Contraceção verde: o que é, como escolher e ter acesso a ela

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[Fotografia: Simone van der Koelen/Unsplash]

Chegou ao mercado há cerca de cinco meses e, embora sendo cedo para balanços, a Sociedade Portuguesa de Contracepção (SPDC) fala de um “retorno positivo junto das utentes, tem estado a correr bem”. Segundo Fátima Palma, ginecologista e presidente da entidade, a aposta neste tipo de pílula com baixo impacto para o meio ambiente e na vida animal, com efeitos para as águas e o solo, trata-se também de uma pílula cujo estrogénio presente “tem diferentes capacidades no organismo das mulheres”.

“No corpo, há locais em que este método se comporta como antagonista e como agonista. Na mama não tem efeito porque este estrogénio é diferente. No osso, atua como agonista, promove a formação óssea e não estimula a proliferação na mama”, explica a também ginecologista a propósito do dia Mundial da Contraceção, que se assinala nesta segunda-feira, 26 de setembro. A contraceção verde compõe-se de um “estrogénio natural, semelhante ao libertado pelo fígado do feto, e que aqui é produzido clinicamente, apresentando menos efeitos, sem comprometer a eficácia”, como explica a especialista.

Estas soluções de contraceção que reivindicam ser mais amigas do ambiente estão já disponíveis no mercado português, mas não são comparticipadas, como, por exemplo, outras pílulas já comercializadas. Para a SPDC, a existência destas alternativas é vital. “Também existe uma grande diversidade de mulheres, por isso, sempre que há mais uma opção – segura, eficaz e que tenha poucos efeitos adversos -, ela deve ser considerada”, afirma. E prossegue: “Ainda não é comparticipada, pelo que deve ter um preço semelhante ao dos outros métodos em iguais circunstâncias.”

Quanto ao papel da SPDC na luta pela eventual comparticipação, Fátima Palma lembra que “o objetivo [da entidade] vai sempre no sentido de aumentar as opções contracetivas das mulheres e fazer com que o fator económico não seja excludente na hora de optar”.

Porém, a responsável vinca também que, não tendo ação política, a Sociedade de Contracepção é “científica, não tendo qualquer tipo de poder decisivo”. “Podemos, quanto muito, propor, e o nosso foco é o de divulgar o que há no terreno da contraceção e divulgar ferramentas nas unidades primárias de saúde e hospitalares”, sublinha Fátima Palma.

O impacto das hormonas no meio ambiente tem sido alvo de estudos, com os estrogénios a terem um papel relevante como “agentes poluentes”, uma vez que a sua presença nas excreções – de forma natural ou devido à terapia hormonal ou à contraceção – acabam por poluir a água e o solo. Uma “poluição estrogénica” que tem encaminhado a ciência da contraceção no sentido de uma redução progressiva da dose de estrogénios, mas também de aparecimento de novas fórmulas.

A consciência deste impacto é também cada vez mais reconhecida pelos utentes. No ano passado, o estudo Nest-C – Novidades epidemiológicas sobre tendências em contraceção dava conta da existência da preocupação das mulheres em torno desta pegada ecológica. De acordo com a análise, feita com o apoio da SPDC e que indica a pílula como o contracetivo mais utilizado, 28% das mulheres declarava ter ouvido falar do impacto negativo das hormonas nos ecossistemas naturais, com 35% desse grupo a ter entre 15 e 19 anos. Seis em cada dez das inquiridas (61%) admitiram pedir uma pílula com menor impacto no ambiente.