Diana Chaves: “Há pessoas que já me pedem uma cunha para se inscreverem”

Afinal, os portugueses já não têm vergonha de reconhecer que têm problemas de relacionamentos e até já perguntam a Diana Chaves se pode por uma “cunha” por eles. É com esta realidade que a apresentadora de Casados à Primeira Vista, da SIC, diz agora conviver, uma vez estreado o polémico programa.

Não sabe se vem aí uma segunda temporada, mas gostava de o fazer. Já sobre haver casais gay no formato, isso “era igual”.

Em entrevista ao Delas.pt, Diana Chaves admite que tem aprendido mais sobre as relações conjugais, diz que a vontade de casar com César Peixoto continua intacta e que está para breve. Só recusa ceder a pressões sociais e a urgências até porque sabe que vai ficar com ele “para o resto da vida”.

E se nos domingos à noite, a apresentadora não bate a concorrência, nos diários, ao fim da tarde, já bate a rainha da televisão e sua futura consultora: Cristina Ferreira. Orgulhosa está por ser satirizada aos sábados à noite, no programa de humor da RTP1, Donos Disto Tudo.

Casados à Primeira Vista já bate, nos diários, o histórico O Preço Certo, da RTP1, e o Apanha Se Puderes, da TVI, com Cristina Ferreira. Está a bater a mulher do momento [que se estreia na SIC em janeiro].

(Risos) Concorrência boa é sempre bom, para todos. É sinal de que as coisas mexem e de que devemos sempre tentar fazer melhor para nos superarmos. As audiências não são o meu foco principal, ainda que seja muito bom saber que o programa é visto por muitas pessoas. Mas, sinceramente, muito mais dos que os números, reparo nas reações que me chegam da rua.

E o que lhe dizem? Pedem-lhe conselhos?

Não, o público consegue dissociar o meu papel do dos especialistas. Não me pede conselhos, mas há pessoas que já me pediram uma cunha para se inscreverem (risos).

Uma cunha?

Não é bem (risos). É mais: ‘Dá para me inscrever?’, ‘Ainda vou a tempo?’

E vem aí segunda temporada?

Não sei.

Gostava?

Gostava. Se vier, já temos candidatos (risos)

Que leitura faz deste interesse?

Vejo que as pessoas ganharam coragem. Porque isto de estarem sós, de que há muita gente sozinha e de que a taxa de divórcio é muito alta, nós já sabíamos. Agora, vejo aqui o lado bom: as pessoas sentiram-se protegidas. Se aqueles participantes, que são iguais a nós, se inscreveram e se, eventualmente, até podem vir a ter uma relação, se eles estão felizes de momento, porque é que eu não posso tentar? Nós, portugueses, somos, muitas vezes, conservadores, temos vergonha de assumir determinadas coisas, vergonha do que outros vão pensar e, muito sinceramente, acho que conseguimos quebrar algumas barreiras e preconceitos.

Houve críticas ao formato, como, por exemplo, de que estaria a brincar com o casamento.

Mas o facto de tantas pessoas verem e gostarem do programa e quererem participar é sinal de que perceberam a nossa mensagem. Perceberam que é despretensioso, que não tem nada a ver com brincar com a instituição do casamento – antes pelo contrário –, é uma experiência social que envolve o matrimónio, mas de maneira nenhuma é brincar. Porque ninguém está a brincar com os sentimentos das pessoas. Estes participantes percebem que, mesmo que as coisas não resultem, passaram por um processo todo de autoconhecimento, ultrapassaram os seus limites, é uma mais-valia que ninguém lhes tira.

“Ninguém está a brincar com os sentimentos das pessoas”

Mesmo num programa em que temos assistido a taxas de separação altíssimas.

É o que acontece cá fora. Poderá acontecer, como já aconteceu, com dois casais no programa [n.r.: até ao momento, o Delas.pt sabe que, dos sete pares, só três continuam juntos]. Mas isso também é assim fora do programa. Agora, os especialistas também não são mágicos, e os participantes assumem ter dificuldades em relacionarem-se ou, pelo menos, em encontrar alguém para uma solução duradoura. O que é facto é que aquelas pessoas são compatíveis, depois… não há magia.

