Covid-19: estes são os cuidados que deve ter com os seus patudos

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Jorge Cid é médico veterinário há mais de 30 anos e é o Bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários há cinco. Em conversa com o Delas.pt, o especialista mostrou a sua preocupação pelos animais de estimação em tempo de pandemia de Covid-19 e deu uma mão cheia de conselhos para ajudar a proteger o seu patudo lá de casa.

Durante a entrevista, o veterinário fez questão de frisar, várias vezes, a ideia de que não existem evidências que provem que os animais contagiem os humanos com o vírus. Além do mais, o médico desincentiva fortemente o abandono dos animais, afirmando que tem recebido vários telefonemas de pessoas preocupadas com esta questão e que quer desmistificar a ideia de que os animais podem ser um perigo para a nossa saúde – o abandono nunca é uma solução.

O médico veterinário revela ainda um conjunto de normas de higiene e comportamento que devem ser levadas a cabo pelos donos dos animais de companhia, sempre tendo como objetivo principal o bem-estar e boa saúde dos mesmos.

Leia abaixo a entrevista completa a Jorge Cid e tire todas as suas dúvidas.

Tendo em conta o panorama atual da pandemia do Covid-19, várias são as preocupações associadas aos nossos animais de estimação. Existem evidências que nos mostrem que os animais podem transmitir o vírus aos humanos?

Até ao dia de hoje, não existem evidências científicas que provem que os animais de estimação, nomeadamente cães e gatos, possam transmitir o vírus Covid-19 aos humanos.

Como é que os animais podem apanhar o vírus? Só pelo contacto humano? Desenvolvem sintomas?

Existem alguns casos pontuais no mundo em que os animais ficaram infetados com o vírus, transmitido pelo seu dono. No entanto, como disse anteriormente, são casos pontuais, sendo conhecidos aproximadamente quatro casos em todo o mundo. Sendo que estes animais não desenvolveram a doença e, portanto, não desenvolveram também sintomas, limitaram-se, pois, a ter sofrido apenas uma contaminação ambiental, ou seja, foram contaminados pelo seu dono. No entanto, o animal não desenvolveu a doença e, consequentemente, não a iria transmitir.

Quais são os cuidados imprescindíveis que todos os donos devem ter com os seus animais, numa saída à rua? Existem lugares ou comportamentos a evitar?

Neste Estado de Emergência, é aconselhado que os donos dos animais, nomeadamente cães, vão à rua apenas em passeios curtos, junto à sua área de residência. Não deverão ter contacto com outros animais e, nomeadamente, com os seus donos. Será assim de evitar passear os cães em zonas onde possam haver outros donos e outros cães – observando assim o confinamento relativo às próprias pessoas. É aconselhado ainda que os animais vão sempre passear de trela, para que não possam juntar-se a outros que possam andar pelas redondezas.

E a chegar a casa, que cuidado se deve ter? Recomenda-se o uso de álcool para desinfetar, por exemplo, as patas dos animais?

Quando chega a casa, o ideal será lavar as patas dos cães. Este processo pode ser feito com o recurso de vários produtos desinfetantes, sendo que o poderá fazer com água e sabão, que será o suficiente. Uma maneira prática que podemos desde já aconselhar, é ter logo à mão um recipiente ou um borrifador com estes ingredientes, já pré-feitos, e depois lavar as patas com esta solução. As toalhitas, vulgarmente utilizadas nesta higienização, não são um método tão bom ou eficaz. Quanto ao uso de álcool, o mesmo não é aconselhado, porque pode secar demasiado a pele do animal, causando alguma dermatite. Embora existam soluções alcoólicas, em forma de gel, que atenuarão este problema.

Em tempo de quarentena e isolamento social, que produtos não podem faltar em casa, para garantir a segurança de um animal de estimação? (Desde comida a outros utensílios)?

Idealmente, os detentores de animais devem estar precavidos com aquilo que é essencial para os mesmos, nomeadamente alimentação ou champô indicado para cada raça e tipo de pelo. No caso dos gatos, ter também uma quantidade suficiente de areia (cat-litter), para que possam fazer as suas necessidades. Em caso de os animais estarem a fazer alguma medicação, deverá ser acautelado que a mesma seja suficiente para um período relativamente longo de tempo. Embora a maior parte das clínicas veterinárias estejam abertas e, portanto, seja possível comprar quer a alimentação específica quer a medicação, é sempre de evitar saídas muito frequentes à rua e, por isso, deverá ter sempre um stock suficiente para o tempo considerado necessário.

Sendo que várias famílias não estão a receber o ordenado completo, existe alguma preocupação para tentar ajudar, nestes casos, para que animais não sejam abandonados ou passem fome?

Há várias instituições que poderão ajudar nesta problemática. Em caso de grande necessidade, poderá contactá-las ou mesmo colocar o problema à sua Junta de Freguesia. É sempre uma situação muito complicada, havendo, no entanto, várias associações de proteção animal que poderão sempre dar uma ajuda. Há programas específicos lançados pela Ordem dos Médicos Veterinários (correntemente apelidado de cheque veterinário) que já estão em vigor em muitas Câmaras Municipais e respetivas Juntas de Freguesia para ajudar em algumas situações.

As pessoas infetadas com Covid-19 devem evitar mexer nos seus animais? Que cuidados específicos deverão ter para os proteger?

As pessoas infetadas com Covid-19 deverão ter o máximo dos cuidados no contacto com os seus animais de companhia. Se for possível, e será sempre o melhor, que seja outra pessoa do agregado familiar ou mesmo um amigo a cuidar deles. Caso esta solução não seja possível, como o facto de se viver sozinho com o animal, deverá evitar contactos mais íntimos, como beijos e lambidelas, e deverá frequentemente ter em atenção todas as precauções necessárias, nomeadamente lavar bem as mãos após tratar do animal. Se tiver luvas ou máscara, poderá usá-las durante o contacto, mas este não será um fator determinante. Embora, como dito anteriormente, não existam evidências científicas que provem que os animais podem transmitir a doença aos humanos, estas são medidas de higiene e profilaxia que devem ser sempre observadas.