Denunciar é preciso

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livroMorrem, em média, 30 mulheres por ano vítimas de violência doméstica em Portugal. Vergonha e medo são as principais razões que as levam a não denunciar os seus agressores, arranjando desculpas para os sinais que marcam os seus corpos e são impossíveis de esconder.

“Entre marido e mulher não se mete a colher”. Este ditado é tão antigo que, também por isso, já perdeu qualquer significado. A violência doméstica ultrapassa as quatro paredes. É um problema social a que, familiares, vizinhos e amigos muitas vezes fecham os olhos, por receio de represálias. Mas, fingir que este flagelo não existe não é solução, muito menos o comportamento certo.

Em Portugal, a violência doméstica é um crime punível por lei. Alertar as autoridades, além de uma obrigação, é fundamental para que estas situações tenham um fim. A maioria das vítimas demora anos a ganhar coragem para conseguir dizer “basta”. Infelizmente, muitas delas nunca chegam a fazê-lo, vivendo submissas durante toda a sua vida.

Namorados, maridos, companheiros, ou “ex” tudo isso. São estes, regra geral, os autores das agressões que vão além da violência física. Mas as marcas não ficam só na pele. Perpetuam-se em pensamentos negativos, baixa auto-estima, em sentimentos de culpa e de inferioridade. Muitas vezes, a anulação pessoal instala-se de tal forma que dá origem a problemas psicológicos graves, como depressões ou ataques constantes de ansiedade.

O livro Em nome da filha, da escritora e jornalista Clara Maia de Almeida, editado e publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, é um retrato desta realidade contado na primeira pessoa. As suas páginas estão repletas de vidas marcadas pela violência. As histórias não têm nome ou rosto. São relatos de personagens reais que, por razões óbvias, se mantiveram no anonimato.

O objetivo da obra é alertar e sensibilizar a sociedade para a urgência de vigilância e denúncia destas situações, e mostrar que existem alternativas a esta realidade desumana. Um pouco por todo o país, há associações especializadas em prestar apoio a estas vítimas. Oferecem abrigo, apoio psicológico e acompanhamento, até que estas mulheres consigam reconquistar uma vida plena e feliz. Moral da história: com coragem e alguma ajuda, há sempre uma saída.