Dia das Avós: elas contam o legado que deixam aos netos

Esta quarta-feira, 26 de julho, celebra-se o Dia dos Avós. O Delas.pt não quis deixar passar a data em branco. Convidámos seis mulheres, de diferentes áreas de reconhecimento, para falarem dos netos de coração aberto. Ternura e carinho são os ingredientes-chave neste dia tão especial para avós e netos.

A socialista Edite Estrela tem quatro netos. O mais velho tem 13 e a mais nova 5. É uma avó que olha mais para o futuro do que para o presente. É uma mulher sem arrependimentos. Nem mesmo na política. “Todos nós, se voltássemos atrás no tempo, com os ensinamentos que fomos retirando das nossas vivências de hoje, é natural que corrigíssemos alguma coisa. Mas nada de excecionalmente relevante”, garante a antiga eurodeputada, de 67 anos.

Edite Estrela sente-se uma “avó igual às outras”, mas diz não se encaixar no perfil da avó totalmente permissiva. “Gosto e quero também cumprir o papel de educadora dos meus netos. É importante que os miúdos tenham muito carinho e autonomia, mas também tenham disciplina.” A velha máxima de que “os pais educam e os avós deseducam”, não se aplica neste caso.

São José Lapa é avó de Beatriz, que gosta de ser chamada de Ariel, a sereia da Disney [Fotografia: Instagram]

O mesmo não acontece com São José Lapa. Conhecida pela sua forma divertida e consciente de encarar a vida, a atriz diz que ao lado da neta Beatriz não se percebe quem tem seis anos. “Sou uma avó péssima, porque viro criança também. Sou tu-cá-tu-lá com ela e quando estamos juntas curtimos imenso”, confessa São José, de 66, entre gargalhadas.

“Para o disparate deseduco um bocadinho! Porque eu fui criada com regras no tempo do fascismo de Salazar. Os meus pais eram muito rigorosos e, portanto, reagi a essa forma de educar ao longo de toda a minha vida. Sou um pouco anarca, mas muitas vezes vem ao de cima um rigor extremista, fruto da educação que tive. Com a neta é ‘ganda balda’. Quero que ela seja feliz, que viva com a noção de honestidade, moral e ética.”

O Espaço das Aguncheiras, uma cooperativa cultural que atriz desenvolveu perto do Cabo Espichel, tem ajudado esta avó a manter-se fiel aos conceitos base da sua vida. E se o tempo voltasse atrás, São José Lapa faria tudo igual.


Avós que cuidam dos netos: um trabalho que deve ser ou não pago?

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Aos 63 anos, Luísa Castel-Branco vai a caminho do sexto neto. Para grande orgulho desta avó, Maria Luísa nasce em agosto, nome que garante ser uma justa homenagem à escritora. “Olha, ainda nem disse em lado nenhum, mas fiquei tão contente com o nome que escolheram para a minha neta… Quando era nova não gostava do meu nome e agora adoro”, diz a ex-apresentadora de televisão.

A avó Luísa é, assumidamente, “tão estranha como foi enquanto mãe”. Palavras suas. “Isto porque sou a avó maluca. É assim que os meus netos me conhecem, porque viro criança quando estou com eles. Pinto a manta toda. Puxo muito pela imaginação deles e estou sempre a levá-los para o mundo da fantasia. Fazia o mesmo com os meus filhos”, conta.

No entanto, diz também ser uma avó “exigente”. “Quando é para fazer uma coisa, é mesmo para fazer. Não digo segunda vez. Odeio crianças mal-educadas e, felizmente, os meus filhos têm feito um ótimo trabalho. Nós, avós, só temos que manter os princípios com que os pais educam. ”

Luísa Castel-Branco vai ser avó pela sexta vez. Para grande orgulho a neta vai ter o seu nome [Fotografia: Instagram]

A escritora educou os filhos sozinha e, a dada altura da sua vida, com quatro trabalhos a cumprir, garante que sempre teve tempo para eles. O mesmo acontece para com os netos – Inês (12 anos), Simão (6), os gémeos Vasco e António (4), o Pedro (2). “O que importa não é a quantidade de tempo, mas sim a qualidade. Não vale a pena estar com eles se estamos, constantemente, a mandá-los arrumar as coisas. Ou seja, quando estou com os meus netos é a cem por cento.”