Provando-se que a ciência não explica nem resolve tudo.

Pois. O que acontece é que as pessoas – neste caso os participantes – reagem de formas diferentes a estímulos, situações e ocasiões distintas. E é interessante também ver como cada um consegue ultrapassar isso, ou não. Mas, atenção: temos ainda pouco tempo de programa. Como em todas as relações, de um dia para outro, resolvem-se questões, criam-se outros problemas. O que posso dizer é que muita coisa ainda vai acontecer.

Para se separarem ou para ficarem juntos?

Ah, isso é preciso ver (risos).

Por muito que se busque o amor, Casados à Primeira Vista não deixa de ser um programa de televisão. O que é que é mais importante aqui: o romance ou as narrativas, os conflitos, para promover audiências?

É o amor (pausa). Aquilo a que nos propomos é que as pessoas o consigam encontrar.

Mas não há, no formato, situações criadas de propósito para promover impacto, celeuma, reação e antagonismo dentro dos casais?

Uma relação normal entre duas pessoas que se conhecem e que se amam está, todos os dias, cheia de contrariedades e de pequenos frissons. Depois, tudo depende das personalidades, de como as pessoas ultrapassam ou comunicam entre si. Claro que, numa situação destas, em que os participantes não se conhecem, onde há a pressão de estarem a ser filmados, é normal que as situações sejam mais fortes, mais intensas. Os momentos não são desenhados para gerar esse propósito, porque não há necessidade disso.

Não?

Seja dentro ou fora do programa, as relações é que são complicadas. O amor é fácil, se deixarmos que as coisas fluam e se existir afeto. Mas não nos esqueçamos de que falamos de pessoas que não se conhecem e vão tentar encontrar aspetos em comum, compatibilidades, serem, no fundo, felizes. E é isso a que estamos a assistir nesta experiência.

“Seja dentro ou fora do programa, as relações é que são complicadas. O amor é fácil”

Que reações tem recebido das pessoas que aceitaram integrar o programa, mas a quem a vida não lhes correu tão bem, que se separaram? Há desalento?

Não. Praticamente todas dizem que valeu muito a pena. Mas depois vão perceber porquê. Elas vão explicar isso mesmo, em breve.

Mas não deixa de haver perplexidade: reconhecer que não se entendem com o amor, tornar isto mesmo público e, no final, continuarem sós.

Mas é muito mais do que a vergonha ou a frustração de não terem tentado. Pode não ter dado aqui, mas, se calhar, elas têm agora ferramentas que lhes permite ver as coisas resultarem de outra forma, daqui para a frente.

Gostava de ter tido um casal homossexual no formato?

Era igual. Provavelmente também pode ter havido gays a inscreverem-se, mas pode não ter havido compatibilidade. Não sei. Mas, por mim, era igual.

E se houvesse uma segunda temporada do formato, gostava de poder ter um casal nestas circunstâncias?

É uma história de amor, independentemente do sexo.

Mas existindo a lei, porque não o programa ser um reflexo dessa realidade e da sociedade portuguesa?

Claro que sim, assim como há um casal mais velho e outros mais novos.

Muitos destes participantes trazem históricos complicados. Como é que se garante, em matéria de concorrentes, o bem-estar psíquico deles, de que não há depressões, psicopatias? Que cautelas existem?

Os concorrentes são sujeitos a uma fase intensa – exaustiva, até – de testes psicológicos, neuropsicológicos e biológicos. Eles são passados a pente fino. Não acompanho essa fase, cabe aos especialistas, que conhecem os participantes de uma forma clínica. Agora, o meio também influencia a estabilidade emocional, a personalidade, as pessoas mudam consoante as adversidades, as situações a que estão expostas, e os especialistas não têm bolas mágicas. Conseguem prever alguns comportamentos-padrão, mas depois cada pessoa reage de forma diferente.

