A designer brasileira Juliana Herc vive e desenvolve a marca homónima criada em 2014, na cidade do Porto. São 20 os trabalhadores, distribuídos por seis pisos, que contribuem para esta marca. Desde o primeiro esboço no papel até ao momento em que as roupas são concretizadas, tudo é feito dentro destas quatro paredes. Só os tecidos, quase todos importados de França, Inglaterra e Itália, não são concebidos aqui.

Na sala de stock, no piso -2, estão todos os materiais utilizados nas peças desenhadas por Juliana. Tecidos, botões, fechos, apliques e outros elementos. Este é também o espaço onde a criadora guarda os modelos já produzidos e prontos a enviar para a loja. Durante a nossa visita encontrámos alguns dos modelos da coleção de verão de 2018 que devem chegar ao mercado já no final de janeiro. Bem embrulhadas estavam peças românticas, em tons neutros e feitas de tecidos leves, que contrastavam com alguns coordenados mais vibrantes de cor azul-turquesa. Sem desvendar muito, Juliana Herc, referiu que a próxima coleção vai trazer muitos vestidos longos.

No piso acima, conhecemos a sala de produção e as várias etapas da construção de uma peça de vestuário. Primeiro é preciso desenhar cada molde em papel e cortá-lo; depois estes moldes são usados para marcar a forma nos grandes panos de tecido; em seguida cada uma das partes do tecido é cosida às outras para montar a peça de roupa; no fim de tudo, o artigo é passado a ferro.

“Até chegar ao [modelo] final chegamos a fazer seis protótipos. Isso requer tempo, matéria-prima desperdiçada, tempo de costura, gasto de papel… Mas é por isso que as peças Juliana Herc caem no corpo de uma forma completamente diferente das outras – porque vamos fazendo várias afinações até conseguir chegar à peça final”, explica Juliana Herc.

No andar de cima, no piso zero, encontramos o estúdio de fotografia profissional, equipado com luzes, tripés, câmaras e tantos outros instrumentos necessários para as sessões fotográficas que Juliana faz questão de fazer em casa:

Procuro fazer tudo internamente para ser mais fácil conciliar a agenda com o fotógrafo e também por uma questão de segurança, para que as imagens não circulem antes do previsto. Optei por montar um estúdio e ter um fotógrafo a tempo inteiro”.

Continuámos a subir e no 1º andar, encontrámos o showroom. Um espaço com luz natural e com um pequeno jardim. Vários charriots compõem a divisão, atualmente com as peças da coleção de outono / inverno para 2017. Bodys e vestidos são as peças que mais se destacam. Existem ainda alguns casacos e conjuntos de blazer com saia ou com calças, tudo nas cores preto, vermelho ou rosa claro.

A visita prossegue e Juliana leva-nos até ao 2º piso, onde funciona a sala de design e sala do bordado. A primeira é o espaço onde a estilista trabalha os esboços e as ideias que vão surgindo, a segunda divisão é onde se pensa nos acabamentos das peças. É aí que se aplicam pedras, brilhantes e outros apliques, um a um, sempre à mão.

Por fim, no último piso, Juliana deu-nos a conhecer um espaço mais pessoal, composto por um escritório, uma pequena sala, uma cozinha e um espaço exterior, uma espécie de roof top.

Contente com o espaço, Juliana Herc confessa: “Além de ser um espaço lindo é onde eu consigo concentrar todas as áreas de trabalho e assim também consigo fazer um acompanhamento melhor. Estou muito feliz com a escolha que fiz e com o projeto. É uma marca que foi apresentada há três anos e meio ao mundo e que foi muito bem aceite. Todos os dias damos passos largos de crescimento. Só tenho a agradecer”.

Designer por um dia

Foi na mesa de vidro da sala do showroom que Juliana Herc nos disponibilizou lápis e borracha, amostras de tecidos e folhas para desenharmos possíveis coordenados. O objetivo era percebermos o início do processo criativo de um designer. Muito há a ter em conta na hora de pensar uma peça. Além da inspiração e de mão para o desenho, é preciso ter noção dos materiais, saber como estes resultam quando são juntos e conseguir prever se, no fim, a peça terá quase tudo para ficar como a idealizámos. Algo que pode não acontecer.

Sob a orientação da designer fomos pondo mãos à obra. Desenhámos casacos, vestidos e camisas. No fim elegemos uma peça, aquela que gostaríamos de ver saltar do papel para o mundo real.

O mais difícil foi começar, decidir o que desenhar e conseguir uma peça diferente e original. Depois de alguns minutos surgiu o primeiro esboço: um blazer. Seguiu-se um vestido e quando demos por nós já tínhamos desenhado cinco coordenados diferentes. Estava na hora de escolher os tecidos com que confecionaríamos os modelos. Nesse momento percebemos que este processo requer tempo e paciência, sobretudo a mistura ou sobreposição de vários têxteis.

Determinados modelos obrigam ao uso de um tipo de tecido, mais fluido ou mais estruturado, caso contrário a peça pode não ficar como no desenho. Materiais leves, quando conjugados com outros mais fortes, podem alterar o resultado esperado. Por exemplo, um blazer com a zona do tronco feita de um têxtil mais fluido, não vai suportar uma gola de um tecido mais pesado.

Também a colocação de fechos ou botões tem de ser bem pensada. De acordo com o design da peça existem zonas onde a abertura pode não resultar, acabando por ser impossível vesti-la.

Fora desta experiência ficou todo o trabalho de produção: modelagem, corte e costura. Etapas igualmente importantes e que reforçam a ideia de que por detrás de cada peça, que temos em casa, existem horas de trabalho.

[Imagem de destaque: Juliana Herc]

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