#delasfaz: Passámos 45 minutos sem wi-fi e a brincar com crianças

À chegada há duas regras: uma dita e outra escrita. A primeira pede para que filhos e pais tirem os sapatos, a segunda figura numa folha A4 sobreposta numa parede colorida: não temos wi-fi. Estas são as normas do Gymboree Restelo, um espaço que foi inaugurado em setembro, e que se apresenta como uma arena da brincadeira que procura, através dela, estimular o desenvolvimento da criança nas suas várias vertentes. Aos progenitores são pedidos 45 minutos de alheamento total. Sim, alheamento do mundo lá fora – sem telemóveis ou distrações de outra natureza – e total e absoluta concentração no seu filho

Rita Correia e Catarina Pires, ambas educadoras infantis, de 30 anos e cunhadas, são as anfitriãs deste novo espaço. Por razões diferentes – nem sempre boas – deixaram as escolas onde trabalhavam para abrir este franchising norte-americano infantil numa das ruas da capital e que quer ajudar as crianças a irem mais além nas suas faculdades e que, à boleia disso, parece que conseguem ensinar pais a voltar a brincar com os seus filhos.

Imaginação e muito salto!

Tudo começa, tudo se passa e tudo acaba… no chão. 45 minutos de um lado para o outro, conduzidos por um tema que, no dia em que o Delas.pt cumpriu a experiência, girava em torno das árvores. Os escorregas coloridos de madeira passam a ser troncos, os pacotinhos com números passam a ser pedras, os panos coloridos transformam-se em folhas, as bolas em maçãs e laranjas e as bolhinhas de sabão ganham novo nome: chuva.

E se parece estranho a um adulto entrar neste imaginário, certo é que uma criança dos 22 aos 28 meses não vê outra coisa que não uma floresta. E não se engana: chama tronco ao escorrega, chama chuva às bolas de sabão e por aí fora.

Espaço do Gymboree Restelo [Fotografia: Divulgação]

Ninguém se arrisca a ser o pai ou a mãe duros de ouvido que recusam acompanhar o filho nesta viagem que é feita a quatro mãos – o progenitor e o descendente – ao lado de outras famílias em iguais circunstâncias.

“Mudamos o tema a cada duas semanas”, diz Rita, que acrescenta: “agora são as árvores, mas já tivemos os comboios, e pode ser o que quisermos.”A educadora de infância, que chegou a ser au pair do outro lado do Atlântico, nota que “os pais, regra geral, estão abertos à descoberta e querem aprender coisas novas”.

Rita Correia, educadora de infância e cofundadora do Gymboree Restelo [Fotografia: Divulgação]

E é mesmo bom que o façam porque, após uma aula de brincadeira, há um resumo do que se passou e são entregues, numa folha, os TPCs recomendados. “Promover o interesse da criança nos jogos faz de conta”, “plantar um jardim de flores na sala, levando o filho a plantar ‘sementes’, pondo blocos debaixo da terra (almofadas)” e “colocar almofadas (folhas) pela sala e dizer à criança para ‘varrer’ todas as ‘folhas’ e pô-las num monte” são algumas das sugestões deixadas no documento.

Até ao momento, estes trabalhos de casa concretos que o Delas.pt recebeu ainda estão por cumprir, mas o mais importante não: o de jogar ao faz de conta com qualquer coisa que surta interesse na criança e o de ver um rapaz de 28 meses a falar do Gymbo (mascote) nos dias seguintes à aula.

Catarina Pires, educadora de infância e cofunadora do Gymboree Restelo [Fotografia: Divulgação]

Ter ido ao Gymboree (pode ver imagens do espaço na galeria acima) pareceu – por todas estas razões – tanto uma aula de como um adulto pode reaprender a brincar como um momento de lazer memorável para os mais pequenos. “É a envolvência dos pais e dos adultos que levam a que a criança aprenda coisas novas”, vinca Catarina Pires, que foi empurrada para esta alternativa depois de “ter ficado grávida e de o jardim-de-infância não ter renovado o contrato”.

“O espaço é ditado pela criança e não pelo adulto”

Carolina Almeida Canto é a diretora pedagógica da estrutura norte-americana em Portugal e admite que “existem pais que não sabem quais são as características de desenvolvimento da criança e que, por falta de tempo ou desconhecimento, não se sentam com os seus filhos a brincar. Às vezes, o papel do professor do Gymboree passa por ajudar os pais a compreender o comportamento das crianças”, refere. Mas não há equívocos: “O espaço é ditado pela criança e não pelo adulto”, reitera Carolina Canto. “Talvez, hoje, os pais estejam mais despertos para esta questão da parentalidade positiva e da importância da brincadeira no desenvolvimento de competências sociais e não só da criança”.

Há 11 anos a operar em Portugal, há vários Gymborees em território nacional que respondem aos múltiplos níveis dos mais pequenos: dos 0 aos 6 meses até à faixa etária dos 3 aos 5 anos. As aulas de Play & Learn (Jogar e brincar), revela a empresa numa brochura que é entregue aos pais no final da sessão, exploram o desenvolvimento visual e auditivo, o fortalecimento muscular, a comunicação, a exploração de padrões e conceitos, a imaginação, a curiosidade e a autoconfiança. Cada faculdade para cada nível de desenvolvimento infantil.

Para lá das aulas de Play & Learn, há outras modalidades como o Baby Lab e parcerias com escolas, refere a diretora pedagógica nacional, Carolina Almeida Cantos [Fotografia: Divulgação]

Aulas a partir de 25 euros

Os preços não são acessíveis aos bolsos de todos, como, de resto, qualquer atividade infantil de tempos livres. Ainda assim, para lá de uma primeira aula grátis (que requer inscrição), no espaço do Restelo, há pacotes de cinco e dez aulas (100 e 180 euros, respetivamente) e planos mensais de uma aula por semana (por 55 euros por mês) ou duas vezes (75 euros). Uma aula avulso tem o custo de 25 euros.

Catarina Almeida Canto lembra também que “existe um programa de bolsas que podemos atribuir a quem nos procura, fazendo, para tal, uma candidatura”.

Verbas que, segundo a diretora pedagógica, “são atribuídas por quem detém os espaços”, mediante avaliação interna para apurar o desconto possível, o valor de bolsa que pode ser atribuído àquela família. É assinada, depois, uma inscrição de frequência das aulas”, garante, sem revelar os intervalos financeiros ou métodos contemplados. “Não conseguimos chegar a todos, mas acabamos por conseguir focar em alguns”, refere a diretora pedagógica desta cadeia da brincadeira infantil que nasceu há cerca de quatro décadas e está presente em mais de 40 países.

Por cá, a rede tem, para lá dos franchisings, estendido o seu raio de ação a escolas, através de parcerias. “O Gymboree também tem um papel ativo nas comunidades educativas, estão mais nas escolas. Há um professor num horário pré-definido e semanal que faz as aulas naquela creche ou naquele infantário”, refere Carolina Canto, acrescentando que, nestes casos, “existem balizas de preços nas escolas, ajustados às diferentes realidades das escolas, mas não é taxativo”.

Imagem de destaque: Divulgação

Brincar recomeçou nas ruas de Leiria e já chegou ao Reino Unido e à Alemanha