Crianças devem ter papéis de liderança para uma cidadania interventiva

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[Foografia: Andrea Puacquadio/Pexels]

O investigador do ISCTE Vítor Tomé defende que “é necessário atribuir papéis de liderança às crianças” para se formarem “cidadãos interventivos, empreendedores e com cultura democrática”, no livro sobre o projeto de investigação Academia de cidadania digital.

O livro Empowering Communities with Media Literacy – The Critical Role of Young Children, escrito por Vítor Tomé e Belinha S. De Abreu, relata o projeto iniciado em 2015, envolvendo cerca de 400 crianças do ensino pré-escolar e primário, as suas famílias, professores e membros da comunidade, no Agrupamento de Escolas de Caneças, em Odivelas.

Vítor Tomé, especialista do Conselho da Europa e da Comissão Europeia para a área da literacia mediática, disse à Lusa que a ideia de que as crianças mais pequenas são demasiado novas para pensar na cidadania digital tem vindo a mudar.

Tem de ser criado “um projeto que as crianças lideram, sendo apoiadas pelos adultos. Não é um projeto que os adultos desenvolvem para as crianças”, se não “a sua voz, a sua iniciativa e a sua liberdade estão condicionadas”.

Quando o projeto começou ainda não existia uma estratégia de educação para a cidadania, mas “hoje, a compreensão do que é a cidadania digital já é diferente, pois existem muitas iniciativas locais, nacionais e internacionais nesta área. As crianças estão numa idade em que são extremamente criativas, pelo que não as podemos limitar com modelos reprodutores, em que aprendem e debitam o que aprendem”, afirmou o investigador à Lusa.

Esta experiência permitiu ligar os conteúdos escolares e os interesses das crianças para identificar problemas que existem na comunidade e encontrar soluções, procurando “criar pontes com a comunidade educativa, projetos comuns, de acordo com os interesses das crianças e sempre liderados por elas. Por exemplo, se as crianças queriam fazer uma campanha de reflorestação, criámos condições para tal”, revelou o investigador.

Com o desenvolvimento do projeto percebeu-se como “primeiro resultado que é possível implementar um projeto comunitário, na área da cidadania digital, a partir de uma formação de professores, o que implica desde logo uma lógica longitudinal e não algo feito num ano, em dois ou três”, garantiu Vítor Tomé.

A Academia de cidadania digital arrancou como um projeto de pós-doutoramento, apoiado com uma bolsa individual da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que terminou em fevereiro de 2018, no entanto, alunos, professores e pais conseguiram que o projeto continuasse e, até dezembro de 2022, tem o apoio do programa Conhecimento da Fundação Calouste Gulbenkian.

Apesar de o financiamento estar a terminar, Vítor Tomé garantiu que continuará, pelo menos até final de 2023, sendo alargado a um segundo agrupamento de escolas na área da União de Freguesias de Ramada e Caneças, avançando também para os Açores e ainda têm o objetivo de querer replicá-lo noutras regiões do país.

Em sete anos de projeto que envolveu milhares de alunos, professores e pessoal não docente, foram implementadas quatro ações de formação contínua de professores, centradas em cidadania digital, literacia dos media e em janeiro será organizada uma nova ação focada no combate à desinformação.

Vítor Tomé é um dos investigadores do ISCTE que participam no projeto Iberifier, de combate à desinformação, de que a Lusa também é parceira.

O Iberifier é um projeto ibérico, que visa combater a desinformação, reunindo um total de 12 universidades, seis centros de investigação na península, cinco ‘fact-checkers’ (organizações de verificação de notícias), e as agências de notícias espanhola Efe e portuguesa Lusa.