Tratamento estético e trágico de Linda Evangelista integra lista dos que devem estar legislados em Portugal

iStock-1097360604(1)

A supermanequim Linda Evangelista impressionou o mundo com a sua história pessoal e trágica em torno de um tratamento estético não invasivo que teve sequelas contrárias às esperadas. Em vez de a adelgaçar, a criolipólise a que se sujeitou desencadeou no corpo uma reação de multiplicação de células gordas.

No texto que publicou nas suas redes sociais a revelar o testemunho impressionante, a manequim disse-se “brutalmente desfigurada”, e “permanentemente deformada”, a travar uma batalha sem quartel há cinco anos para recuperar a vida e autoestima de volta e anunciou processar a empresa que fez o tratamento em 50 milhões de dólares (42,7 milhões de euros) por danos irreversíveis na sua carreira.

Por cá, o presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética (SPCPRE) lembra que “a quantidade de casos que existem [semelhantes ao que Linda Evangelista se submeteu] não é muito grande”, evocando, até ao momento, “descrições na literatura alemã, inglesa”, “não havendo relatos na portuguesa”.

Júlio Matias, cirurgião plástico e presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética [Fotografia: juliomatias.com]
Júlio Matias, cirurgião plástico e presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética [Fotografia: juliomatias.com]

O cirurgião plástico Júlio Matias avança, porém, que a criolipólise – destruição de células de gordura através do frio – “faz parte da lista de tratamentos do foro clínico que devem estar legislados e protegidos por uma questão de saúde”.

Um documento no qual, prossegue o especialista ao Delas.pt, “a SPCPRE tem estado a trabalhar intensamente com a Ordem dos Médicos e com as entidades responsáveis”, mas não tem ainda horizonte temporal para ser concluído e apresentado.

A utilização de tecnologias para tratamentos clínicos deve ser sempre feita sob a supervisão médica. No fundo, esta terapêutica [criolipólise] às vezes foge a esta regra porque não implica utilização de produtos injetáveis, nem implica procedimento de atividade invasiva. Por isso, às vezes poderá acontecer que eles estejam a ser feitos por pessoas que não estão habilitadas a fazê-lo”, alerta Matias.

E o especialista e responsável da SPCPRE lembra: “Há uma série de tratamentos que caem ou podem cair em algum vazio legal, e poderá ser o caso deste. Ao mesmo tempo, são tecnologias que estão disponíveis para qualquer pessoa adquirir, a internet, por exemplo fornece todo o tipo de equipamentos e sem supervisão.”

A criolipólise é feita em Portugal, mas desconhecem-se os números por se tratar de um tratamento que pode ser feito em clínicas estéticas e à margem da supervisão médica. “Não há muitas publicações que refiram a taxa, a percentagem de casos porque também não se consegue aferir o número de tratamentos realizados”, justifica.