As declarações do eurodeputado socialista português Manuel dos Santos e do porta-voz do PP espanhol Rafael Hernando, em relação a colegas e adversárias políticas, fizeram correr muita tinta e agitaram a semana política nos dois lados da fronteira.
Na quinta-feira, 15 de junho, o eurodeputado português usou a sua página de Twitter para chamar “cigana” à deputada, também do PS, Luísa Salgueiro, “não só pelo aspeto”, mas porque “paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas”, escreveu.
“Luísa Salgueiro, dita a cigana e não é só pelo aspeto, paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas”, afirmou Manuel dos Santos num dos ‘tweets’.
Os termos usados para se dirigir a um membro da mesma família política levaram várias figuras destacadas do Partido Socialista a condenar o eurodeputado e defender a sua expulsão, como pediu António Costa, na qualidade de secretário-geral do partido.
Também Elza Pais, presidente das mulheres socialistas, classificou as declarações do eurodeputado como sendo do “domínio do sexismo”, “inenarráveis e de uma xenofobia extrema”.
Os ‘tweets’ começaram com críticas aos deputados socialistas do Porto que votaram na Assembleia da República uma saudação à candidatura de Lisboa para acolher a Agência Europeia do Medicamento (EMA), mas acabaram por extrapolar para um campo que muitos, dentro do partido, consideraram insultuoso e contrário aos valores do PS.
Elza Pais sublinha que se trata de um comentário “nada digno de um eurodeputado” e de quem “não consegue colocar as críticas à candidata Luísa Salgueiro, candidata à Câmara de Matosinhos, no campo do confronto político, onde elas devem ser colocadas” e o faz “no domínio do sexismo e da xenofobia”.
A antiga presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) considera que o eurodeputado Manuel dos Santos devia fazer um “pedido de desculpas público” à deputada Luísa Salgueiro, já que fez comentários “muito pouco dignos” e que violam os valores da família política a que pertence e que se pautam “pelos princípios da igualdade e não discriminação”.
Questionada sobre se um pedido de desculpas é suficiente, lembrou que o secretário-geral do PS, António Costa, “foi muito mais longe até”, ao dizer que iria colocar a questão na comissão de jurisdição para se avaliar inclusivamente a expulsão do eurodeputado do partido.
O PS “não pode aceitar de maneira nenhuma que pessoas que têm responsabilidade política” tenham comentários “duma xenofobia extrema e de um sexismo inenarrável”, reiterou a deputada socialista.
A “primeira dama” do Podemos
Em Espanha, a polémica estalou num debate entre dois partidos.
No debate da moção de censura, apresentada pelo Podemos contra o governo do PP, devido aos escândalos de corrupção que têm envolvido membros destacados deste partido, Rafael Hernando recorreu a considerações machistas para defender o seu partido.
O porta-voz do PP no Congresso dirigiu-se à porta-voz do Podemos, Irene Montero, que apresentava a moção, insinuando que esta manteria uma relação com o seu colega e líder de partido, Pablo Iglesias.
As declarações, aplaudidas na bancada do PP e recebidas com indignação pelo Podemos, levaram o político a ensaiar uma retificação às suas palavras, que acabou por trazer considerações ainda mais machista.
“Se vos incomodei ou ofendi com as minhas palavras, peço desculpa. Falava de uma relação simplesmente política. Tenho uma grande estima pela porta-voz”, disse, referindo-se a Irene Montero, prosseguindo: “Creio que é uma boa porta-voz e creio que ainda tem muitas coisas para fzer nesta Câmara.”
As reações não tardaram, com várias personalidades políticas, incluindo a própria Irene Montero, a comentarem, nas redes sociais, as declarações de Rafael Hernando, classificando-as de “machismo asqueroso” e “caspento”.