Cristas: Porque é que o guarda-roupa mudou?

Para lá das mensagens políticas que a presidente do CDS-PP passou durante o mais recente congresso do partido, que decorreu em Lamego, Assunção Cristas deu decididamente que falar pelas escolhas de vestuário que fez. Poderiam ser fruto do acaso, mas certo é que os recados e intenções que mostrou podiam e podem ler-se também nas escolhas de vestuário que fez. Veja a galeria acima e repare em eventuais interpretações que podem ser retiradas daquelas escolhas da mulher que se apresentou como a “futura primeira-ministra de Portugal”.

Desde as eleições autárquicas, em outubro de 2017, que a líder dos democratas-cristãos conta com os serviços de um assessor de imagem. João Jacinto, responsável pelo pelouro do guarda-roupa e autor do site The Gentleman, garante ao Delas.pt que não leu os discursos antes de escolher os coordenados mais indicados e revela que houve peças que saíram do armário da presidente e que foram oferecidos pelo marido, Tiago Machado da Graça.

João Jacinto [Fotografia: DR]
“As calças em tom lavanda foram oferta do marido. Trabalhámos em conjunto nesse sentido, tivemos uma conversa, mas ela é que escolheu levá-las. Ela ouve a família, a família ouve o que ela tem a dizer”, revelou Jacinto, sobre o coordenado avaliado em 247 euros.

Embora o responsável negue qualquer ligação entre as mensagens políticas e os tons de roupa selecionados, reconhece que houve, em todo o caso, intencionalidade. Mas de outra natureza. “Não li o discurso inicial antes e não podemos chegar a esse ponto. O statement marcado pela roupa é o dos objetivos gerais, ou seja, o de querer marcar pela diferença e pela mudança. O querer sair do azul para o degradé é como se fosse um sinal de que se está a andar para a frente”, contextualiza o especialista ao Delas.pt.

A escolha sobre a blusa rosa, o blazer vermelho, em conjunto com a coincidência da fita de inscrição do congresso ser branca, foi apenas “uma escolha no sentido da mudança”, de “tocar em cores que eram quase proibidas, surgir de cara lavada, clara e diferente, fugir ao cinzentismo”, reitera. E inquire: “Porque é que há cores que não se podem usar porque são de outros partidos?”. Jacinto lembra, a este propósito, que Assunção tinha já usado um vestido vermelho na tomada de posse como vereadora da Câmara Municipal de Lisboa.

Já os tons pastel e alegres do discurso de encerramento tiveram intuito distinto. “Quisemos ir pelo contraste, apostando em cores pacíficas, de quem está em paz”, explica João Jacinto. Por isso, vale a pena agora perguntar: Se no domingo, 11 de março, a presidente levantou a bandeira branca, então é possível depreender que a primeira aparição, na véspera (10 de março), configurasse uma declaração de guerra? O assessor de imagem nega terminantemente essa intenção, mas também reconhece que, num plano geral, “a roupa passa mensagens subliminares”.

Múltiplas facetas, estilos diferentes

A partir de agora, a Assunção Cristas vereadora não será igual à Assunção Cristas presidente do partido ou à Cristas deputada na Assembleia da República. Esta garantia é dada por João Jacinto, que tem bem definido o que considera ser o guarda-roupa da sua cliente para cada ocasião. “Sendo o Parlamento a casa da democracia e da decisão por excelência, é preciso ter cuidados, ser mais contidos, mas sem ser nunca aborrecidos. Temos de ter respeito pela instituição e pelos eleitores”, descreve o assessor de imagem. Por isso, as escolhas de indumentária serão sempre mais “discretas”.

Já na pele de vereadora, o salto pode ser quase quântico. “É um papel no qual ela se apresenta mais próxima das pessoas, em que se pode mostrar mais casual, mais prática e onde os jeans podem ser uma ótima solução para ir a qualquer lado ou, num outro momento, pode usar umas calças skinny. Quando fizemos a campanha autárquica, quisemos demonstrar que há uma mudança no partido, uma nova postura, não tão enfadonha“, revela o responsável de imagem.

Por fim, a ousadia pode ter lugar quando se apresenta como presidente de uma estrutura partidária. “Aqui, é possível brincar e ousar mais, poder estudar a melhor forma de chegar a um público de um meio de comunicação sempre que é dada uma entrevista.”

Mas, com tanta multiplicidade de funções, quanto dinheiro há para responder a estas solicitações? O responsável conta que começou esta parceria com a democrata-cristã com uma visita ao guarda-roupa da líder centrista, tendo também um orçamento – cujo valor não revela – atribuído para a gestão da imagem de Cristas. E acrescenta: “Em Portugal, não se usa habitualmente a possibilidade de haver um orçamento dedicado à imagem. Há sempre peças no armário que podem ser conjugadas de formas que não imaginávamos”, diz João Jacinto.

Sexo feminino: uma nova oportunidade para a comunicação política

A entrada de João Jacinto no mundo da política e como responsável de imagem configura uma estreia. Admite, para já, que “está a ser desafiante” até porque impõe “questões mais delicadas”. E a justificação é simples: “Em cada português há sempre um comentador de televisão, um treinador de bancada e um opinion maker de estilo. Somos muito moralistas e não é fácil de apresentar respostas consensuais”.

O assessor lamenta, contudo, que existam tão poucas oportunidades para trabalhar esta questão da moda e dos cabelos – “tão ou mais interessante quando falamos de líderes mulheres” – quando se está perante uma responsável política.

“Quantas líderes femininas de partidos tivemos? Muito poucas e essas nem tiveram tempo para marcar um estilo. Marcaram a política, mas não imprimiram a sua imagem”, lembra. Para João Jacinto, “a presença da mulher nesta esfera vem enriquecer muito a oportunidade dada à imagem como mensagem, que é preciso cuidar com muita atenção”. E o especialista deixa uma ressalva: “Temos de a cultivar, nunca esquecendo que a a imagem não é apenas um boneco, vai muito para lá disso”.

Imagem de destaque: Global Imagens

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