#delasfaz: um hotel para muaythais

Guesthouse no Estoril pretende trazer o espírito dos campos de treino de Muay Thai da Tailândia. Aulas privadas e refeições saudáveis, para passar uns dias em que corpo e mente estão em sintonia.

São João do Estoril. 11 da manhã. Chego ao Lucky’s cheia de vontade de conhecer esta guesthouse que tem um campo de treino de Muay Thai. Quem me mostra o espaço é a criadora do conceito, Maria Villar, apaixonada pelos desportos de combate, Boxe e Muay Thai em particular, por decoração e por viagens. Nos EUA treinou Tae Bo com Billy Blancs, e de regresso a Portugal queria abrir um campo de treinos, como os que viu pelo mundo fora. Encontrou o espaço ideal nesta “casa de verão de famílias aristocráticas, com origens que remontam ao século 19, embora tenha sido recuperada ao estilo dos anos 50”. A ela juntou-se Nuno Neves, “que foi cinco vezes campeão do mundo, cinco vezes campeão europeu e 10 vezes campeão nacional (de Portugal) em várias artes marciais, tais como Muay Thai, Kick Boxing, Thai Boxing, Boxing & K1”, segundo podemos ler no comunicado.

Dado o primeiro passo (ou alguns kicks) e o Lucky’s nasceu no final do verão passado. Guest house, campo de treino com ringue e restaurante all day menu. E o que é que isto quer dizer? Que aqui pode vir e ficar em diferentes modalidades. Pode vir apenas treinar ou comer uma refeição. Pode cá passar uma ou duas noites e ter aulas privadas com Nuno Neves. Pode programar uma semana ou duas e, entre treinos personalizados e aulas de grupo (no Dramático, outro espaço onde Nuno é professor), sair daqui bem mais fit (após um programa de aulas e alimentação construído para as suas necessidades) e sobretudo mais forte psicologicamente.

“Nuno Neves, “que foi cinco vezes campeão do mundo, cinco vezes campeão europeu e 10 vezes campeão nacional (de Portugal) em várias artes marciais.” (DR)

Aliás, durante o meu treino personalizado, Nuno refere muitas vezes o lado mental do treino. É que, para quem nunca fez nenhum desporto de combate, parece que é algo muito violento e no qual o objetivo é “andar à porrada”. Nada mais longe da verdade. Quer dizer, damos murros, sim. E largamos más energias no saco. Mas este é um jogo com estratégia, um xadrez dos 4 membros do corpo humano, e da mente. Durante a sessão, várias vezes o Nuno me para, e fala, dá conselhos: Inspira, expira. Equilibra-te. Move-te de um pé para o outro. Olha para mim, a olhar para as minhas pernas não vês o que estou a fazer com as mãos. Isso, defende-te. Respira. Calma, isto pensa antes de agir. Abre os braços, isso faz força, e evita que os meus cheguem a ti. Estas e muitas outras frases são usadas para me dar pequenos indícios mentais de como agir. São repetidas e ficam cá dentro, até que no final do treino estou a fazer algumas das coisas de forma automática. E ele reforça: Isso, está a ver, muito melhor agora. Sinto-me mais forte e com um maior grau de concentração, um certo estado de alerta que se prolonga durante a hora do almoço que irei ter com os proprietários a seguir. A repetição de movimentos e ideias faz-nos agir de forma mais eficaz, aqui no treino, e tal há de ter efeitos no resto da vida, na parte profissional e pessoal.

Percebo agora porque muitos atletas de outras modalidades procuram o Muay Thai como desporto acessório. Não será tanto para ficarem mais fit, porque isso regra geral já são – mas se por acaso não estiverem, rapidamente ficam. É pelo equilíbrio, pelo jogo mente-corpo que se consegue, pelo trabalho da respiração em ação direta com o movimento.

“Durante a sessão, várias vezes o Nuno me para, e fala, dá conselhos: Inspira, expira. Equilibra-te. Move-te de um pé para o outro.”

E os benefícios que esses efeitos têm depois em nós enquanto seres humanos. Nuno Neves tem dedicado a sua vida a ajudar os menos favorecidos a encontrarem o seu caminho através da dedicação às artes marciais e ultimamente tem preparado vários desportistas profissionais: “a seleção portuguesa de rugby, o campeão mundial de surf, Frederico Morais (Kikas), assim como João de Macedo, o primeiro surfista profissional português e europeu a qualificar-se para correr o Mundial de Ondas Grandes de remada (World Surf League), e ainda António Felix da Costa (piloto oficial da BMW e FIA Fórmula E), vários jogadores de futebol e muitos CEO de sucesso”, resume-nos.

Maria Villar e Nuno Neves perceberam que havia mercado para este tipo de guest house, onde se recebem hóspedes que são apaixonados pelas artes marciais, num ambiente de bem-estar e espiritualidade – há budas espalhados pela casa e toda uma alma zen. Estamos no Estoril, onde o sol aparece muitos dias do ano, e conseguimos sentir um pouco o espírito dos campos de treinos da Tailândia, para onde cada vez mais e mais pessoas vão de férias – eu própria já lá estive 3 anos consecutivos, dois deles com temporadas exclusivas em campos de treino. Mas agora, sempre que sentir saudades, posso apenas conduzir até à Linha e vir fazer um treino no Lucky’s. Ou até vir apenas almoçar, pois a sopa de couve-flor que comi e o peito de frango com legumes que, não sendo o prato do dia, me fizeram para não estar a comer hidratos, estavam deliciosos.

Quem mora mais longe, ou quer apenas uma experiência diferente, pode ficar num dos 9 quartos, que se dividem em suites, quartos duplos, e bungalows familiares – a casa inteira recebe até 23 pessoas, quem sabe alguém não aluga tudo para umas férias de família fit? Há várias zonas lounge e recantos para maior privacidade, e todos estão ao nosso dispor. Se avisar antes da reserva, até pode trazer os seus animais de estimação. A praia está a 10 minutos a pé, mas aqui ainda há terraços para banhos de sol, um jardim com árvores centenárias, o jacuzzi ao ar livre (a Maria chama-lhe “o tanque”), e claro, o restaurante All Day Food, aberto para pequeno-almoço, all day brunch, almoço, ou cocktails.

Veja a galeria de imagens, em cima, e fique a conhecer melhor este hotel para os apaixonados das artes marciais.

O que pode fazer no Lucky’s:
– Aula individual personalizada;
– Comprar pack de aulas e treinar assiduamente;
– Fazer check in e treinar quantas vezes quiser, tendo acesso às zonas comuns e às refeições;
– Treinar em sessões com mais um ou dois amigos;
– Vir almoçar a qualquer dia o Lucky’s Daily Manu, na sala decorada com madeiras ou no exterior a ver as aulas a decorrer (€12)
– Passar a tarde a treinar e comer um snack ao cair do sol, juntamente com um cocktail.
– Vir ao domingo, treinar e a seguir comer o brunch (das 12h às 17h, €20/pessoa o brunch)
– Aula seguida de massagem tailandesa.
(Marcações aconselhadas).

Informações práticas: A 10 minutos a pé da praia da Azarujinha, em São João do Estoril, a 3 km de Cascais, a 23 km do aeroporto de Lisboa e a 10 km de Sintra.

 

Rita Machado