Delphine Jelk: “O olfato devia ser trabalhado nas escolas”

DELPHINE_JELK-8851
Perfumista residente da casa Guerlain, Delphine Jelk [Fotografia: Divulgação]

Nem sempre valorizados, os cheiros são vias de acesso a memórias e a emoções. Por isso, a perfumista da Guerlain revela que este sentido deveria ser mais trabalhado e sempre ao longo da vida.

“Se eu for a uma escola mostrar fragrâncias, posso apresentar um aroma simples como o limão e os professores não arriscam. As crianças são mais livres e não têm medo de errar nas fragrâncias, os adultos duvidam mais”, detalha a nez da casa perfumista aquando da apresentação da coleção Aqua Allegoria Harvest [Neroli Vetiver, Mandarine Basilic e Rosa Rossa], em Portugal.

[Fotografia: Divulgação]

Por isso, a recomendação desta especialista é clara: “O olfato devia ser trabalhado nas escolas” para que a capacidade não seja perdida.

Três recomendações para se ser perfumista

“Costumo dizer que são necessários três ‘P’s: Paciência, perseverança e paixão”, detalha Delphine Jelk, acrescentando a curiosidade e criatividade. “É preciso sentirmo-nos inspiradas, pode ser um filme, uma viagem, um reencontro, é importante estarmos sempre curiosas e atentas”.

A formação para conseguir ser perfumista, explica Delphine Jelk, dura cerca de dez anos, lembrando que pode ser sempre um caminho de dúvida. “Levei muito tempo a sentir-me uma legítima perfumista porque duvidei, mas, por outro lado, sempre fui muito apaixonada, trabalhadora. Tenho mil ideias, começo a escrever uma fórmula muito curta e depois vou para o laboratório e vou testar”, descreve.

A descoberta deste métier chegou com a vontade de querer “tocar o universo visual em todos os sentidos”. E exemplifica: “Tenho uma caxemira bege, o que me lembra um bebé, e aí começa a história. É desta forma que trabalho ideias, com algo de muito visual, com o tacto, depois as sensações apelam a novas sensações. Procurar a essência das coisas foi o que me levou a querer desenvolver esta profissão.”

Quanto aos cuidados que tem com o olfato, Delphine Jelk remete mais para a atitude perante a vida. “Não tenho cuidados especiais, concentro-me mais sobre a importância de adorar a vida, é preciso estar-se curiosa para incrementar a criatividade e estar sempre atenta ao que acontece à minha volta. É um trabalho de sensações e de gostar da vida”, revela. E acrescenta: “Preciso de estar feliz, curiosa e inspirada, adorar flores, sabor, natureza, arte. Se estou num mau mood é mais difícil.”

Portugal cheira a “baunilha salgada”

E se o olfato é e parte de emoções sensoriais, visuais e táteis, a que cheiraria Portugal se Delphine Jelk fosse convidada a fazer um perfume a pensar no País? “Criei um perfume que vai sair no outono que remete para o universo da madeira, do sal e da baunilha, uma fragrância que criei inspirada numa praia que adoro”, revela. Daqui emergiu a ideia da “baunilha salgada”, que, afirma Jelk, a remete “também para Portugal”.

Como estão à beira do mar, penso nas árvores, no pinho, e penso também que numa coisa que adoro em Portugal, os Pastéis de Nata. Quando venho a Lisboa com os meus filhos vamos sempre a pastelarias para provarmos qual é o melhor, é uma verdadeira degustação”, brinca a nez da Guerlain. “Por isso concilio a baunilha com os cheiros salgados e iodados do mar, a fazer lembrar uma saída da praia, seria também a minha ideia de Portugal”, conclui.