Sra. Engenheira: uma mudança de género a acontecer em Portugal!

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A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) revelou esta terça-feira, 12 de setembro, um relatório em que refere que Portugal está a viver “uma mudança geracional” nas escolhas de áreas de estudo, privilegiando as engenharias, indústria e construção. E nestes campos de estudo, o país supera a média da OCDE e da União Europeia, em termos de representação feminina.

Apesar de a desigualdade de género ainda estar presente nessas áreas de conhecimento – que atraem mais homens do que mulheres – ela é menos pronunciada em Portugal, onde as percentagens de estudantes mulheres atualmente a frequentar esses cursos superiores é de 28%, por comparação com os 24% da média da OCDE e os 25% dos países da União Europeia representados, no âmbito do relatório ‘Education at a Glance 2017’

“A paridade de género melhora ao nível superior, apesar de as mulheres ainda representarem aproximadamente apenas um em cada quatro novos estudantes de engenharia, indústria e construção. Por outro lado, as mulheres representam quase três em cada quatro dos novos estudantes nas áreas da saúde e ação social. Outros domínios – como gestão e administração de empresas e Direito, e ciências naturais, matemática e estatística – alcançaram praticamente a paridade de género entre os novos estudantes!”, resume, em termos gerais, o documento que analisa o estado da educação nos países da OCDE.

Sobre a referida “mudança geracional”, em Portugal, o relatório salienta que “enquanto há apenas 15% de diplomados em engenharia, indústria e construção com idades entre os 25 e os 64 anos, esta área representou a que mais graduados formou em 2015 no ensino superior (21%, que comparam com uma média de 14% na OCDE)”. Ou seja, 28% dos diplomados pelo ensino superior em Portugal, nesse ano, “graduaram-se em áreas científicas, tecnológicas, de engenharia e matemática, acima da média da OCDE de 23%”.

Por outro lado, “apenas 1% dos estudantes obteve um diploma em tecnologias de informação e comunicação (TIC), uma das percentagens mais baixas de todos os países da OCDE”, cuja média é de 4%.

Grau académico dos pais influencia mais do que o género

Outra das conclusões do estudo da OCDE é a de que quanto maior é a frequência académica dos pais maior a probabilidade de os filhos prosseguirem os estudos a nível superior, e dentro deste nos graus mais elevados (pós-graduações, mestrados e doutoramentos).

O relatório refere que a educação dos pais é o fator mais determinante nesse aspeto, superando o impacto do género e da idade, à exceção de um país: o Japão. Neste país, o género e a educação dos pais parecem ter a mesma influência para que os filhos levem os seus estudos superiores a um nível mais avançado.

Segundo o documento, nas mulheres com idades entre os 40 e os 49 anos, que têm pelo menos um dos progenitores com educação superior, a probabilidade de obterem formação académica superior ou um grau de estudos e investigação avançado aumenta em média 30% , na generalidade dos países da OCDE.

Investimento público

A OCDE fez ainda contas ao investimento público no ensino superior. Em Portugal, entre 2010 e 2014, os anos da crise económica e da intervenção externa da ‘troika’, houve uma quebra de 9% na despesa com o ensino superior público.

“Como o número de alunos no ensino superior também caiu nesse período, a quebra na despesa por aluno fixou-se nos 3%, mas contrariando um crescimento médio de 6% nos países da OCDE”, aponta o relatório.

Os 9.984 euros gastos por aluno do ensino superior (incluindo investigação científica), em 2014, em Portugal ficam milhares de euros abaixo da média de 13.507 euros da OCDE e dos 13.523 euros da média da União Europeia a 22 (UE22), destaca a agência Lusa.

Em 2016, a percentagem de portugueses entre os 25 e os 34 anos com um diploma do ensino superior era de 35%, um crescimento de 16 pontos percentuais face a 2005. Alargando a faixa etária até aos 64 anos, a percentagem de diplomados, em 2016, era de 24%, abaixo da média da OCDE de 37%.

Sobre outro tipo de encargos com a educação superior, o relatório mostra que a taxa de retorno dos custos (privados) com as mulheres a frequentar o ensino superior, em Portugal, por comparação com os custos gastos com as mulheres que concluem o secundário, é de mais 16%. Os cálculos incluem o efeito do desemprego, descontos e encargos sociais. A Turquia é o país da OCDE onde essa taxa de retorno é maior: 26%, ou seja, é onde compensa mais ser mulher e tirar uma licenciatura.

 

Ana Tomás