Crónica: Homenagem às mulheres iranianas

O jornalista Leonídio Paulo Ferreira do DN esteve no Irão e fala das mulheres do país dos ayatollas. E tirou fotos também

 

Gostei da atitude das estudantes de jornalismo que visitavam o Palácio Golestão em Teerão. Todas equipadas com máquinas fotográficas, primeiro pareceram envergonhadas por estarem a falar com um grupo de jornalistas portugueses, mas depressa recuperaram o à vontade e por entre risos fizeram de nós tão o alvo das objetivas delas como nós a elas o das nossas. E foi sempre assim ao longo de quatro dias o contacto com as iranianas, sobretudo as jovens, mulheres confiantes, sempre de lenço no cabelo, como impõe a República Islâmica, mas na maior parte das vezes deixando ver a franja.

Verdadeiras beldades persas, comentámos entre nós os jornalistas, homens e mulheres. Uma referência a uma civilização com mais de 2500 anos e que tanto nos baixos relevos de Persepolis como nas iluminuras já dos tempos islâmicos nunca deixou de celebrar a beleza feminina. A forma como as iranianas transformaram o lenço num adereço de moda testemunha bem o apreço que dão à beleza, elas que também se destacam por ser no mundo das que mais recorrem à cirurgia estética. A quantidade de iranianas que vi com um penso no nariz explicará talvez a perfeição extrema de muitos perfis. Também as sobrancelhas desapareceram em muitas para dar lugar a tatuagens que realçam os olhos em formato de amêndoas.

 

Mulheres iranianas junto à mesquita de Teerão (Fotografia: Leonídio Paulo Ferreira)

Vi mulheres a conduzir, mulheres em caixas de supermercados, mulheres em escritórios, mulheres jornalistas, professoras, mulheres um pouco por todo o lado. Elas são mais de 40% das entradas na mão-de-obra no Irão e muito mais de metade dos estudantes universitários. No Parlamento são 17 em 290, número ainda pequeno, mas têm ganhado peso na política como noutras áreas: o presidente Hassan Rouhani nomeou em 2015 a primeira mulher embaixadora desde a queda do xá em 1979.

Segundo as regras do país que tem como Guia Supremo Ali Khamenei, sucessor do ayatollah Khomeini, um homem não deve tocar nunca uma mulher que não seja da sua família, daí nem sequer o aperto de mão ser permitido. Na realidade, até vi jovens despedirem-se com um beijo no rosto.

Entre as mais velhas, e só estive em Teerão e Ispaão, o lenço negro dominava, mas não a 100%. E aqui e acolá vi algumas iranianas cobertas com o chador, manto negro que tapa o corpo e cobre a cabeça deixando só o rosto a descoberto. Não vi nenhuma iraniana de cara coberta. Nenhuma mesmo. Mas chega de palavras sobre o grande país xiita, onde Fátima (Fetimeh), a filha do profeta, é desde sempre muito estimada. As fotografias que acompanham esta crónica falam por si. (Veja a galeria)

 

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