Diabetes, glaucoma, dispositivos cardíacos e solos conquistam bolsas para mulheres na ciência

As investigadoras Andreia Pereira, Joana Sacramento, Raquel Boia, Sara Peixoto
As investigadoras Andreia Pereira, Joana Sacramento, Raquel Boia, Sara Peixoto [Fotografia: Divulgação, leitura no sentido do ponteiro do relógio]

Andreia Trindade Pereira tem 31 anos e tem vindo a estudar a utilização de energia mecânica produzida pelo organismo humano como fonte alternativa para alimentar os dispositivos cardíacos eletrónicos implantáveis, como os pacemakers por exemplo, que usam atualmente baterias convencionais.

Estas, tendo tempo de vida limitado, necessitam de ser substituídas em cirurgias que acarretam elevado por risco para os doentes. Por isso, procura um novo caminho a partir do i3S – Instituto de investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto.

Em Lisboa, na NOVA Medical School, Universidade Nova de Lisboa, Joana Sacramento, de 35 anos, está no domínio da medicina bioelectrónica e no universo da diabetes tipo 2. A investigadora pretende usar o potencial de modulação da atividade elétrica do organismo humano para alterar seletivamente a atividade do corpo carotídeo, um pequeno órgão que se localiza no pescoço e que, em trabalhos anteriores, já se comprovou estar envolvido no desenvolvimento da diabetes tipo 2.

Mais direcionada para os olhos, Raquel Boia, de 34 anos, dedica-se a procurar um caminho para a regeneração de células da retina procurando devolver a visão a quem perdeu por via do glaucoma. Neste trabalho, a investigadora do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra vai recorrer também a uma estratégia diferenciadora para levar a medicação até à retina, onde ela precisa de atuar: um implante intraocular biodegradável. “Futuramente, este implante poderá substituir as múltiplas injeções intravítreas, que são hoje necessárias no tratamento das doenças crónicas da retina”, refere, citada em comunicada.

A partir da Universidade de Aveiro, Sara Peixoto, de 32 anos, direciona a sua investigação para os solos. A pesquisadora quer compreender qual o efeito ecológico da aplicação de bioestimulantes na recuperação de solos degradados e perceber se estes produtos podem apoiar a recuperação funcional de solos afetados pelo uso agrícola intensivo e pelos fogos florestais.

Estas são as quatro mulheres que, em 2023, conquistaram a bolsa de Mulheres na Ciência, atribuída pela L’Oréal Portugal, e que compreende um valor global de 60 mil euros para “apoiar nos projetos de investigação de jovens doutoradas”, refere o comunicado enviado às redações. Quatro premiadas que foram conhecidas esta quarta-feira, 10 de maio, e que se juntam às já 65 investigadoras apoiadas em Portugal, desde 2004.

“Em 2003, quando a L’Oréal começou a estruturar as iniciativas locais de apoio às jovens e mulheres na ciência, as europeias com doutoramento eram 43%, hoje são 48,1%, e as investigadoras na Europa passaram de 29% para 32,8%. A evolução tem sido em geral positiva”, assinala Country Coordinator da L’Oréal Portugal. Gonçalo Nascimento aponta, porém, para a desigualdade que prevalece.

“A falta de equidade que persiste e é muito acentuada em áreas críticas, como as tecnologias da informação e comunicação, em que as mulheres não chegam a um quarto dos doutorados europeus. Estamos a perpetuar a desigualdade em áreas que estão a viver avanços sem precedentes e a manter o enviesamento de género em setores que moldam o conhecimento atual e futuro não só na academia, mas nas empresas e na sociedade em geral”, afirma.