Desigualdades na saúde afetam mais as mulheres

shutterstock_82820368

O acesso à saúde é um direito garantido pela Constituição. Mas ainda que possa ser assim em teoria, a prática confirma a existência de desigualdades que se têm perpetuado ao longo do tempo. É o que agora reforça o Relatório de Primavera 2016, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), que pede “melhores níveis de saúde”, sobretudo para os mais fragilizados. E entre estes encontram-se não só os desfavorecidos economicamente, como as crianças, os idosos e as mulheres.

A crise e as medidas de austeridade que com ela se fizeram acompanhar castigaram a saúde, é certo. Os seus impactos são reconhecidos pelo relatório do OPSS, que através das análises feitas ao longo dos últimos seis anos tem alertado a tutela “e a própria sociedade” para estas consequências, que se sentem ao nível do Serviço Nacional de Saúde (SNS), defendendo a necessidade de “encontrar novos rumos que garantam o seu funcionamento pleno com efetiva igualdade de acesso e qualidade de atendimento para todos os portugueses”.

Porque afinal os portugueses não são todos iguais. As desigualdades, que o relatório considera há muito existentes, “foram perpetuadas e agravadas nos últimos anos”. E delas não se podem separar os fatores socioeconómicos, entre os quais se inclui o rendimento, o género e também os níveis de educação. É que, lê-se no documento:

“os riscos de adoecer aumentam exponencialmente com a ausência de escolaridade, na presença de baixos rendimentos ou nos idosos. Continuam a ser os mais pobres os mais doentes, e os mais doentes os mais pobres”.

Mulheres com mais escolaridade bebem e fumam mais
As mulheres são consideradas um dos grupos em que as desigualdades são grandes. É assim porque têm rendimentos inferiores aos dos homens, que continuam a ganhar mais (ainda que desempenhem as mesmas funções) e é assim também por tradição. Diferenças que se manifestam no acesso aos cuidados de saúde, como já foi referido, mas noutros também. De acordo como Relatório de Primavera, os comportamentos de risco são diferentes consoante o grau de escolaridade e o sexo. O tabagismo é disso exemplo.

Nas mulheres, “persiste a tendência contrária” à verificada entre os homens, “ou seja, um maior risco do tabagismo nas mulheres com maior nível de educação”. No que diz respeito ao consumo de álcool, nos homens este é também superior nos níveis de educação inferior, “ao contrário do que acontece nas mulheres”.

Saúde mental em destaque
A saúde mental é uma área que merece uma atenção reforçada no relatório, que analisa as políticas para esta área, “ou a sua ausência”. Sobretudo em momentos de crise, quando aqui os grupos mais vulneráveis, entre os quais se voltam a encontrar as mulheres, “veem aumentadas as suas dificuldades”, pouco tem sido feito. De salientar o “aumento registado do número de suicídios, afastando Portugal do compromisso de redução junto da Organização Mundial de Saúde e o elevado número de mortes por causa não identificada” que, defendem os especialistas, “exigem esforços concertados e uma ação continuada para o seu estudo e prevenção”.
Quando em causa estão as mortes autoinfligidas, o documento do OPSS revela que os métodos para o conseguir têm estabilizado, assistindo-se a uma redução dos casos de envenenamento e um aumento dos de enforcamento, estrangulamento e sufocação, “sendo o enforcamento principal método em ambos os géneros”. Já a arma de fogo é o segundo método mais comum entre os homens, “sendo residual entre as mulheres”. Aqui, é a autointoxicação, o afogamento e a precipitação [de um lugar elevado] que “são mais comuns”.

Medidas precisam-se
O OPSS considera, por tudo isto, “urgente pôr fim ao ancestral e inquebrável ciclo de pobreza e de doença”, não só por uma questão de direitos humanos, mas também “pelo custo económico que este ciclo representa para a sociedade portuguesa”. Há que combater estas desigualdades, quer através “de políticas de saúde pública, políticas sociais, de educação, de emprego, de planeamento urbano”.