Sara Carbonero transformou o prémio que recebeu da Associação Espanhola Contra o Cancro num relato confessional e num discurso inspirador para quem atravessa uma doença oncológica.
Visivelmente emocionada, a jornalista, de 40 anos e que chegou a viver em Portugal com o então companheiro, o futebolista Iker Casillas, falou pela primeira vez do diagnóstico de cancro nos ovários que recebeu inesperadamente num exame de rotina, aos 35 anos de idade, em maio de 2019, e de como esta “notícia mais difícil” da vida dela a transformou para sempre. “Não foi fácil para mim tomar a decisão de estar aqui hoje [na gala ELLE X Hope] a receber este prémio… Porque, para mim, é a primeira vez que falo abertamente sobre a minha doença, o cancro, à qual, durante anos, não gostava de me referir porque acreditava que se não lhe desse um nome, ela não seria real”, explicou. E detalhou: “Demorei a aceitar que esta é uma corrida de longa distância, que serei sempre uma doente oncológica e que viverei com incertezas.” Por isso, revelou ainda o processo de aprendizagem a que se submeteu. “Aprendi até a abraçá-la”, afirmou.
Carbonero – que confidenciou que ficou “três ou quatro meses sem se olhar ao espelho” e que, mais do que recorrer à psicologia, precisou de “conversar com mulheres que passaram pela mesma doençahá dez ou 15 anos e estavam vivas, fortes, a trabalhar” – diz estar atualmente num processo mais pacificado. “Hoje estou aqui [a falar em público sobre a doença], porque fiz um grande trabalho pessoal, olhei muito para dentro e percebi que esta jornada, este deserto, é feita muito melhor acompanhada, que devemos normalizar o cancro”, explicou, lembrando que estar vulnerável não é uma falha. Pelo contrário. “Ninguém é perfeito e nem fingimos ser. Mas, acima de tudo, estou aqui para enviar uma mensagem de esperança, de encorajamento a todas as pessoas que convivem com esta doença cruel”, acrescentou.
“Aprendi muito sobre o valor do tempo, que é o tesouro mais precioso que temos. […] Aprendi a viver o presente e também, como disse nosso querido Pau Donés, ‘com urgência’, aprendi que o poder do amor é tão poderoso que é capaz de transformar tudo”, declarou.
Um testemunho que não esqueceu os agradecimentos à mãe, irmã, amigos, médicos e filhos, mas que a jornalista aproveitou também para endereçar algumas palavras a mulheres que, na mesma circunstância dela, se debatem com a doença tendo filhos menores. “Quero mandar uma mensagem especial para aquelas mulheres com filhos pequenos, a quem ainda não conseguem explicar porque é que a mãe fica oito dias deitada na cama depois de cada quimioterapia e o mesmo depois de 21 dias”.
“Para aqueles que não conseguem explicar aos filhos por que a mãe não tem energia como as mães dos amiguinhos. Às vezes nem dá para os levar à escola”, acrescentou.