Covid-19: Especialistas dizem como controlar segunda vaga de ansiedade

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[Fotografia: Pexels]

O medo e a preocupação com que vivemos desde que a pandemia provocada pelo novo Coronavírus chegou ainda não nos abandonou. Se, no início do verão, vários especialistas alertavam para um aumento do número de depressões e outros transtornos mentais que decorreram durante a quarentena, com o início do outono a situação está longe de estar resolvida.

Na verdade, um relatório recente da Organização das Nações Unidas revela que a ansiedade e a depressão são dois dos efeitos colaterais da doença: um terço dos pacientes infetados desenvolveu uma ou ambas as doenças mentais como consequência.

Segundo o que a psicóloga Ciara Molina diz ao site Smoda, “as preocupações afetam tanto a saúde física quanto a emocional, e a ansiedade é a sua principal consequência”.

“Quando vivemos preocupados, estamos constantemente alerta e desenvolvemos um stresse emocional que acaba por obstruir as capacidades e habilidades emocionais. Perde-se a capacidade de desfrutar, e a vida é vivida com a sensação de estarmos constantemente rodeados de conflitos e problemas“, acrescenta a especialista.

No entanto, fingir que a situação atual parece ser algo bastante normal para o ser humano, não é a solução. “A tendência de não reconhecer os problemas e não fazer nada por pensar que tudo se resolverá por si mesmo é chamado de otimismo ingénuo em psicologia. É uma distorção cognitiva porque ao negar a realidade e os problemas é impossível depois enfrentá-los“, afirma Ciara Molina.

As consequências de fazer isto? Mentalmente, corre-se o risco de desenvolver desamparo aprendido (um comportamento que está relacionado à incapacidade de reagir à dor) e fisicamente, quando a emoção não é expressa, o corpo dói, explica a psicóloga: “a tensão vem de algum lugar e geralmente vem na forma de ansiedade, dor de estômago, cervical, tontura ou gripe comum. O sistema imunológico está enfraquecido e, portanto, há uma alteração nos neurotransmissores do humor”.

“Aceitar e cuidar do que depende de nós é a chave para poder ultrapassar este cenário, caso contrário, a situação pode transformar-se num tsunami“, alerta a psicóloga Ana Merlino ao SModa, acrescentando que “desde o início, é preciso entender que o stresse tem várias fases e o corpo reage da mesma forma que a estágios de luto: na fase inicial, há uma espécie de negação e sentimento de irrealidade, como a que todos vivenciamos no início da pandemia, seguida da fase de frustração, rejeição e, de alguma forma, birra”.

No luto, as próximas fases seriam as de depressão e aceitação, mas esta pandemia confundiu o sistema de muitas pessoas, principalmente as que não sabiam que poderiam enfrentar perdas.

“Se ao longo destas etapas parar para analisar vai descobrir que pode seguir dois caminhos: ou continuar a deixar-se levar pelos pensamentos negativos com o risco de somatizar o stress ou pode parar e refletir sobre qual é a sua verdadeira capacidade de influenciar o assunto“.

Assim, há algumas dicas essenciais que deve seguir para evitar que seja atingido por uma possível nova vaga de ansiedade e stress:

Não se preocupe, mas tenha cuidado

“Este alerta pode ajudar a priorizar as tarefas e esse é o primeiro passo para encontrar soluções”, explica Ciara Molina, acrescentando que “detetar a presença do problema permite-nos começar a enfrentá-lo, porque favorece o planeamento das nossas ações, a tomada de decisões e a resolução do conflito”.

Reformule a incerteza

“Segundo vários autores, o ser humano tem tanta necessidade de ter certezas como incertezas”, refere Ana Merlino. “Esta situação pôs em causa a nossa zona de conforto e a nossa segurança porque, na realidade, são sempre sensações falaciosas, já que, antes mesmo do Coronavírus, não sabíamos o que nos ia acontecer, não tínhamos certezas, mas sim previsões”, acrescenta.

Para a psicóloga, “a incerteza é um convite que o universo ou a vida nos dá para expandir os nossos recursos, potencialidades e habilidades. Podemos interpretar o contexto atual como um desafio para nos perguntarmos como podemos caminhar de forma diferente e que capacidades latentes temos para enfrentá-lo”.

Erros e como os evitar

A psicóloga Ciara Molina enumera os erros mais frequentes ao lidar com uma situação stressante: “prestar atenção ao que os outros pensam, pensar em algo que já aconteceu, focar no que não temos, interpretar como fracasso que as coisas não são como esperamos, confundir opiniões e pensamentos com a realidade, criar expectativas, transformar cada imprevisto em tragédia, acalmar-se nas queixas e desconhecer os limites”.

Em contrapartida, enumera também as melhores formas de os evitar: “acreditar em nós próprios, encontrar uma hora do dia para se sentir bem, concentrar-se no momento presente, estar ciente de que a felicidade depende de nós”.

Coloque o organismo a trabalhar

“A felicidade é um estado interno que depende em grande parte do nosso padrão de pensamento”, diz Ciara Molina, mas podemos trabalhar esse estado interno por meio do trabalho psicológico e indiretamente. “As endorfinas podem ajudar a mudá-lo: são as chamadas hormonas da felicidade, do bem-estar emocional e quimicamente são semelhantes à morfina“, destaca a psicóloga.

Para promover a produção de endorfinas, “o cérebro deve ser exposto a sensações agradáveis, como música, comida, cheiros, relações sexuais, exercícios físicos, risos, banho de sol e hobbies.