publicada, este domingo, 7 de janeiro, na revista Noticias Magazine, que sai com o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias.

Além das críticas à maneira como geriu a estratégia de combate aos fogos do ano passado, que provocaram 101 mortos, Constança Urbano de Sousa refere que também o facto de chorar em público foi visto de forma diferente do que se fosse num político do sexo masculino.

“A primeira vez que chorei foi no início do governo, numa homenagem a um jovem polícia abatido em serviço e ter sido notícia é, desde logo, revelador. Descobri que para alguns opinion makers uma mulher que chora é fraca. E se é fraca é incompetente, não serve. Já se um homem chora, bom, aí é sinal de grande sensibilidade. O que é uma forma absolutamente misógina e sexista de abordar a questão.”

Apesar disso, afirma que nunca sentiu que, pelo facto de ser mulher, que merecesse menos confiança por parte do primeiro-ministro ou dos seus pares no governo e menos margem de atuação. “Tive sempre liberdade”, afirma.

Na mesma entrevista, a antiga ministra confessa que se sentiu magoada por “algumas pessoas, que tinha por sérias e inteligentes” terem embarcado em “acusações fáceis, reduzindo todas as tragédias, fruto de uma série de fatores e de desinvestimentos de décadas” ao seu nível de “competência”.

Por outro lado, refere que no contacto diário com os portugueses não é isso que sente.”Não há dia em que as pessoas não venham ter comigo a abraçar-me. O carinho que recebo das pessoas na rua é imenso e gratificante”

Mais de três meses depois de ter saído do governo, na sequência dos incêndios de outubro passado e da maior tragédia a afetar território nacional neste século, diz-se “tranquila, dentro das circunstâncias”.

Pode ler a entrevista na íntegra no site da Notícias Magazine.

Imagem de destaque: Gerardo Santos/Global Imagens