Da saia com 300 metros de pano à capa de fogo. Cruella vem arrasar com o guarda-roupa

cruella vestido

Irreverência, cor e confronto. Cruella de Vil está de volta aos cinemas já esta quinta-feira, 27 de maio, e quer-se ousada e numa verdadeira batalha de estilo. Criações e ainda mais recriações, muitas a partir de peças vintage, que saíram dos esquissos e da cabeça da equipa liderada por Jenny Beaven, de 70 anos, figurinista e já galardoada com dois óscares em Mad Max: Estrada da Fúria (2015) e Quarto com Vista Sobre a Cidade (1985).

Agora, a responsável de guarda-roupa, natural de Londres e já nomeada Oficial da Ordem do Império Britânico em 2017, criou o duelo entre a baronesa von Hellman (Emma Thompson) e Estela Cruella (Emma Stone).

Beavan juntou o imaginário de baile de Marie Antoinette com pinceladas dos anos 60 do século passado, de Dior e Balenciaga e costurou-o com a cena punk, a iconografia militar, o estilo da cantora alemã Nina Hagen e com a ousada de John Galliano. Tudo no mesmo filme que recupera a atmosfera londrina dos anos 70.

Em conferência de imprensa, Jenny Beavan revelou como deu largas à sua imaginação e memória dessa época e, com uma vasta equipa, concebeu cerca de 80 coordenados: 47 para Cruella e 33 para a baronesa. E como fez a distinção? “Sou muito instintiva”, afirmou. Ler o guião, distinguir a essência e perceber a evolução das personagens foi o caminho, detalhou.

E ainda antes das luzes do cinema se apagarem (ou as da sala – o filme vai ser exibido em streaming na Disney+, a partir de sexta-feira, 28 de maio), há peças que dão efetivamente nas vistas.

O vestido vermelho de Estella à chegada do baile. “Precisávamos de fazer uma saia muito larga que cobrisse o carro todo com que Cruella chega ao baile. Tinha de ser grande, mas leve o suficiente”, explica Jenny Beavan. Não se recorda dos números concretos deste vestido detalhado por Ian Wallace, membro da equipa da figurista, mas há um dado que ressalta:”Creio que foram usados mais de 300 metros de tecidos”, referiu Beavan. Mais de cinco mil tiras de tecido costuradas à mão.

E se este detalhe salta à vista, a par da maquilhagem e dos cabelos – “essa relação é muito importante porque só com isso se cria todo o look”, diz Beaven, que dizer da capa que pega fogo? Mas neste caso, o efeito visual deu uma ajuda. “Isso estava no guião. Existem fios de fogo e tecidos que se incendeiam sem matar um ator, mas o nosso foi um efeito visual”, referiu.

Mais do que designer – e neste filme teve de dar vida a duas e em confronto -, Jenny Beavan apresenta-se mais como “contadora de histórias através da roupa”, uma arte a que deu rédea solta nos teatros e óperas. Mas o que muda aqui? “Temos uma história clara. A baronesa é uma grande designer, ela está um pouco antiquada. A Cruella é completamente o oposto, é a rebeldia. Adora moda e juntar tudo”, conta Jenny. Por isso, coser a criação ao vintage ganhou aqui licença e espaço para se projetar numa Londres que a figurinista conheceu bem. “Este filme trouxe de volta o meu passado, os lugares, os cheiros de quando era sobretudo figurinista no teatro e na ópera”, recorda Jenny.

Um imaginário que foi recriado em contrarrelógio. Se originalmente a equipa teve dez semanas para preparação, o extra de mais seis – um compasso de espera devido a um problema no ombro, de Emma Stone – vieram mesmo a calhar. Um trabalho que foi sendo terminado à medida que o filme foi sendo rodado, num total de mais 14 semanas.