A última pessoa a falar em Cabala foi Paula Brito e Costa, presidente da associação Raríssimas, aquando da apresentação da demissão do cargo na terça-feira, 12 de dezembro, na sequência do escândalo de gestão danosa e uso indevido de dinheiros públicos. No dia em que comunicou a saída disse, em declarações ao Expresso, que estava a ser alvo de “uma cabala muito bem feita”.
No mesmo dia, mas com recurso a outras palavras, Donald Trump insinuava que estava a ser vítima de uma maquinação no âmbito das acusações de assédio sexual, considerando que se tratava de uma nova tentativa para o destruir depois de as informações de alegada proximidade à Rússia não terem, explicou o governante, funcionado.
A cabala pode ser bem ou mal feita, ser montada contra uma pessoa ou instituição e maquinada por alguém que raramente é identificado. Curiosamente, quer em Portugal, quer fora de portas, tem sido um vocábulo muito usado por quem está a ser, de alguma forma, alvo de uma investigação criminal.
Na galeria acima fique a conhecer os protagonistas que já usaram a expressão. Políticos, celebridades e dirigentes. A “cabala” até chegou ao Canelas Futebol Clube 2010 e, em tempos, aos medicamentos genéricos.
O que é?
Nada melhor que a definição, arredando, desde já, o significado místico e religioso que a palavra pode ter. Cabala é uma interpretação judaica da Bíblia, através do simbolismo dos números e das letras do Antigo Testamento. Não é, contudo, por esta razão que a palavra tem sido usada. O que políticos, desportistas e figuras de relevo em geral querem dizer quando empregam o vocábulo é que estão a ser alvo de um enredo ou pacto secreto dirigido contra eles.
Que outros sinónimos de cabala existem?
Segundo o dicionário da Porto Editora, são bastantes: “cachimanha, conjuração, conluio, conspiração, enredo, fação, intriga, maquinação, multa, trama, tramóia”.
Porque é que é usada?
Os visados que ultimamente têm usado a palavra enfrentam investigações criminais. Negam as acusações que lhes são feitas e consideram que estão a ser alvo de um conluio orquestrado por alguém – raramente identificado – que tem por objetivo pô-los em causa ou mesmo destruí-los.
Origem da palavra?
De origem hebraica, Qaballah diz respeito ao conjunto de ensinamentos filosóficos e religiosos cultivados na tradição judaica que decorre de uma ordem oculta que está por trás e dirige o mundo. Códigos que estarão vertidos nas letras e números da Bíblia e que devem ser interpretados. “A partir de 1670, designou também um ministério inglês, porque as iniciais dos sobrenomes dos ministros – Clifford, Aschley, Buckingham, Arlington, Landerdale – formavam esta palavra”, acrescentou Deonísio da Silva, no livro A Vida Íntima das Palavras.
Como evolui para maquinação?
Segundo o site Ciberdúvidas, que cita aquele autor, “o sentido em que a palavra tem sido ultimamente utilizada em Portugal é o seu sentido figurado («maquinação; intriga; conluio»), como se houvesse ‘uma ordem oculta’ dirigindo as mediáticas detenções relacionadas com o chamado escândalo de pedofilia.
Imagem de destaque: Shutterstock