Problemas digestivos dos idosos quase a terem solução

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Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC) descobriu que a reduzida presença de A2A – sensores do corpo humano conhecidos no meio cietífico pelo seu importante papel anti-inflamatório – nos idosos é responsável pela inflamação gastrointestinal, que afeta os órgãos do sistema digestivo (intestinos, estômago, esófago, cólon, reto e ânus) e os órgãos acessórios da digestão, como o pâncreas, o fígado e a vesícula biliar. Esta descoberta é importante porque vem abrir portas a novas estratégias preventivas e terapêuticas.

“A carência de um ‘sensor’ envolvido na regulação do tubo digestivo agrava a inflamação gastrointestinal nos idosos, revela um estudo realizado por uma equipa de investigadores” de Coimbra, em colaboração com especialistas das universidades do Porto e do Ceará (Brasil), anunciou esta segunda-feira a UC.

A descoberta “abre portas para o desenvolvimento de novas estratégias preventivas e terapêuticas para uma das inflamações mais comuns na terceira idade”, sustentam os especialistas envolvidos na investigação.

Enquanto no intestino dos jovens e adultos, “perante uma situação de infeção gastrointestinal, este ‘sensor’ (recetor de adenosina A2A) responde com o aumento de sinalização, permitindo controlar o dano provocado pelo agente da infeção, nos intestinos dos idosos tal não acontece”, explica a coordenadora da investigação, Teresa Gonçalves.

O estudo, desenvolvido ao longo dos últimos dois anos, com a colaboração de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e da Universidade Federal do Ceará (Brasil), mostrou que, nos idosos, “a presença de A2A é muito reduzida” e, por isso, “o sistema de sinalização” não funciona.

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Teresa Gonçalves, coordenadora da investigação

“Este sistema de sinalização é importante no controlo da infeção gastrointestinal e a sua perda de eficiência é um fator que contribui para a menor capacidade de lidar com infeções gastrointestinais no idoso, em particular infeções oportunistas”, esclarece Teresa Gonçalves, citada pela UC.

Por outro lado, acrescenta a docente da Faculdade de Medicina da UC e investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), o A2A participa também “no controlo do nível de acidez do estômago e a sua deterioração com a idade irá refletir-se na disfunção do estômago, contribuindo igualmente para o aumento do perigo de alguns microrganismos”.

Assim, “os resultados deste estudo poderão ser um contributo para minorar a incidência de infeções oportunistas e processos inflamatórios que aumentam a partir dos 65 anos”, salienta a investigadora.

Realizado em modelos animais (ratinhos) de três faixas etárias (jovens, adultos e idosos), o estudo foi publicado na revista científica Oncotarget.

A investigação foi financiada pelo programa NARSAD (sigla de Aliança Nacional para a Investigação sobre Esquizofrenia e Depressão), dos EUA, e por fundos comunitários, através, designadamente, do FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) e do COMPETE (Programa Operacional Fatores de Competitividade), via Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).