Murphy Brown, “a melhor notícia desde 8 de novembro de 2016”

Quando tivemos notícias suas pela última vez, não havia fake news – ou pelo menos tinham outro nome e ninguém dava por elas; o conceito de jornalismo de investigação não tinha ficado perdido no cretáceo das redações; e o álcool podia encharcar com algum charme e glamour a biografia de um profissional do setor. Bom, na verdade, mal havia internet e redes sociais e a TV por cabo estava apenas a avançar.

Foi o tempo de uma Murphy Brown, âncora do canal de notícias FYI, mãe solteira e pioneira no ícones feministas no pequeno ecrã, desafiadora dos conceitos de família vigentes nos idos de 80, quando mal sonhávamos com hashtags. Foi também o tempo de uma conservadora Casa Branca, no rescaldo da liderança de Ronald Reagan, do começo da dinastia Bush, e de um vice-presidente Dan Quayle a criticar publicamente as escolhas da protagonista na ficção, com um célebre discurso no qual acusava Murphy de desvalorizar a importância da figura paterna na formação de um rebento.

E então leitores, cheios de saudades ou fartos de remakes? “Esta é a melhor notícia desde 8 de novembro de 2016”, salta à vista nos comentários ao vídeo promocional que anuncia o que aí vem. Ah, e para os mais distraídos, foi nesse dia que Donald Trump foi eleito.

Seja qual for a sua inclinação, a famosa sitcom, transmitida entre 1989 e 1998, volta agora aos ecrãs da CBS, em horário nobre, já a partir de dia 27 de setembro, com (quase todo) o elenco original a animar todos os saudosismos, e a adiantar algumas imagens no Instagram (enfim, o progresso é mesmo assim, e será preciso vigiar o POTUS no Twitter).

https://www.instagram.com/p/BhN0x_PFFNV/?hl=pt&taken-by=bergenbags

A Candice Bergen, de volta com os seus cinco Emmys no curriculum, e com episódios como #MurphyToo, junta-se, pronta para dar conta da atualidade e dos temas mais quentes do momento, um grupo de profissionais com mais anos em cima (30 na vida real, 20 na ficção) – recorde-se que Bergen tem hoje 71, e entretanto figurou em séries como “O Sexo e a Cidade”, “Will & Grace”, “Boston Legal” ou “Lei e Ordem”.

Murphy Brown, uma criação de Diane English, é agora uma prestigiada repórter e feroz entrevistadora, que regressa ao ativo depois de ter passado um mês a reabilitar-se dos excessos. Entretanto, não voltaremos a ver na TV o famoso pintor “Eldin” (Robert Pastorelli morreu de uma overdose em 2004), nem o apresentador “Jim Dial”, interpretado por Charles Kimbrough, já com 81 anos, e afastado dos ecrãs desde 2002.

De regresso ao local de trabalho, Murphy prepara-se para encontrar um novo chefe (Grant Shaud) e uma nova parceira na apresentação (Faith Ford, a inimitável “Corky Sherwood”). E, óbvio, para esmiuçar com unhas e dentes a era Trump. Não estranhem se o virem responder a algum ataque direto em 140 carateres. Havemos de ler sobre isso. Nem que seja pela internet.

P.S. Quer saber como a história de Murphy Brown recomeça? Com eleições. Num 8 de novembro de 2016.

Imagem de destaque: CPS

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