“Os concorrentes são passados a pente fino”

São acompanhados?

Acompanhadíssimos. Os especialistas estão em permanente contacto com eles.

Com este programa e estando noiva, a Diana ficou com mais vontade de casar?

Claro.

E vai?

(risos)Vou, mas isso já disse.

E quando?

Isso vou, não sei é quando, não tenho a resposta (risos).

E é para breve?

É para breve, mas é relativo, tendo em conta que quero ficar com o César [Peixoto] para o resto da minha vida.

Mas fazer este programa não a coloca sob os holofotes nesta matéria?

Ah, mas não cedo nada a pressões sociais. Sou como sou, sempre pronta a evoluir, obviamente, mas nunca cedi a isso. E não era agora que ia ceder.

E a título pessoal, este programa ensinou-a, a si em particular, algo novo sobre as relações conjugais?

Claro.

Qual foi o ensinamento que mais lhe ficou?

Tantas, tantas coisas. Todos os dias estou atenta e oiço especialistas a aconselharem, a explicarem as situações que, vistas de fora e de uma outra perspetiva, são completamente diferentes. Quando estamos na tensão do momento, numa discussão não temos, por vezes, o discernimento. Não somos iguais e não reagimos de forma igual às situações, é preciso respeitar, por exemplo, que a outra pessoa não queira conversar agora, respeitar o espaço ou o tempo. Não precisamos de esperar dois dias para ter uma conversa, mas também não precisa de ser já. Pode ser um dia depois. São aspetos mesmo simples e com os quais toda a gente em casa – e daí o segredo do sucesso do programa – se identifica. Todas as relações têm elementos transversais e comuns, e revemo-nos, com toda a certeza, porque, ainda que os casais sejam diferentes, com personalidades distintas, em algum ponto nós vamos cruzar a nossa relação com a deles. Em algum comportamento e em algum momento, ouvir a explicação que simplifica tudo e transportá-la para a nossa vida é um ato inteligente.

“Ouvir a explicação que simplifica tudo e transportá-la para a nossa vida é um ato inteligente”

E da parte do César?

Acho que toda a gente que assiste ao programa vai chegar a essa conclusão, é quase inevitável. São situações, muito básicas algumas, que acontecem em todas as relações, todos os dias. Por isso é que digo que os concorrentes são muito corajosos e tiveram uma humildade muito grande ao assumirem que não conseguiam e pediram ajuda. Ao estarem a tentar ajudar-se, mesmo que as coisas não resultem, estão, de forma indireta, a ajudar as outras pessoas nas suas relações. É urgente que as pessoas tenham a abertura suficiente para aceitar as coisas novas, que são boas e que as ajudam

Que diferenças nota entre os problemas específicos que as mulheres mais vivem nas relações e os dos homens?

Analisando e vendo de perto esta experiência, há alguns comportamentos-padrão. Mas também há exceções. As mulheres são, por norma, mais sensíveis ao pormenor. Mas também os homens são.

Na rua, falam-lhe de problemas diferenciados?

Em específico, não. Mas parece que tanto os homens como as mulheres perderam, de repente, a vergonha de dizer que veem o programa. Há homens que até me dizem que veem mais o programa do que as mulheres (risos).

E explicam porquê?

Não. Muitos não conseguem explicar por que estão tão agarrados ao programa. Reveem-se, identificam-se, e ninguém resiste a uma história de amor.

Mesmo quando acabam mal?

Ainda assim. Valeu a experiência.
Como comenta a sátira Casados às Três Pancadas, no Donos Disto Tudo, da RTP1?

(risos) Ai, adoro.

Sente-se bem retratada?

Claro que sim. É sempre um elogio porque eles só pegam nas coisas que têm importância. Eles são ótimos e é sempre bom conseguirmos rir-nos de nós próprios. É um sinal de inteligência e eles são brilhantes no que fazem.

Imagem de destaque: Gerardo Santos/Global Imagens

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