“Não há idade para deixar de sonhar”, afirma a jornalista. Trabalho e independência são valores primordiais para Luísa Castel-Branco, que segue à risca o mais dos antigos provérbios populares “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.” Este é o exemplo que quer passar aos netos. “O mote da minha vida tem por base uma frase de Saint-Exupéry que diz ‘somos da nossa infância como quem é de um país’. E isto é absolutamente verdade. E tudo o que fazemos aos nossos filhos, e os nossos filhos aos nossos netos, por omissão ou por excesso, é aquilo que vai determinar os seres humanos que eles vão ser.”

Flexibilidade, independência e liberdade: as heranças que elas deixam

Carla Andrino foi avó duas vezes, de dois rapazes, quase em simultâneo. Em 2015, nasceram Henrique e Manuel e, desde aquele momento, a atriz descobriu a dobrar o que é ser uma avó babada. “Os avós garantem uma flexibilidade maior, porque a responsabilidade da educação não está toda em nós, mas nunca desautorizo os meus filhos naquilo que eles querem para os meninos.” A atriz, de 50 anos, revê na forma como os filhos, Martim e Marta, educam as crianças os valores que eles receberam dos pais: “humildade, gratidão, respeito por si próprio e pelos outros são os valores que movem a nossa família.”

Alice Vieira é avó de quatro netos irmãos [Fotografia: Facebook]
‘O Livro da Avó Alice’ conta muito de Alice Vieira no papel de avó de quatro netos irmãos bem crescidos, com idades entre 22 e os 12 anos, sendo a mais velha a sua maior confidente.

Porém, no dia-a-dia as surpresas acontecem. “Não sou daquelas que diz: ‘ai que saudades tenho de quando eles eram pequeninos’. Vivem longe, mas dentro das oportunidades até que mimam muito esta avó.”

A escritora, estrela dos livros infantis, afasta a ideia de que é ‘uma avó-a-dias‘. “Não estou sempre pronta para os netos. Sempre tive a minha vida e é tudo muito controlado. Quando eles eram mais pequeninos até viviam no estrangeiro, de maneira que essa questão não se punha. Sou uma avó muito presente quando estou junto deles. O meu tempo é para eles e não estou a fazer outras coisas. Sei que estamos em crise, mas os avós não deveriam ser nem a extensão do ATL, nem a extensão da escola.”

A “extraordinária relação” que Alice Vieira tem com os netos advém do facto, diz a própria escritora, de não estar com os eles 24 horas por dia. Quando estão em família os computadores e os telefones ficam bem longe. “Os avós devem evitar isso e fomentar a conversa. Hoje em dia é assustador o que se vê. Os meus netos são todos muito despachados e tomam conta uns dos outros. A palavra mais complicada que a minha neta mais velha disse em criança foi ‘partilhar’. Isto é saudável e importante, principalmente, porque eles partilham tudo. São irmãos e assim é que deve ser.”

Isabel Medina, de 64 anos, é das avós mais elegantes da televisão portuguesa. A estrela das novelas da TVI nunca escondeu a sua vocação, porque desde do nascimento de Pedro, hoje com 10 anos, que sempre levou o neto para todo o lado.

A neta Carolina, de três anos, veio reforçar ainda mais este laço familiar. “Descobri um amor imediato, muito livre e de coração aberto que não senti com o meu filho. Fui mãe aos 19 anos, era muito nova, de maneira que era muito infantil para uma responsabilidade tão grande. Vivo com os netos o que não vivi com o meu filho. Gozo o crescimento, a evolução e todas as brincadeiras.”

A atriz tem o neto como grande companheiro. Arranja sempre tempo para levá-lo onde ele quer ir. Educa os netos com a mesma responsabilidade. “Mantenho as regras que os pais impõem, mas ao mesmo tempo estou muito atenta ao que ele diz. Não faço chantagens e dou liberdade para ele se mostrar como é. Ao olhar para trás tenho a certeza que fiz o melhor que sabia. Por isso não me arrependo, mas com o que sei hoje, com certeza, mudaria algumas coisas. Uma delas seria: não pôr as responsabilidades sociais acima do ser humano. Foi a maturidade que me trouxe esta sabedoria e tento com os meus netos aplicar esta máxima. Com eles concretizamos o que não conseguimos fazer com os filhos”, admite Isabel Medina.

Em comum estas seis mulheres têm um amor incondicional pelos netos, eles que são também espelho da identidade de uma avó com história e sabedoria. Feliz Dia dos Avós!

Imagem de destaque: Instagram e Facebook