#delasfaz: Kitesurf pela primeira vez

O desafio XS Sports Nutrition, uma marca de suplementos alimentares, era passar dois dias em Tarifa, a capital do Kitesurf, para experimentar a modalidade e conhecer o campeão mundial em 2013, Alex Pastor? A minha resposta? “Claro! Vamos a isso!”

Não sou uma praticante assídua de desporto mas esta proposta é irrecusável. Uma experiência nova, praia e mar, e claro, Espanha, são motivos para meter o fato de banho na mochila e seguir para o aeroporto, independentemente das temperaturas que me esperam.

Vento. Aliás, muito vento é a primeira de todas as impressões. Estamos, portanto, no sítio certo. Da varanda do hotel vê-se o mar e as cores garridas dos kites são as únicas ocupantes daquele extenso areal. Em Tarifa, multiplicam-se as escolas desta prática. A atividade é a principal fonte de rendimento e é aqui que Alex Pastor, natural de Málaga, decidiu abrir uma escola, depois de receber o título de campeão há quatro anos. Este rapaz – tem 28 anos – é já um dos nomes mais falados a nível mundial e é também um ótimo cicerone. Apresentações feitas, uma caña tomada e é tempo de ir para a praia. Num grupo de 15 pessoas, não há praticantes habituais e parecemos todos aprendizes numa primeira aula de Educação Física.

Alex Pastor, natural de Málaga, decidiu abrir uma escola, depois de receber o título de campeão mundial de kitesurf há quatro anos

Em grupos de quatro pessoas ouvimos a teoria. No nosso caso, ouvimo-la em português com sotaque do Brasil. Heron Salgado, nascido no estado do Espírito Santo, está atento a todos os pormenores mas é a história que vai contando que nos cativa. Criança pobre, trocou limpezas numa escola de kitesurf pela oportunidade de aprender. Ganhou confiança e jeito para a coisa, mudou-se para Miami, deu aulas para pagar os kites que comprava e revendia. Atravessou o Atlântico de barco com uma família italiana, passou um mês a comer pasta para pedir o passaporte europeu. Chegou a Tarifa por causa do desporto e ali pensa ficar mais uns anos enquanto mantém um pequeno negócio de venda de açaí.

Antes de sequer colocar o corpo na água, há que dominar o kite na areia. “É uma questão de equilíbrio, não de força”, diz-nos Heron. Soa bem mas é complicado, sobretudo para quem guarda todas as dores do mundo nos ombros. “Esquerda, direita, esquerda, direita”, ao sabor do vento que sopra forte. Há que olhar para o kite e para a condução, não fazer pressão ou “potência” e encostar os cotovelos ao corpo. Há quem treine sentado na areia para se mexer o menos possível e não se deixar ir. Algumas horas depois, quando a tendência já não é puxar o kite com força, começa a surgir uma leve sensação de equilíbrio. «Na água é mais fácil, vocês vão ver», assegura-nos Heron. E tem toda a razão. No dia seguinte, e com algumas dores de quem não treina normalmente, voltamos à praia totalmente equipados para a fase seguinte. O vento está crispado e desorienta o kite algumas vezes. Sempre na retaguarda, o brasileiro auxilia com uma mão e segura-nos com a outra.

O formador Heron Salgado entra na água com a jornalista Ana Patrícia Cardoso

E ainda bem porque, se na areia já nos deixamos ir, na água parece que voamos. É mesmo essa a sensação, quando vem uma rajada mais forte e os pés deixam a superfície. Na água, há que lutar contra a corrente, manter o equilíbrio, “esquerda, direita, esquerda, direita”, evitar as ondas na cara e tentar não prestar muita atenção aos profissionais que estão à nossa volta a fazer tudo parecer tão fácil. Assim que o meu kite cai, eis que passa o Alex na sua prancha, a deslizar na água a alta velocidade – chega aos 40km/h – e ainda sorri. Faz umas piruetas sem nunca perder o controlo e ainda acena para a fotografia. Atenção, sem nunca perder o controlo. É aí que se percebe o investimento e as horas por de trás da aparente facilidade. Foram muitos anos – desde os oito – e muitas quedas. Eu estou apenas a começar e ainda tenho alguma dificuldade em distinguir a direita da esquerda. No final do dia, só se veem caras sorridentes. Entre o espanhol, inglês e italiano, trocamos experiências e reafirmamos a vontade de continuar. O pôr-do-sol despede-se de nós e Tarifa deixa saudade. O vento, esse, nunca deixa de soprar.

Ana Patrícia Cardoso