Cor: o primeiro condicionamento de género

Cor-de-rosa e azul para quartos de criança são as primeiras opções que os recentes pais tomam, muitas vezes em automático, só porque sim e porque é costume. Mas apesar de ambas as cores serem suaves e infantis vai um mundo de distância entre uma e outra, em termos cromáticos, e esta diferença pode ser a primeira forma de condicionamento de género.

A partir das 28 semanas de gestação os bebés piscam os olhos e por vezes mantêm-nos abertos, reagindo mesmo a focos de luz apontados na sua direção, movendo-se ou esfregando os olhos. A luz que recebem é filtrada pelo corpo da mãe, tornando este seu primeiro habitat rosado.

Se o quarto que a receberá for cor-de-rosa, a menina sentirá menos esta primeira grande mudança da vida, o nascimento. Se o quarto for azul, mesmo que suave, o menino encontra no seu espaço um ambiente que cromaticamente é o oposto daquele onde tinha vivido as últimas semanas, o ventre da mãe. Talvez seja esta continuidade e a falta dela as razões pelas quais as meninas são queridas e doces e os rapazes aventureiros e briguentos.

No final do ano passado, e pela primeira vez desde que existe, a Pantone anunciou não uma mas duas Cores do Ano 2016. Mais que simplesmente Rose Quartz e Azul Serenity, a cor 2016 é a que resulta do esbatimento da fronteira entre ambas. O reputado gabinete de estudos de cor chegou à conclusão que, mais que nunca, o mundo precisava de construir mais pontes e de derrubar mais muros. O estado pouco brilhante do planeta muito se deve a este confronto entre partes, sejam elas quais forem, que nos põem em lados opostos de uma arena, uns contra os outros.

Como pode ver acima, no vídeo promocional da marca, a junção do Rose Quartz e do Azul Serenity é um tónico que traz equilíbrio, calma, bem-estar, compatibilidade e paz. Tudo isto esbatendo a linha que divide duas cores, dois estados de espírito que se separaram logo aquando do nosso nascimento.

O condicionamento de género é a primeira divisão pela qual passa a humanidade, meninas para um lado, rapazes para o outro. Com o tempo vêm todas as outras, a raça, o credo, o patamar económico, por aí afora, durante a longa vida. E mais que subliminar, esta foi (e ainda é, claro), uma atitude deliberada e assumida nas sociedades ocidentais. As mesmas que trouxeram a humanidade e o planeta a este estado de coisas em que nos encontramos.

A Pantone concluiu, através dos estudos dos seus caçadores de tendências, que um pouco por todo o lado, mas especialmente entre as camadas mais jovens, a fronteira entre géneros está cada vez mais fraturada. Este facto teve peso suficiente para que boa parte das indústrias importantes que dependem diretamente do design, como a moda, os equipamentos ou os interiores, tenham ao longo do ano criado produtos nestas duas cores conciliadas e conciliatórias.

Existe uma brava nova geração que se preocupa agora muito menos com carimbos e estereótipos, e que cresceu com a internet, toda uma nova, fascinante e célere forma de comunicação. Para esta geração não é uma novidade, é uma ferramenta adquirida e natural, que possibilita a rápida partilha de conceitos e ideias. E esta é uma geração que se ri do azul-pró-menino-e-rosa-prá-menina. É também por aqui que se fragmentam as fronteiras e que caem os muros.